Antes que saíssem, Shuri pediu que ele esperasse por ela. Os dois concordavam que não era nem um pouco recomendado que Namor saísse por aí quase descoberto. Ela voltou com o que ele inspecionou cuidadosamente, estranhando tudo aquilo.
Pedindo licença, ele se trocou longe dos olhos da esposa, calças folgadas que cobriam as asas dos tornozelos, uma camisa com pontos redondos e pequenos que ele não conseguia fechar nem se quisesse, sandálias em seus pés e um adorno diferente para a cabeça, algo que Shuri chamou de boné.
-Não vamos arriscar mostrar suas orelhas de duende por aí - ela disse ajustando o boné na cabeça dele.
-Orelhas do que? - ele questionou imediatamente.
-É uma criaturinha mitológica que geralmente tem orelhas pontudas - ela explicou entre risos - precisamos ajeitar isso aqui também.
Shuri se ocupou com os botões da camisa, os fechando rapidamente.
-Como consegue fazer isso tão rápido? Não consegui por mais que tentasse - Namor perguntou, admirado pelas habilidades dela.
-Muitas roupas da superfície tem botões, é simples - ela deu de ombros, como se não fosse nada demais.
Deixando a questão boba e pequena para trás, eles caminharam pela superfície juntos, até a cidade mais próxima. Algum instinto em Namor o fez oferecer uma mão à esposa, um gesto da sua parte para mantê-la segura. Com um sorriso singelo, ela segurou a mão dele de volta; Foram parar em um vilarejo simples, as ruas eram de chão batido e pouquíssimos carros passavam pela região. Havia um restaurante aberto, com as mesas à beira mar, e cordões de lâmpadas penduradas nos postes ao redor.
Namor ficou quieto, curioso, olhando tudo em volta, deixando que Shuri fizesse o que era necessário, aprendendo por observá-la. Um rapaz se aproximou, falando em espanhol, língua que ainda causava rancor em Namor. No entanto, ouvi-la sair dos lábios de Shuri diminuiu o sentimento no momento. O rapaz os deixou novamente e Namor se voltou para a esposa, procurando entender o que tinha acabado de acontecer.
-O que foi isso? - ele perguntou.
-Eu fiz meu pedido, eles tem tacos caseiros e refrigerante - ela explicou e ainda assim, viu a confusão no rosto do marido - é uma comida típica daqui, refri, ou refrigerante, é uma bebida feita de várias coisas.
-Um lugar para se pedir por comida, não há um estoque ou algo assim? - ele pareceu genuinamente curioso.
-É um restaurante, Namor, as pessoas podem pedir comida diferente das de casa e comer aqui, mas elas também compram comida no supermercado, que é o mais próximo de um estoque, mas tem que trocar por dinheiro o que quiser, toda compra na superfície é feita assim - Shuri esclareceu com uma paciência que surpreendeu a ela mesma - nunca tinha visto um desses?
-Eu tinha, mas não sabia bem como funcionavam, conheço coisas da superfície, mas não seus detalhes - ele confessou - eu prefiro a minha nação, ficar onde sempre pertenci.
-Eu entendo, mas você ao menos gostou de Wakanda - ela rebateu.
-Porque vocês são diferentes, são unidos - ele se repetiu, lembrando de usar essas mesmas palavras no dia do casamento de T'Challa.
-Temos nossos problemas também, acredite, nenhum povo é perfeito, e não é toda superfície e tudo que fazem que é mal - ela garantiu - acho que depois desse tempo sendo rainha, compreendi que o meu exemplo pode mudar as coisas para melhor, mostrar a Talokan que a coisas boas na superfície.
-Como você está fazendo comigo agora - Namor acrescentou.
-É, eu juro, não era intencional, eu só queria sair um pouco e ter uma noite de folga do trabalho de rainha - ela acabou rindo.
-Você merece uma folga, é uma excelente rainha - Namor retribuiu o sorriso, mais elogios, e até mesmo uma confissão de amor ficou entalada em sua garganta, mas ele se conteve.
O garçom chegou e eles comeram, Namor cuidadoso ao experimentar, com Shuri atenta às reações dele. Apesar de estranhos, ele tinha que admitir que tacos e refri tinham um gosto bom. Ela então se juntou a ele na refeição, enquanto comia, observando o homem à sua frente. Era o seu marido, seu amigo, tão diferente do homem que tinha invadido Wakanda meses atrás, do inimigo com quem tinha lutado. Apreciava a companhia dele, amava estar com ele, seu jeito gentil de falar, a maneira bondosa como a tratava, disposto a fazer essa aliança dar certo. Hoje, Shuri não queria deixá-lo sozinho em sua pequena excursão pela superfície, na realidade, nunca mais queria deixa-lo sozinho. Queria ter alguém para perguntar e ter a certeza de que tinha se apaixonado. Longe de sua família, teria que encontrar essa resposta sozinha.
-A comida está muito boa - Namor interrompeu o silêncio que se formou - é uma prova de que realmente coisas boas vem da superfície, não só o mal.
Criando coragem, ele desviou o olhar um pouco e depois se focou nela, somente nela, a dona de seu coração.
-Você é a prova viva de algo bom que veio da superfície, eu me sinto honrado, grato e até mesmo constrangido por ter me aceitado como marido - Namor olhou firmemente para ela, disposto a não recuar dessa vez - não sei se meu sentimento por você é recíproco, mas eu aprendi a amá-la Shuri filha de T'Chaka, e esse amor só cresce cada vez mais e tenho certeza que meu coração de verdade para sempre pertencerá a você.
A confissão a pegou de surpresa, ela engoliu um pedaço de taco com força, tentando pensar no que faria a seguir. A hora de entender se amava Namor ou não tinha chegado muito mais cedo do que pensava.
-Obrigada - ela disse antes de qualquer coisa - eu... tem uma coisa que eu preciso dizer também, eu não pretendia armar tudo isso hoje, não esperava que sair com você terminaria assim, eu só... Namor, eu também gosto de você, eu me apaixonei por você e pra mim é muito confuso, porque... você sabe o que você fez, o que você tirou de mim, mas ao mesmo tempo, todo o seu cuidado comigo meio que compensou tudo isso, talvez eu nunca me cure da perda da minha mãe, mas eu também não quero te perder, eu encontrei um lar longe do meu lar, e isso tem muito a vez com você, então, não me resta sentir ou dizer outra coisa a não ser que eu amo você também.
Depois de todo seu discurso, Shuri acabou se desmanchando em lágrimas, chorando quietamente e com ombros trêmulos. Namor entendeu que talvez ela precisasse de mais tempo para entender o que estava acontecendo, e ele respeitaria seu espaço, mesmo sentindo a comemoração crescente dentro de si do fato de que sua esposa o amava também.
Após alguns instantes, ele se levantou lentamente, sem deixar de olhar para ela. Abriu seus braços lentamente, e Shuri caiu sobre o peito dele, sendo envolvida pela afeição que sabia que receberia.
-Vamos para casa - Namor ofereceu, falando baixinho ao seu ouvido, acariciando os cabelos dela.
Seguiram de volta para a caverna, onde poderiam conversar mais sobre o que tinha acontecido.
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Grãos de Areia à Beira Mar
FanfictionDepois do enorme conflito entre Talokan e Wakanda, as coisas começam a se acalmar entre os dois reinos. Porém, uma proposta pode colocar tudo a perder ou finalmente solidificar os laços até então hesitantes entre as duas nações.