Nunca aprendi a dizer adeus. Ainda tenho a pelúcia que ganhei aos 4 anos, os gibis que comprava em 2010. Meu corte de cabelo sempre foi o mesmo, eu temo mudanças.
Durante sua estadia, você era a única constante que eu podia contar. Mas logo se foi, tudo mudou brutalmente e eu fiquei sem chão. Era como se respirar exigisse uma força que eu nunca tive. E por quase 2 anos, eu definitivamente não aprenderia a dizer adeus.
Ainda não sei me despedir das coisas e das pessoas, continuo sem saber encerrar ciclos, mas sigo me esforçando. Eu não uso mais a minha pelúcia, vendi meus gibis de 2010, meu cabelo deixou de ser cortado da mesma forma de sempre, pois eu decidi não cortar.
Dizer adeus à você tem sido a coisa mais difícil da minha vida. Eu agarrei fortemente todas as coisas constantes que me mantinham sobrevivendo. A imagem de você entrando na minha casa, o cheiro das suas roupas, o sabor do seu café...
Vaguei pelas ruas dessa cidade, abracei todas as vaidades possíveis, e ainda não soube te dizer adeus.
Mas existe uma constante que eu posso contar que está acima da que você me deu. A minha teimosia. O meu orgulho. O meu ego. Você os feriu, não só a eles, mas eu por inteiro. Por isso, eu não ligo se será necessário ferir minha própria dignidade, se isso significar te dizer adeus.
Eu vou beber e fumar o tempo que for, para apagar do meus lábios e do meu interior qualquer vestígio do seu gosto. Eu irei beijar estranhos, e chorar no chão da cozinha por me sentir suja, logo depois. Mas eu vou te dizer adeus.
Hoje, eu já posso te dizer adeus.
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De(lírio)
Não FicçãoUma série de textos que eu escrevo para pessoas específicas que, não necessariamente, deveriam ler.