The life I gave away

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Foi em uma noite chuvosa que reencontrei Jongseong com sua nova família

Mais uma vez o céu de Seul desabava em gotas grossas, desta vez em menos quantidade se comparado com as outras noites dessa semana. Não haviam muitas pessoas nas calçadas das ruas, apenas uma ou outra que se aventuravam a voltar para suas casas tarde da noite embaixo de chuva, como eu.

Gostava de situações como essa ja que não precisava de um guarda costas para me vigiar todo meu caminho para casa, ninguém se arriscaria parar um cantor em meio a chuva que poderia virar uma tempestade a qualquer momento. Mas ainda sim usava uma máscara descartável que escondia boa parte de meu rosto, meus fios de cabelo em frente aos olhos e o guarda chuva colaboravam para o disfarce.

Poderia ter facilmente aceitado uma carona de meu manager, mas situações em que eu poderia ficar sozinho eram tão raras que aproveitei a primeira oportunidade para encharcar meus sapatos nas calçadas úmidas da cidade

Nos últimos dias alguns estabelecimentos estavam se mantendo abertos até altas horas da noite por conta do grande fluxo de estrangeiros, alem de estarem no principal centro da cidade. Então era comum ver as vitrines de restaurantes iluminando as ruas, e pessoas entrando para se abrigarem das gotas de chuva

Foi através de uma vitrine de uma padaria de luzes amarelas confortáveis aos olhos que pude encontrar uma face muito familiar. Era Park Jongseong, meu ex namorado. Porém aquele não estava sozinho, junto a ele havia uma mulher muito elegante e bonita, trajando roupas em tons neutros e carregando consigo um doce sincero sorriso. Meus olhos lentamente foram encaminhados para a direção que o sorriso da mulher indicava, chegando até uma pequena garota de marias chiquinhas e casaco branco rindo ao lado do Park, que acariciava sua cabeça e retribuía mesma emoção

Meu coração errou as batidas, e por um segundo pude sentir minhas pernas fracas como gelatina. Tive que respirar fundo e apertar o guarda chuva em minhas mãos para me manter firme. Sabia que devia ter continuado andando o mais rápido o possível antes que o mais velho me encontrasse ali fora, por mais que fosse difícil me reconhecer, porém meu corpo inteiro congelou quando seus olhos afiados se encontraram aos meus enquanto seu sorriso sumia aos poucos de seus lábios.

O encontro de olhares foi uma passagem direto para o passado

Conheci Park Jongseong, ou Jay como gostava de ser chamado, em nossa cidade natal. Era uma vizinhança no interior do país, era pequena, antiga, rural, quase aquelas cidades que todos se conheciam. Só havia uma escola ali caso não quisessem passar algumas horas em um ônibus até uma outra cidade, então cresci estudando com Jay, mesmo que aquele fosse um ano acima de mim. Não éramos tão próximos até eu entrar no ensino médio e começar a frequentar as mesmas palestras que os alunos seniors, foi em uma das palestras de literatura que acabei levando a mochila dele comigo por engano.

Mesmo morrendo de vergonha fiz questão de na manhã seguinte o encontrar em sua sala para devolver seus pertences, e pegar os meus de volta. Estava pronto para ser zoado ou repreendido pelo senior, porém tudo que recebi foi uma risada aconchegante e seu número de telefone. Aquela tarde saímos juntos até uma locadora de filmes e em seguida fomos em uma sorveteria que ficava logo à frente

Não demorou muito para que criássemos uma forte conexão, então começamos a trocar e-mails quase todas as noites e nos encontrar todos os dias na escola e após aquela. Ele me levava para o restaurante de seus pais pelo menos duas vezes na semana, e eu o recompensava com pêssegos grátis da vendinha de minha família.

Depois de comidas deliciosas e pêssegos doces pude experimentar o sabor dos lábios de Jay. Não há nada que possa descrever os lábios do mais velho, porém posso dizer que suas mãos por meu corpo eram como um tecido de seda deslizando sobre a pele após um banho quente. Seus toques eram delicados e cuidadosos, por mais que a aparência rebelde de Jongseong não demonstrasse aquilo, aquele sempre tomava cuidado e me perguntava onde poderia me tocar

Enfim começamos a namorar. Tínhamos um certo receio em que muitas pessoas soubessem do nosso relacionamento, por isso ficamos limitados apenas a contar para os nossos pais que por felicidade do destino aceitaram nosso amor e nos acolheram dentro de suas famílias

Jay era como o sol. Era um cara legal, amoroso e acolhedor. Sempre se preocupava muito com minhas emoções e sobre o que eu queria, ele com certeza era o cara dos sonhos de qualquer pessoa. Tinha os planos de continuar na cidade e cuidar do restaurante dos pais, ja que esse possuía muita habilidade na cozinha e desde criança trabalhava junto a família

Eu era como a chuva da meia-noite

Eu queria sair daquela cidade e descobrir o mundo. Desde que vi na tv um grupo de garotos dançando e cantando desenvolvi um desejo de me tornar um cantor como eles, mas sabia que teria que sair daquele fim de mundo para seguir meus sonhos e ter a fama que desejei

Incrivelmente Jay havia apoiado a ideia. Foi ele que me ajudou a ir pela primeira vez até Seul participar de uma audição de dança para uma empresa, que fui aceito como treinee pela primeira vez.

Ele se tornou sonhador junto comigo, tinha planos de levar o restaurante consigo até Seul e vivermos juntos lá. Queria comprar um apartamento mesmo que aquilo acabasse com todas as suas economias. Mas diferente dele, eu não o apoiei. Ela loucura ele ir para o centro só por minha causa, não ia dar certo, eu não teria tempo para passar junto com ele e ele se arrependeria de ter ido atrás de mim

Ele queria casar, e eu queria perseguir a fama

Foi em uma chuva da meia-noite que eu quebrei seu coração e o fiz desistir de seus planos comigo, só porque eu queria o novo e diferente. Ou talvez era só uma desculpa para o meu coração não aceitar que eu não queria mais ele comigo

Eu fui tão tolo de pensar que eu não alcançaria meus objetivos com Jeongseong ali. Porém durante todos os meus anos de treinamento e após minha estreia pude observar vários parceiros de trabalho se relacionando e tendo famílias, tudo isso enquanto ainda mantinham sua fama. Eu poderia ter tido tudo

Eu poderia estar agora ali naquela padaria com a garotinha que ele sempre sonhou em ter, poderia estar recebendo aqueles sorrisos apaixonados e carinhos na cabeça. Depois dali iriamos para o nosso apartamento, colocaríamos nossa filha para dormir e em seguida iriamos para nossa cama, onde conversaríamos sobre os nossa juventude e como as coisas estavam bem agora, por fim dormiríamos abraçados como costumávamos fazer

Eu poderia estar tendo toda a vida que eu desisti

Tudo aquilo para mim era só um cenário utópico da minha cabeça, mas para ele era um dia comum. Eu poderia dar tudo para ter ele comigo novamente. Queria sentir seu cheiro e seus abraços quentes. Queria acordar do seu lado e poder levar nossa filha para a escola. Eu deixei que outra mulher tornasse seus desejos em realidade no meu lugar

Não sabia se era o reflexo da janela mas pude jurar que vi uma lágrima se formar em seus olhos. Assim como o céu desabava eu também desabei, abaixei minha cabeça e deixei com que as lágrimas pingassem em meus sapatos encharcados, desenterrando cada memória que tinha ao lado do antigo namorado

Foi quando o relógio marcou meia-noite que percebi que tudo em mim havia mudado

𝐌𝐈𝐃𝐍𝐈𝐆𝐇𝐓 𝐑𝐀𝐈𝐍; JaywonOnde histórias criam vida. Descubra agora