1987

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Jennie Kim

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Foram anos difíceis, eu não sabia como viver após perder o amor da minha vida, minha Elizabeth se foi deixando apenas a lembrança de seus toques, da sua risada alta, do seu sorriso enorme e de lábios perfeitos. Matar algumas pessoas após isso me saciou de muitas maneiras, a fome e o ódio me consumia a cada dia.

Eu não era a vilã dessa história, era vítima das loucuras de um lunático de merda.

Dizem que a história de um vilão só é valida quando se tem um enredo e motivações o suficiente que os fazem ser daquela forma, ser malvado. Eu não sabia se o meu motivo era bom o suficiente para me enquadrar como tal.

Novamente, eu não era a vilã, mas poderia me tornar uma com facilidade.

Durante alguns anos eu aprendi que o melhor a se fazer era se esconder, humanos envelhecem, eu não, a cada dia que se passava, a cada ano, nada mudava em mim, eu tinha o mesmo rosto, o mesmo corpo, tudo era exatamente igual a quando me transformei, era irritante ter que responder sempre as mesmas perguntas:

- O que você faz na pele?

- Quantos anos tem?

- Qual o seu segredo?

Eram irritantes, eu não poderia matar a todos que me questionavam, então a solução era me esconder.

Corneliu foi útil pela primeira vez na vida e me informou em carta sobre um lugar próximo de onde eu estava, o lugar era vazio e fértil, eu poderia viver bem caso quisesse, o nome era Norstead, em Saint Lunaire-Griquet, no Canadá.

O casebre era de madeiras velhas, o mar ficava próximo, o único alimento e líquido que eu poderia beber era sangue e esse tinha aos montes em vários animais soltos pela região, algumas vacas e roedores.

A vida no campo era tranquila, não havia dor de cabeça, fome, frio ou qualquer coisa do tipo, pelo menos não nos primeiros dez anos em que eu vivia sozinha na região, a imigração as vezes era uma doença.

- Olá vizinha. - Uma mulher na casa dos quarenta diz cordialmente, olho para ela com tédio e forço um sorriso simpático. - Você parece tão novinha, seus pais moram aqui também?

- Moro sozinha, senhora. - Digo entredentes, ela assena e aponta para um lugar, próximo demais de onde eu estava.
- Estaremos ali, caso precisar de algo, nos informe. - Dou de ombros e agacho novamente, eu amava cultivar flores, me lembravam dela. A delicadeza das pétalas, o aroma, até os espinhos das rosas me lembrava do meu amor. - São lindas.

- A senhora não tem o que fazer? Carregar pau, arar a terra, lavar roupas. - Digo amarga, não demoro a ouvir seus resmundos e os passos arrastados se afastando, eu poderia continuar aqui e me alto intitular como uma filha de Vlad, como o próprio Corneliu faz, assustar essas pobres almas e mata-los depois.

Solto uma risada e nego com a cabeça, eu não era assim, é só ignora-los.

Os cinco minutos de sol logo acabaram, fazendo as nuvens grossas de chuva aparecerem, não me demoro a entrar para dentro de casa, ouvindo os barulhos altos dos trovões. Havia algo como gritos infantis também, provavelmente os filhos da mulher irritante, adeus paz.

[...]

Com o tempo instável em sua maioria, as vezes chovia bastante, por dias, horas a fio sem trégua, e eu agradecia todos os dias por ser o que sou, o mal tempo, o frio, as ventanias, nada disso me atingia, eu não sentia frio, fome, dor, não como a maioria dos humanos comuns.

Your Soul | JenlisaOnde histórias criam vida. Descubra agora