Escuto o ressoar das chaves e sei que ela chegou, meu coração acelera como o bugatti que namorei outro dia. O salto agulha indica que está vindo em minha direção e sinto seu cheiro antes de passear meus olhos por ela, que está tão bem pra quem vai me machucar. Um boa noite frio e um beijo congelante me cumprimentam, posso jurar que estou em uma nevasca. Seguro seu braço antes que vire as costas novamente e o bugatti perde o freio.
- Tenha misericórdia - suplico - Se você já decidiu, então faça. Quebre de uma vez. Rápido.
Ela não pronuncia uma palavra com seus lábios, mas não é preciso, seus olhos pedem desculpas e dizem que esse é nosso último momento. Sei que não há nada que possa fazer para que ela fique, seu coração já decidiu, mas em um momento de auto
piedade coloco-a em meu colo e a levo pra cama, ela não impede. É uma despedida, vou amá-la mais uma vez. Pela última vez.
Quando o último suspiro escapa de seus lábios, uma lágrima solitária escapa de seus olhos, e com o que restou do meu coração passo os dedos cheios de saudade por seu rosto. Ela não tem culpa se apenas eu me apaixonei.
Caminho para o chuveiro como se estivesse rastejando em uma autobahn, sinto a água quente e o barulho do zíper da mala fechando é a última coisa que escuto antes do bugatti bater.
Perda total.
