(02) Sidewinder

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Já era tarde da noite quando eu parei diante da porta do quarto de Jungkook, com o bilhete de Hyelin nas mãos e os olhos ardendo de sono.

Ele ainda estava acordado, ou ao menos era isso que as luzes acesas do lado de dentro indicavam, e eu deveria ter cuidado para não ser visto por ele ou com certeza teria problemas com meus pais, caso descobrissem. Só por isso resolvi esperar, chutando pedrinhas, enquanto as luzes não se apagavam.

Mas elas não se apagaram por um bom tempo, o que começou a me deixar impaciente. E talvez eu não seja a pessoa mais esperta quando tenho que lidar com impaciência.

Por isso, um pouco inconsequente, deixei meus sapatos no pátio e subi os degraus até a passarela de madeira diante da porta de correr e me ajoelhei ali, cuidadoso, antes de deslizá-la minimamente para o lado.

Eu só queria saber o que ele estava fazendo e porque não ia dormir logo, mas definitivamente não esperava, nem podia, ser pego espionando.

Entretanto, quando encaixei um dos olhos na pequena abertura forçada, eu quase gritei ao acreditar que tinha sido visto por ele.

Jungkook estava sentado sobre o chão, diante da mesa de chá que ficava logo de frente para a porta do quarto. Uma bandeja com um bule e uma xícara de cerâmica sem alça já tinha sido deixada de lado, e no momento ele parecia concentrado na leitura de alguns papeis. Acho que por isso, apesar de estar
com o corpo virado na minha direção, ele não me viu.

E é claro que reconheço que deveria ter aproveitado sua distração para fechar a porta outra vez e esperar mais um pouco até que ele dormisse e eu não corresse mais o risco de ser pego. Poderia também desistir de ajudar Hyelin e simplesmente sair dali, mas... foi impossível.

De repente, era como se eu entendesse tudo que ela dizia sobre Jungkook.

Não... Era como se eu estivesse descobrindo que todos os elogios não faziam jus à imagem daquele homem, porque ele estava acima de todos esses.

Eu vi os cabelos escuros divididos sobre a testa, as sobrancelhas sutilmente franzidas, os olhos pretos concentrados e a boca avermelhada levemente entreaberta, com a ponta da língua aparecendo furtivamente para umedecer seus lábios vez ou outra.

Depois eu vi seu pescoço forte e a blusa social branca com as mangas repuxadas até seus cotovelos, com os dois primeiros botões abertos revelando um pouco da pele de seu peitoral.

Mesmo que eu apenas o estivesse vendo precariamente através de uma pequena abertura de porta, cada pedacinho daquele homem me deixou completamente hipnotizado e eu simplesmente não consegui me mover.

Jungkook era lindo ao ponto de se tornar impossível descrever, mais impossível ainda de parar de olhar.

E aquele não era o momento para tentar entender porque meu coração estava batendo tão rápido por outro homem, então eu não o fiz. Apenas continuei quieto, com uma mão espalmada contra a parede e a outra contra a porta de correr, um dos olhos encaixado na fresta e a respiração pesada e lenta demais,
como se qualquer mínimo ruído pudesse me denunciar.

Quando Jungkook juntou todos os papeis que estavam em cima da mesa de chá e os guardou numa pasta, eu soube que precisava sair dali, mas eu não queria. A única coisa que eu queria era vê-lo mais um pouco, mesmo que isso pudesse me trazer problemas depois.
Então ele ficou de pé, calmamente, e eu o vi levar uma das mãos ao primeiro botão fechado de sua camisa enquanto ele caminhava até o pequeno armário
do quarto.

Jungkook ficou de costas para mim, e eu assisti com devoção enquanto ele desabotoava completamente sua blusa.

O tecido fino marcava os músculos de suas costas, que se contraíram deliciosamente quando ele finalmente deixou a blusa escorregar por seus braços firmes, revelando músculos posteriores que pareciam mais fortes que todos os meus objetivos de vida.

E mesmo que eu já estivesse completamente afetado por toda a situação, ver suas costas nuas me levou a um estado totalmente além. Não só pelo físico, mas também pela marca permanente de tinta no lado superior direito, sumindo por seu ombro e pela lateral de seu corpo. Apesar de não poder ver a cabeça
do animal, eu não tive dúvidas sobre o que era.

Jeon Jungkook tinha uma enorme serpente negra tatuada nas próprias costas.

A surpresa de descobrir que aquele homem de olhar sério escondia algo como uma tatuagem debaixo de suas roupas caras me fez sentir a necessidade de descobrir que outros segredos ele poderia ter.

E, a partir desse exato momento, eu mandei aos ares toda e qualquer objeção que minha moralidade e medo criavam para me fazer sair dali. Durante todo o tempo eu estive ciente sobre como era errado invadir a privacidade de alguém daquela forma, mas o desejo e curiosidade que aquele homem despertou em mim criaram um lapso de consciência muito mais forte que meu receio de ser pego fazendo algo tão condenável.

Quando ele pendurou a blusa num dos cabides, eu o vi finalmente ficar de frente para mim outra vez. A visão de seu tronco nu me fez sentir minha própria respiração ricochetear contra a madeira da porta detrás da qual me escondia, com meu corpo se tornando exponencialmente mais quente tanto pelo calor em minha virilha quanto pela adrenalina liberada com o medo de ser capturado.

Mas, apesar do suor nas palmas das mãos e da frequência cardíaca irregular, eu não fui notado e tive total liberdade para finalmente ver a cabeça da serpente desenhada sobre seu peitoral forte, com as presas à mostra numa representação de perigo que não me despertou nada além de mais vontade de
continuar ali, assistindo-o.

Depois, deixei que meus olhos descessem pelo restante de sua pele exposta, capturando com atenção os detalhes de seu abdômen definido, até a pequena entrada em seu quadril que apontava e sumia debaixo do cós de sua calça.

Eu o vi caminhar pelo quarto de forma lenta enquanto suas mãos trabalhavam em desafivelar o cinto de couro.

Num gesto involuntário, cravei meus dentes em meu próprio lábio, tentando refrear a quantidade de sensações novas que somente a visão de seu corpo me proporcionou, combinado ao desejo de poder ver o que ainda não tinha sido revelado.

Depois de tirar o cinto, ele então o dobrou e o segurou em apenas uma das mãos, ainda andando devagar. Antes que pudesse me perguntar quando ele tiraria sua calça, eu finalmente percebi.

Jungkook estava caminhando em direção à porta.

A sensação de perigo me fez despertar repentinamente daquele estado de digressão e, aflito, tentei ficar de pé para correr para longe dali, mas a única coisa que consegui foi tropeçar no meu pé e cair sentado, com os joelhos dobrados, as mãos espalmadas contra o piso de madeira, os olhos arregalados e o coração pulsando tão forte a ponto de doer.

E então a porta se abriu completamente.

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⏰ Última atualização: Nov 26, 2022 ⏰

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