Um dos dias mais temidos pela senadora Soraya Thronicke havia chegado: o fim do mandato de oito anos de sua amiga, professora e, enfim, colega de trabalho, Simone Tebet. Estaria mentindo se dissesse que sua candidatura não havia sido influenciada pela antiga professora, que, desde que conhecera, havia sido um farol em sua vida.
Ali, na pequena reunião de despedida que Simone havia organizado, em seu gabinete mesmo, para os amigos senadores mais próximos, é óbvio que Soraya era presença confirmada. Depois da corrida eleitoral, Soraya ficou apreensiva de ter algum desentendimento com a colega mas, logo depois do segundo turno, em que Simone esteve afastada de suas atividades no senado, quando voltou, a primeira visão de Soraya foi de uma Simone sorridente e de braços abertos para ela. A primeira coisa que fez foi pedir desculpas por qualquer coisa, qualquer palavra ou posicionamento que pudesse ter ofendido a mais velha, mas Simone logo repreendeu-a, dizendo que nada afetaria o carinho que ela tinha por Soraya, que havia sido sua oponente favorita.
No espaço, que era grande, mas, com tantas pessoas, parecia pequeno, sentia-se um pouco deslocada. Frequentemente tinha esse sentimento quando estava no senado. Todas aquelas pessoas falando alto, defendendo ideais e opiniões com garras e dentes, pareciam exageradas a ela que, apesar de agora estar conhecida por "onça" em todo o país, era delicada, tímida e, infelizmente, um tanto insegura.
Quando as pessoas começaram a deixar o local, também pensou em sair correndo dali, pois a presença imponente de Simone até hoje lhe deixava nervosa. Quando foi se despedir da morena, esta disse que ela deveria esperar ali, pois queria conversar com ela. Ansiosa, Soraya esperou até que a última pessoa saísse para ficar a sós com a anfitriã da pequena confraternização.
- Meu deus, essas pessoas são muito animadas! - Simone exclamou, passando as mãos pelos cabelos e sorrindo.
- Nem parece uma festinha entre senadores federais - Soraya rebateu.
- Se o Brasil soubesse... - Simone continuou a sorrir e começou a verificar algumas mensagens no celular, Soraya ainda esperava, curiosa pelo que ela tinha a lhe dizer.
- Simone, estou curiosa! Você não pode deixar uma geminiana esperando assim! - Soraya chamou-lhe a atenção.
- Ahh, é verdade! - Simone sorriu com a impaciência da loira. - Vem aqui - chamou-a para irem até a sua mesa. Simone sentou-se em sua cadeira e Soraya sentou na cadeira do outro lado.
Simone inclinou um pouco a cabeça para a frente e sorriu, começando a falar baixinho, como se tivessem outras pessoas ali que não pudessem ouvir:
- Que história é essa que inventaram depois dos debates de que nós temos um caso? - Abriu um sorriso maior ainda. Soraya arregalou os olhos. Ela já sabia de tudo isso, mas achou que Simone, pela agenda lotada, ainda não estivesse sabendo e, se soubesse, não gostaria nada daquilo.
- Te contaram? - Perguntou, desconfiada.
- Claro! - Minha equipe toda agora fala que você é minha namorada, minha mulher, isso virou uma loucura - bateu a mão levemente na mesa.
- Ai, Simone - Soraya apoiou o cotovelo na mesa e colocou a mão no rosto. - Eu nem sei o que dizer, fiquei com tanta vergonha... Tentando encontrar o que nós podemos ter falado ou feito que desse a entender esse tipo de coisa.
- Nada, né, Soraya? As pessoas são loucas! Basta você sorrir diferente para alguém que já acham que você está apaixonada!
- É verdade... Mas você não ficou chateada? - Soraya perguntou, levantando a cabeça.
- Eu? - Simone fez uma careta. - Claro que não! Eu não gosto quando as pessoas tentam invadir a minha privacidade, mas isso aí é só brincadeira dessas pessoas, não condiz em nada com a realidade... Não faz mal a ninguém. Eu acho, pelo menos. Sem contar que é uma boa estratégia para aproximação desse público - Simone disse, parecendo bem resolvida com essa situação. - Por quê? Você ficou chateada?
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Acontece [Simone/Soraya]
RomanceNo último dia de trabalho da senadora federal Simone Tebet, uma reunião informal leva a caminhos jamais imaginados pela anfitriã e certa convidada que ali estava. Os fatos retratados aqui não têm relação com a realidade.