LINN ZHENG
Eu nunca quis crescer. Eu não sei se foi a grande quantidade de vezes que ouvi aquela música "um joelho ralado dói bem menos, que um coração partido..." tocando no rádio, que me fez ter um certo medo da minha futura adolescência, mas ainda lembro do dia que eu fiz 7 anos, e pedi que tivesse 7 anos para sempre. Infelizmente, esse desejo não se concretizou, igual ao desejo de ganhar um gatinho de natal.E a minha eu do passado estava errada, em ter medo da futura adolescência, ela deveria sentir tristeza mesmo. Não tinha nada a se temer. Apenas um vida repetitiva, com dias que parecem aqueles comercias chatos de Tv e tudo o que você mais quer é mudar de canal. A minha realidade já está assim a tanto tempo, que eu nem lembro mais quando começou.
Provavelmente, hoje será a mesma coisa de sempre, mas em um cenário diferente. Em vez de meu quarto, será no play do meu condomínio. No momento, a funcionária da minha casa está limpando o banheiro, mas em breve virá até meu quarto para limpar também. O cheiro forte de produto é horrível, e também não estou afim de atrapalhar, então o play será a melhor opção.Lá tem a dita Área natural, onde de natural, só tem o ar, por que a maioria das plantas são artificias ou milimetricamente cortadas, mas é um bom lugar para se ficar, já que entre a o parquinho e a área natural, as crianças barulhentas preferiam o parquinho. Então, pra mim, está otimo! Pego o primeiro livro de Os Olimpianos, que ganhei de natal da minha tia, coloco meu fone estourando em Lo-fi e saio do apartamento.
Entro elevador, que não tem ninguém, e aperto o "P". Chegando lá passo pela quadra e vejo alguns meninos jogando futebol, com um bola que parecia estar pedindo socorro de tão destruída. Depois, ando até uma goiabeira, onde tem um pequeno balanço, até que bem limpo, que vai ser bom para ler, já que era no canto do prédio e ninguém passava por lá.
Em alguns minutos, eu sinto um leve movimento na árvore, sinceramente, acho que é só impressão. De um momento, para outro Plooft, algo caí na minha cabeça, era uma goiaba. A cabeça doía, e todo aqueles pedaços de fruta vão escorrendo pelo meu cabelo, recém lavado. No mesmo segundo me levanto e deixo meu livro de lado, e acabo olhando pra cima, irritada, desacreditando que isso era real.
Pra piorar a situação, em cima da árvore, havia um moleque. Eu nunca vi ele no condomínio, nem em nenhum lugar. Ele tinha pele escura, dreads, uma camisa que aparentava ser do Flamengo e chinelo semi-arrebentado. Ele segurava uma bolsa de feira e segurava uma das frutas. Raciocínio tudo. AQUELE DESGRAÇADO JOGOU UMA GOIABA EM MIM?
—SEU IDIOTA! SAI DA MERDA DA MINHA FRENTE E DESSE PRÉDIO!— Eu gritava de raiva, eu ainda não entendia como ele tinha entrado no prédio.
—Oh garota, se aquieta aí, aproveita e come um pouco de goiaba.— Dizia o menino com um risadinha no final que me dava nos nervos. Parecia que ele nem se importava com o fato dele ter acabado de furtar um condomínio. Percebo uma outra voz vindo de trás do muro, gritando algo que não consigo identificar, mas vejo que o de cima da árvore se prepara pra pular do muro.
—AH NÃO VOCÊ NÃO VAI SAIR DAÍ! SEU VAGABUNDO!— Eu digo indo quase correndo até a portaria para chamar o porteiro para avisar da situação.
—TCHAU DAMINHA MIMADA!— Ouço de longe com uma risada maior ainda do que antes. Olho para trás, eles tinham ido embora.
—VÃO SE FERRAR!— Solto esse berro alto.Volto até a árvore e pego meu livro. Olho e sinto mais raiva interna, o meu livro também estava sujo. Desisto de conter, e dou um soco na parede. Provavelmente iria ficar roxo, mas não me importava mais.
Tudo que eu mais quero agora era chegar em casa, tomar um banho BEM DEMORADA, e desabar na cama. Era incrível como coisas simples conseguiam me fazer desistir de um dia inteiro. Penso nas melhores opções, elevador ou escada. Eu não queria que ninguém me visse daquele jeito no elevador, mas também não queria subir 7 andares de escada (sem contar as garagens!). No benefício da dúvida, de talvez não haver ninguém lá, e também o fato do porteiro geralmente não estar olhando as câmeras. Aperto o botão para chamar o elevador. Entro. Não tinha ninguém. Aperto o 7 e vai subindo. Eu fecho os olhos e peço que chegue rápido. Até que o elevador para na 3* garagem. E ouço passos de salto. Ah não. Era as gêmeas da cobertura.
Sabe aqueles esteriótipos de filmes norte-americanos da loira burra que pensa que Africa é um país? Então, eram elas, só que de cabelo castanho. Elas não eram nada responsáveis, e até falavam coisas meio xenofóbicas sobre minha aparência (alguns anos atrás, na pré adolescência, elas me perguntaram se o formato dos meus olhos mudava a minha visão). Ninguém nunca ia fazer nada a respeito sobre as atutides ou falas delas, pois elas eram filhas do síndico do prédio, que praticamente deixava 60% daquele lugar de pé. Elas também já falaram coisas muito maldosas ao porteiro, chegando a xingá-lo, só pelo fato dele demorar um pouco para abrir o portão, sendo que ele estava AJUDANDO UMA SENHORINHA DO PRÉDIO A LEVAR UMA ENCOMENDA ATÉ O ELEVADOR. Aquela cena deu raiva de ver.
Enfim, elas chegando e entrando, nem olharam para mim, até que né, perceberam. Elas olharam uma para a outra, e começaram a rir de leve, nem ligando se eu via isso ou não. No fim, chega ao meu andar e saio rapidamente em passos longos. Elas riram mais alto, e alguma delas falam que tirou uma foto. Não seria exagero de falar que quase chorei de raiva. Aquela foto iria se espalhar no grupo de adolescentes de prédio, que eu nem estava mais (ambiente muito tóxico, não dá pra mim) e seria zoada por aqueles demônios pelos próximos meses.
Entro em minha casa, e vou direto e quase voando de tão rápido para a área de serviço. Graças a Deus a funcionária já havia indo embora. Tento tirar o máximo do meu cabelo do que um dia foi uma goiaba. Obviamente eu iria lavar novamente no banho, mas eu não queria deixar um rastro sujo até meu banheiro. Após isso, decido ir rapidamente até o escritório da minha mãe, só para avisar do ocorrido sem dar muitos detalhes. Talvez ela ficasse preocupada comigo ao descobrir que ouve um "roubo" na minha frente e que me atingiu de certa forma.
Bato na porta. Não ganho resposta. Decido abrir lentamente. Vi minha mãe na sua cadeira com o computador ligado, me dando apenas um tchauzinho, sem nem olhar a minha cara. Saio sem fazer barulho. Era geralmente assim nós dias de semanas (quando não era reuniões presenciais nos finais de semana). Eu acostumei e entendo ela as vezes não conseguir ser tão presente. Ela é extremamente ocupada com o restaurante dela, e faz total sentido já que é um grande restaurante, e que em breve abriria uma franquia.
Finalmente, entro no chuveiro quente e sento no chão, eu não ligava mais pra nada. Meus pensamentos voavam, quando eu lembro do menino que roubou o prédio. Ele era bonitinho, mas ainda estou com ódio demais para pensar nisso. Logo após o banho, avisarei ao porteiro, talvez eles tomassem alguma providência (ou, bem possivelmente, não.)
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♫𝐓𝐨𝐝𝐚 "𝐝𝐚𝐦𝐚" 𝐭𝐞𝐦 𝐬𝐞𝐮 "𝐯𝐚𝐠𝐚𝐛𝐮𝐧𝐝𝐨"♫
Romance•Inspiração na minha música favorita: O Vagabundo e a dama - Oriente• Uma vida monótona, com vários livros e poucos amigos. Assim era vida de Linn Zheng, uma menina de ascendência chinesa, que não queria e nem esperava mais nada da vida. Em uma de...