Capítulo 2

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— Daniela, me passa o leite. — Entreguei-o ao Iran, desanimada. Não conseguia disfarçar o meu desânimo em relação à festa.

— Ih... Que foi, garota?! Qual é dessa cara murcha?

— Nada não... Amanda, terminou o Nescau?

— Sim, borá pra school. Tchau-tchau, gente!

— Tchau, até mais tarde... — despediu-se meu pai.

— Boa aula, meus amores — disse minha mãe, antes de sairmos.

Já esperava que, assim que nós saíssemos, meus pais iriam contar o motivo do meu desânimo, por isso que não me esforcei a dizer nada ao meu irmão.

Ainda estávamos saindo da minha rua quando a Amanda de repente parou de andar e colocou a mão na cabeça.

— Caraca! Esqueci minha apostila, pera aí, já volto! — E saiu correndo em direção a nossa casa.

— Não demora, hein!

Lembrei que tinha um pouco do biscoito Pocky que a Mikki me deu e comecei a comer. Estava frustrada, e comer um doce, ainda mais de chocolate, sempre melhora o meu astral. Bem, de qualquer um, não é? Desceram tão bem os dois biscoitinhos que fechei os olhos para saborear. Mas o sabor logo em seguida amargou um pouco, quando ouvi aquela conhecida voz grave:

— Nossa, está com fome, hein! Aposto que já comeu um banquete no café da manhã e tá comendo isso porque não se sente satisfeita. Cuidado pra não virar um barril, ô estabanada... Tá quase, olha as banhas surgindo aí na cintura, dá pra notar, hein.

Mesmo de costas, eu já sabia quem era o dono daquela voz debochada. Nem me dei ao trabalho de me virar e apenas respondi rispidamente:

— Isso é só um aperitivo, seu idiota! Nossa, é puro azar encontrar com você justo hoje.

Ele andou até ficar na minha frente e tirou seus óculos escuros, dando um leve sorriso irônico. Eu apenas o encarava de forma séria e braços cruzados.

— Deixou os modos em sua casa desbotada, foi? — Ele apontou para a minha casa. A chuva desbotou a tinta, mas nem tanto assim. Na verdade, era mais visível a tinta descascando... — Precisa respeitar os mais velhos, sabia? Nem bom-dia você me deu e já vem me chamando de idiota. Que grosseira.

— Primeiro: você não parece ser tão mais velho assim que eu para ficar falando de respeito. Segundo: não zombe da minha casa, ela não é feia. E terceiro: você é implicante demais, vaza daqui!

Ele colocou seus óculos escuros e se virou. Quando pensei que tinha me livrado daquele cara irritante, ele voltou a falar, já caminhando:

— Só irei porque tenho algo importante a fazer. E tira essa tiara, parece uma criança bobinha . Fica ridículo em você.

Eu poderia não dar valor para aquele comentário, mas foi mais forte que eu. Minha vontade era sair correndo atrás dele e tacar minha mochila pesada bem em cima dele para ver o que achava. Talvez assim ele parasse de ser irritante comigo. Talvez.

— NÃO ESTÁ, SEU... BABACA! I-D-I-O-TA! Ok, essa foi uma ofensa infantil.

Começar meu dia com as implicâncias do Henrique me deixou com a cara pior do que já estava. Ele era meu novo vizinho. Ai, não o suportava! Gente metida e debochada não combinava comigo.

Para mim, ele parecia ser o tipo de cara que nunca gostaria de namorar. Não podia negar que tinha lá seu charme, mas se apagou dos meus olhos desde a primeira vez que nos vimos e ele se mostrou ser uma pessoa para lá de arrogante. Ele ficou tão furioso e me insultou tanto que me fez revidar todos os insultos fervorosamente. E foi daí em diante que nossas poucas conversas começaram a conter sempre muita implicância.

Um sonho, muitas surpresas [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora