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Subir os degraus, ir para o lado direito, procurar a última porta do corredor, entrar e deixar a bandeja com a vitamina para a Srta. Marília; então fazer todo o caminho de volta sem dar um "pio" ou esbarrar em nada... Não deve ser tão difícil! Mas só em encarar aquele longo corredor senti todos os pelos do meu corpo arrepiarem; Como não irei ter medo se a própria Naiara sente a mesma coisa quando vem aqui?

São sete portas ao todo, sendo três de cada lado e uma no meio, bem no final do corredor. A porta do meio é maior que as outras seis e tem uma coloração diferente; amadeirada escura. Naiara me falou que essa seria a porta do quarto da Srta. Marília, e a mesma estava entreaberta e uma luz opaca vinha lá de dentro.
Tomei coragem para ir até a porta, sugando todo o ar ao meu redor antes de dar três batidas e entrar, mesmo sem ter ouvido que eu podia. Como Eduardo havia dito que ela estava no banho imaginei que não teria problemas em deixar a bandeja em algum lugar para ela pegar quando saísse, e foi o que eu fiz; andei até a cômoda e a deixei lá, mas acabei me distraindo com o quarto em sí. Eu realmente estou no quarto da chefe.

As paredes do quarto da Srta. Marília tinham um tom "creme", com exceção da parede onde ficava a sua cama; essa era de um vermelho vivo. A cama dela que era estranha, uma cama de bilros dourada com lençóis de seda rigorosamente brancos. Como ela consegue dormir nessa cama? Se ela for um pouco descuidada pode acabar batendo a cabeça ou se machucando feio nesses detalhes pontudos da cabeceira...

Olhei ao redor com mais cuidado, dando atenção aos quadros na parede; na maioria das pinturas as pessoas estavam peladas. Não vi nenhum guarda-roupa, mas havia uma porta pequena de um lado onde provavelmente era um closet e uma outra porta de outro, que estava entreaberta como a porta da frente. Forcei meus olhos na baixa iluminação e me arrependi imediatamente quando vi que se tratava de um banheiro, e não só isso; Prestando mais atenção consegui ver parte da banheira, assim como um rosto avermelhado relaxando na água, de olhos fechados.

Eu devia ter me virado no lado oposto e saído do quarto, mas fiquei parada, olhando-a. Eu simplesmente não conseguia afastar o meu olhar. O cheiro de lavanda penetrou minhas narinas e de repente eu estava fora de mim, da realidade; Não havia nada ao meu redor a não ser aquele banheiro, como um lugar suspenso na escuridão, como a tela de um cinema... Eu sabia que eu não estava próxima o suficiente para ouvir tal coisa, mas meus ouvidos captaram a sua respiração, profunda e tranquila, e isso era tudo o que eu podia ouvir; o resto era silêncio, até não ser mais... Até eu ver seus olhos se abrirem e todo o cenário e barulho reaparecer.

— O que você faz aqui? — Dei um passo pra trás, sentindo que a qualquer momento meu coração escaparia pela minha boca. O que eu estava fazendo ali?

— Eu... Trouxe... E-eu trouxe a vitamina... — Ouvi o barulho da água quando ela arrumou a postura na banheira, de forma que agora eu podia ver o seu colo nu. Essa visão me deixou... perturbada, mas eu não conseguia olhar para o outro lado.

— Trouxe? — Ela estava encarando a minha alma, tão intensamente que minhas mãos suavam e tremiam; Era aquele mesmo olhar estranho, mas agora ele parecia mais estranho ainda — Deixei bem claro para Eduardo que novos funcionários não devem vir para esse corredor sem a minha autorização. — O olhar mudou, agora ele parecia severo — Ou entrar no meu quarto.

— Fui eu quem... Ele não tem culpa, a Naiara não tem culpa... Fui eu q-quem me ofereci para vir até aqui deixar a vitamina, mas eu não deveria ter feito isso!

— E por quê ainda está aqui? — Ela inclinou levemente a cabeça, criando uma profundidade ameaçadora ao redor de seus olhos. Eu já deveria ter fugido há muito tempo, mas os efeitos da hipnose só se dissiparam agora. Aproveitei o momento de sanidade para andar rapidamente para a porta e ir embora daquele lugar.

Srta. Marília | Malila [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora