de novo eu aqui, pagando a minha língua.
boa leitura!
Naquela manhã, Simone despertou de uma noite intranquila, cheia de sonhos confusos e obscuros. Na verdade, os sonhos eram apenas o reflexo de como andava sua cabeça nos últimos dias: reflexiva, angustiada, inquieta. Os estabilizadores de humor não pareciam mais fazer efeito e uma ansiedade arrebatadora tomava conta de seu ser, afetando seu comportamento e seu trabalho – o que, para ela, era a pior parte.
Olhou para o lado e, entre os lençóis alvos, repousava o corpo que era o principal motivo de sua insônia. O contraste da pele lisa e bronzeada com o branco do tecido era irresistivelmente convidativo e, o fato de que o corpo nu estava coberto apenas da cintura para baixo, deixava a fotografia ainda mais pecaminosa. Desde que Thronicke passou a frequentar sua cama, deixou-se levar pelo desejo e não pensou até onde aquela aventura iria lhe levar. E ali estava: já acordada enquanto os primeiros raios de sol ainda despontavam, angustiada, perdida e, não menos importante, nua ao lado de outra mulher, com que havia compartilhado uma noite tórrida de amor.
E não, não sentia culpa, não sentia mais medo, não achava que seria castigada por aquilo. E esse era exatamente o problema.
Quando sentia medo, havia esse sentimento com o qual se preocupar, havia a adrenalina, o frio na barriga não explorado na adolescência de estar fazendo algo errado, proibido, os cuidados para não serem flagradas, os malabarismos para arranjarem tempo para estarem juntas. Tudo isso estava resolvido, as coisas estavam assentadas e, neste ponto, foi quando pensou que não quereria mais, que o sentimento de aventura acabaria e colocaria um fim em tudo aquilo.
Não foi o que aconteceu, é claro. Acordar em uma manhã de quarta-feira e estar nua em sua cama com outra mulher era insuportavelmente confortável. Aquele corpo que descansava ao seu lado era a melhor coisa que havia acontecido em sua vida e só de perceber que sua mente não repelia aquele pensamento, ela tinha vontade de chorar. O desconhecido também pode ser cruel.
Soraya moveu-se, chegando mais perto dela e, Simone aproveitou para puxar o lençol que cobria parte do corpo da mulher, deixando-a totalmente descoberta. Pela luz do sol que invadia, pelas janelas, conseguia ver as marcas deixadas nas costas e na bunda dela, as curvas perfeitas, os cabelos espalhados pelo travesseiro, a respiração que fazia as costas moverem, fazendo saltar aos olhos alguns ossinhos da costela, a respiração baixinha, todos os detalhes que a atraiam como um imã.
A forma como, agora – meses depois de toda a explosão que havia sido aquele encontro – compartilhar a cama e um pouco da vida com Soraya parecia muito certo, era igualmente maravilhoso e apavorante. Tinha vontade de sair correndo dali e nunca mais voltar, mas seu íntimo sabia e lhe dizia que ela poderia correr o quanto quisesse que a realidade bateria – ou arrombaria – a sua porta, seja na forma de Soraya Thronicke ou de outra espécie parecida.
Sentiu o corpo da mulher mover-se novamente e ficou observando-a despertar, virando-se, nua, em sua direção. Soraya abriu apenas um pouco os olhos e a viu, já desperta.
- Nós já temos que levantar? – A loira perguntou, com a voz manhosa, enquanto se espreguiçou. Agora Simone a via de frente e, o efeito imediato que aquele corpo causava no seu, confirmava as suspeitas que ela nem sabia que tinha.
Soraya a abraçou pela cintura, colocando o rosto em seu pescoço e uma das pernas por cima da sua.
- Ainda temos um tempinho – ela respondeu antes de abraçar a mulher de volta, também passando a mão por sua cintura e dando um beijo em sua cabeça, sentindo o cheiro que emanava dos cabelos loiros.
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Acontece [Simone/Soraya]
RomansaNo último dia de trabalho da senadora federal Simone Tebet, uma reunião informal leva a caminhos jamais imaginados pela anfitriã e certa convidada que ali estava. Os fatos retratados aqui não têm relação com a realidade.