01 | Poesia ao Fim da Noite

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Bem-vindo a essa one-shot! Antes de começar a leitura, é importante que leia esse avisos:

↬ O conto não tem intenção de romantizar relações tóxicas. Isso é uma ficção, a dinâmica 'enemies to lovers' só se torna interessante aqui!

↬ Não tenho intenção de ferir a imagem das idols envolvidas nessa história. As personagens são apenas personagens, mas inspiradas em pessoas reais.

↬✍↫

23 de setembro de 1947 – Glasgow, Escócia

''Incapaz de morrer é aquele que é amado, pois o amor é imortalidade.''

- Emily Dickinson

Expectativas foram feitas para serem superadas. Às vezes, elas borram maquiagens e fazem vomitar, mas cumpri-las não serve para agradar a sociedade, serve para mostrar que uma pessoa pode mais do que parece ser capaz, serve para mostrar que pode tanto.

Era uma tarde fria de outono. Do lado de fora da sala de literatura da Universidade de Glasgow, os raios solares se misturavam a brisa forte enquanto Son Chaeyoung, do lado de dentro, observava Hamlet pousado em sua mesa. A capa não era a mais bonita, nem a tipografia escolhida era exatamente a mais agradável de se ler, mas era uma obra digna de se estudar, algo que já fazia a duas semanas. Naquela aula, sabia que sua dinâmica favorita viria a seguir, consistindo basicamente em recitar uma parte do livro estudado no semestre e, para isso, o professor escolhia quem julgava ser o melhor aluno. Chaeyoung fora escolhida em todos os semestres anteriores e, para provar sua competência, tratava de passar noites em claro andando de um lado para o outro em seu dormitório enquanto lia em voz alta para si mesma. Desde pequena, tinha a opinião de que os detalhes levavam a perfeição, portanto, era sempre assim, cuidadosa desde suas roupas até seus conhecimentos.

— Senhorita Myoui!

E Chaeyoung entendeu, na mesma tarde, que expectativas foram feitas para serem quebradas. Antes, não havia dúvida de que seria selecionada, mas agora, sentia que a outra única garota da sala de Literatura havia se tornado a protagonista. Segundo as conversas que ouvia pelos corredores, Myoui Mina havia chegado do Japão há poucas semanas, com uma bolsa de estudos de dar inveja e um rosto tão angelical que os garotos duvidavam de sua existência. Era injusto alguém ser bonita e inteligente ao mesmo tempo, mas esses fatos Chaeyoung jamais assumiria para si mesma. Estava claro, desde o início, que Mina chegou a universidade pensando ser a única mulher e que por isso se tornaria popular, mas também teve suas expectativas rompidas ao dar de cara com outra garota, esta que poderia ser tão boa quanto ela.

— Senhorita Myoui, senhorita Myoui... – o professor exclamou novamente, andando de um lado para o outro na frente da sala.

Após chamá-la, ele se apoiou com as mãos em sua longa mesa de madeira e subiu, ficando sentado ali, com as pernas balançando e o olhar curioso, focado na aluna sentada na primeira mesa bem à sua frente. Ele usava um terno desabotoado marrom, deixando explícita sua camiseta branca de botões, gravata vermelha e calças de alfaiataria, o mesmo uniforme que todos os alunos usavam, exceto pelas duas garotas, que precisavam trocar as calças por saia xadrez até os joelhos, tudo, é claro, da mesma cor marrom claro que a universidade exigia.

Por algum motivo, ele fazia Chaeyoung pensar em Einstein, não por ser um gênio da física, aquele professor estava longe do campo científico, mas por parecer tão insano quanto. Como se fosse de propósito para provar sua excentricidade, ele puxou um crânio de gesso branco para o colo. Antes, uma decoração barata, agora, um amigo que também ouviria alguém recitar Hamlet. Chaeyoung achava que seria menos pior se o único detalhe estranho fosse aquele crânio falso, mas para se juntar às paredes marrons, às mesas de madeira e ao quadro verde, os aviões de papel e os livros dispersos entravam em cena.

Poesia ao Fim da Noite | MiChaengOnde histórias criam vida. Descubra agora