A nossa primeira conversa foi tão interessante que não perguntei o nome dele. Quando me lembrei, era tarde demais. Decidi que ia perguntar da próxima vez que a gente conversasse. Isso vai ser mais tarde, em algum momento da noite. Eu sei, foi má educação da minha parte não ter perguntado antes, mas por sorte ele não ligou ou nem percebeu — ou não se importou.
Fiquei curioso para saber no que ele trabalha. Eu não trabalho. Estou procurando ao mesmo tempo que estou vendendo livros para poder me sustentar — isso pode ser considero um trabalho de meio período ou até um bico, mas vejo mais como passa tempo. Ou melhor, para comprar minhas coisas. Ainda moro com meus pais. O ruim é que eles detestam essa ideia que tive de vender livros. Segundo eles, acham que é dinheiro perdido, um investimento errado.
Eu não concordo com eles porque, quando fui pesquisar formas de ganhar dinheiro de um modo fácil (não tão fácil assim, digamos de passagem) numa lista da internet, o item três era livros. Achei perfeito pois amo livros e tinha uns que eu já queria desapegar há tempos. Pensei comigo que se desse certo, continuaria enquanto não aparecesse um emprego legal. Não tá dando muito certo, mas mesmo assim estou continuando, e investindo.
O legal de vender livros é que você pode ler os que compra e revender depois sem problemas. Também você fica conhecido entre um grupinho de pessoas que podem até se tornarem amigos com o tempo caso role mais conversas após a venda. Amigos que compartilham dos mesmos gostos e surtos literários que você, e sem julgamentos quando você torce por um casal meio tóxico porque eles mesmos fazem isso.
Já fiz alguns amigos dessa forma. Na verdade, amigas. Não me dou bem fazendo amizades com meninos. Sou muito zoado e nem todos curtem isso. Isso é, se eles forem héteros e não simpatizantes. As garotas são mais de boas porque eu posso ser eu mesmo sem me sentir constrangido quando falo merda ou dou uma de doido por aí — tirando a parte de ser um tanto afeminado. E, sério, que garota não adora um amigo gay debochado sincerão?
Elas também me dão várias e várias dicas quando eu vou postar uma foto dum livro. Sou péssimo na arte da fotografia. Meu perfil no Instagram melhorou bastante depois delas. Confesso que vou levá-las para a vida toda porque elas me fazem bem e são as melhores pessoas do mundo. E olha que sou péssimo no quesito fazer novas amizades. Sim, isso quer dizer que sou um tanto tímido e que não sei conversar tanto assim. Meio triste, eu sei.
Recentemente, fiz uma nova remessa com o dinheiro que eu consegui. Eles vão chegar daqui há uma semana, mais ou menos. Estou com uma expectativa enorme sobre eles, pois acredito que acertei em cheio na compra. Na verdade, foi com auxílio dos meus seguidores — meu foco é mais na venda online. Eu fiz uma enquete sobre que títulos eles gostariam de comprar. Muitos não responderam, e outros apenas reagiram.
Sério, é uma coisa que me deixa bem frustado é a falta de interação dos seguidores. Eu pergunto: tudo bem? Eles não respondem. Poucos, na verdade. Uns 16, de 100. Pior que sempre gosto dessa interação, pois acho legal ter uma pequena conversar antes de efetuar a compra, criar uma espécie de vínculo, quem sabe uma fidelidade no caminho? Mas é difícil essas coisas acontecerem porque a galera daqui é bem fria. Então não receber muita interação mais calorosa é como tomar um banho de água gelada.
Mas sei que não posso reclamar e sim agradecer pelos poucos que me deram o prazer de interagir. Isso significa que, de certa forma, os livros que chegarão serão bem recebidos. Não que todos tenham gostos em comum, mas percebi que a maioria dos escolhidos são bem famosinhos com a geração Tiktoker. Agora é só esperar e vê o resultado final!
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Sempre Olhe Através do Espelho
RomanceOnde dois garotos começam a se desafiar enquanto tentam entender o que esses desafios realmente significam um para o outro.