Aos Olhos de Lydia

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O vento gélido de inverno bagunçou os cabelos castanhos de Lydia quando ela desceu do carro, seu cachecol amarelo pesava sobre os pequenos ombros ossudos da menina. Ela perdeu muito peso nas últimas semanas.

Seu olhar percorreu tudo ao redor, o lugar era lindo com imensos campos verdes, com uma pequena casa no centro e do lado oposto do sítio de sua avó havia uma densa floresta de mata fechada.

Lydia suspirou, reforçou o aperto na alça de sua mala e caminhou pela estrada de cascalho. Sua avó apareceu à porta ao escutar o barulho de sua chegada, e sorridente limpou a mão no avental e correu ao encontro da menina.

— Lydia, querida —  as mãos gordas da senhora de meia idade envolveu a menina num abraço forte.

Lydia não a abraçou de volta, não se lembrava dessa mulher, tão pouco sentia qualquer afeto por ela, era uma completa estranha.

— Desculpa por não ter ido te buscar na estação de trem, a Mimosa estava parindo e coitadinha —  a senhora pegou a mala da menina que soltou sem se importar — tava tendo dificuldade, sabe algumas vacas não conseguem parir sozinhas, então fiquei a noite toda e a manhã ajudando ela.

A senhora andou tagarelando sobre o parto bem sucedido que fizera e Lydia a seguiu não dando muita atenção ao que sua avó dizia.

Estava encarando seu novo lar com curiosidade. Avistou o que deduziu ser a Mimosa, já que um pequeno terneiro mamava nela enquanto ela pastava tranquilamente. Galinhas corriam pra lá e pra cá ciscando o chão, um cavalo baio pastava do lado oposto de onde estava a vaca e as galinhas.

Quando finalmente chegaram na casa, o cheiro de pão fresco fez Lydia puxar o ar profundamente, ela estava faminta, e sua avó percebeu isso, já que a barriga da menina roncou.

A pouca luz que iluminava o interior da casa, sobressaltou as olheiras de choro e noites mal dormidas de Lydia, e sua avó a encarava com pena.

— Oh, Lydia, pequena Lydia — a idosa fungou — sinto muito por sua perda.

A menina deu um pequeno sorriso em resposta. Sua avó paterna parecia de fato se importar com seus sentimentos, mas a conhecia muito pouco para ter certeza.

— Venha menina — a senhora acenou para Lydia — sente-se, sente-se. Coma um pouco de pão. A viagem foi longa e você deve estar com fome.

Lydia sentou-se na pontinha da cadeira e alisou sua saia cumprida de pregas. Sua avó caminhou de um lado para o outro pegando tudo que estava ao alcance para a menina comer, pão, queijo, uma torta de maçã e um jarro de leite.

Após comerem a velha levantou e recolheu as coisas, disse a Lydia que ela podia ir deitar se quisesse, o dia estava frio demais para ela brincar lá fora, mas a menina estava cansada de ficar entre quatro paredes, queria o ar puro e fresco e desbravar esse novo lar.

E apesar da tristeza ser seu estado de espírito nas últimas semanas, Lydia ainda era uma criança, e aquele novo lugar lhe despertava seu lado aventureiro e exploratório.

A menina então se forçou a sorrir e perguntou  à avó se podia ir caminhar pelo sítio, a senhora permitiu, e então Lydia pegou um gorro azul da mala para ajudar a se proteger do frio e saiu porta a fora.

A mata fechada foi seu destino, queria ter um lugar intocado por pessoas, um lugar só dela. O vento forte fez Lydia abraçar o próprio corpo e apertar os olhos, nuvens escuras adornavam o céu, ia ser uma exploração rápida já que um temporal estava a caminho.

Quando a menina deu o primeiro passo dentro da mata, sorriu com sinceridade pela primeira vez em meses. As folhas úmidas e os sons de animais que ela desconhecia fez um brilho nascer em seus olhos, tudo ali parecia mágico e ela sentiu que o bosque a chamava.

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⏰ Última atualização: Nov 20, 2022 ⏰

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