J: eu não estou mais tão satisfeito com isso, querida.
Eu: certo, então, vamos encerrar nossa relação.
J: como é que é?
Eu: foi bom passar esse tempo contigo. Enfim, vou pra casa.
J: mas eu não quero acabar...
Eu: você não tá insatisfeito?
J: sim, mas acho que dá para fazer diferente.
Eu: eu não quero que a gente passe mais alguns dias empurrando essa relação com a barriga, só porquê você tem medo de ficar sozinho. Se achasse que tem como arrumar, já estaria arrumado, e eu nem saberia que você esteve insatisfeito em algum momento.
J: eu entendo, mas ainda assim, acho que tem jeito, por que não podemos sentar e conversar?
Eu: e o que haveria de ser dito? Eu já sei sobre seus sentimentos, seus desejos, os seus sonhos. Sei tuas filosofias, os planos de comprar uma casa com varanda e jardim, eu já sei tudo. E agora, também sei que está insatisfeito.
J: sabe o que eu penso? Que você não quer se dar ao trabalho de melhorar em prol do nosso relacionamento.
Eu: está correto, até porque, em que mais eu melhoraria? Eu cozinho o que você quer, eu escuto suas músicas, eu jogo seus videogames. Eu frequento os mesmos lugares que você, dividimos e multiplicamos as mesmas coisas todos os dias. Eu vivo a sua vida com você.
J: eu sei disso tudo.
Eu: quer saber o que eu acho?
J: fale.
Eu: acho que não está insatisfeito comigo em si, até porque, eu não vivo a minha vida ao seu lado. Acho que está insatisfeito com você mesmo, porque tudo o que você ama em mim eu copiei de você, e se isso está fazendo você reclamar, talvez o problema não seja eu, talvez você não goste de si mesmo.
J: ...
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De(lírio)
Non-FictionUma série de textos que eu escrevo para pessoas específicas que, não necessariamente, deveriam ler.