Capítulo Um

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Capítulo Um: A rosa definhada

Aura Rhosyn

Aura jamais conseguiria se acostumar com sua nova vida.

Nascida a leste da ilha imperial, em Tauriel; mais especificamente na metrópole que se originou às margens do rio Affra. Somente taurinos de sangue são capazes de descrever o quão bela é a paisagem da terra natal. Sempre luminosa e arejada, de vegetação composta por árvores de pequeno porte e troncos finos e retorcidos, além de gramíneas e arbustos pequenos enfeitando o ambiente com colorações únicas de outono. Sua fauna é tão resistente quanto o povo que vive junto a ela, expandindo-se e vislumbrando todos que param para contemplar sua magnitude. Quando Aura fecha os olhos pode sentir com exatidão assustadora o cheirinho de uvas frescas, recentemente colhidas do jardim particular de sua mãe.

Agora, no entanto, o horizonte que se estende pela janela redonda do quartinho nos fundos da biblioteca, que a sra. Catherine fez a gentileza de emprestar para ela, mantinha um tipo diferente de paisagem. Era um lugar escuro, de ruas estreitas e construções feitas de pedra e restos de madeira envelhecida. Ali não cresciam oliveiras, tampouco videiras. Tudo cheirava a fuligem e a decomposição. Essa era Atlas, a principal ilha de Lenora, um colossal pedaço de terra que abriga tanto as famílias mais nobres do reino quanto aquelas que vivem de suas migalhas.

— Aura. — Catherine, sua senhoria, convocava seus serviços no andar debaixo.

A biblioteca é grande, composta por dois andares cheios de prateleiras feitas de madeira de pinheiro importada das terras gélidas de Morana - estas, por sua vez, recheadas de livros. O piso é revestido por um carpete escuro e há castiçais com adornos dourados espalhados por todo o ambiente. Uma dezena de mesas para estudos estão separadas no canto esquerdo do recinto, próximas a janelas cujas cortinas proeminentes possuem um tom carmesim.

— Senhora — Aura desceu as escadas o mais rápido que seus pés permitiam, dobrando os joelhos para reverenciar sua empregadora ao se aproximar. Como resultado das horas tirando a poeira de sua estimada coleção de vidrarias, o vestido de Aura estava, como de costume, deplorável.

— O jantar de noivado de Arthur Carvalho será esta noite. Grandes nomes da alta sociedade vão aparecer. É o momento perfeito para aumentar minha lista de contatos. — Catherine ficou de costas e fez um sinal com o queixo, mas Aura não entendeu seu desejo de primeira.

Aura tinha outra coisa em mente:

"Carvalho". A família que sentenciou seus dias, manchando o legado que seus ancestrais lutaram para construir, para o qual ela sacrificou seu sangue, tempo e liberdade para honrar. Arthur Carvalho deu as costas para seu pai antes mesmo de tudo desabar e não se incomodou com as consequências catastróficas que as ações egoístas seu filho, ex-noivo de Aura, gerou.

— Aura. — Catherine a chamou pela segunda vez, não tão paciente quanto da primeira vez. Os olhos semicerrados como se estivesse dilacerando Aura em pedaços. Repetindo o mesmo gesto com o queixo, apontou para a jóia incrustada de diamantes em cima do armário ao seu lado. — Está cega? Me traga o colar.

— Eu... — Aura precisou engolir o emaranhado de arrependimentos a seco. Não era hora para divagações. Apressou-se em pegar o acessório e colocá-lo no pescoço de Catherine. — Sinto muito.

— Pare de sentir e seja mais atenta. — Catherine é firme na sentença. Às vezes era difícil acreditar que uma mulher como ela seja uma das principais patrocinadoras da maioria dos projetos comunitários da ilha, perdendo apenas para a rainha e sua benevolência.

— Está do seu agrado? — Aura perguntou, afastando-se três passos para vê-la por inteiro.

— Sim. — Ela arqueou uma sobrancelha, observando friamente seu reflexo na porta de vidro. — A confecção que preparou também é... adequada.

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⏰ Última atualização: Nov 18, 2022 ⏰

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