Capítulo- 0

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O DIA ESTAVA NUBLADO e a garoa da chuva podia ser vista por toda Floresta. A temperatura parecia baixar a cada segundo, tornando a missão de ficar fora de casa quase impossível.

Fazia exatamente quarenta minutos que ocorreu um grande evento na floresta, o primeiro Rei das Fadas havia sido escolhido diretamente pela Árvore Sagrada e todos do Reino estavam festejando, pois agora estaríamos todos seguros.

O frio não estava impedindo nenhuma só fada de comemorar essa data tão memorável e histórica para todos nós. Mesas recheadas com todo tipo de culinária e todos os tipos de frutas que existiam na floresta, tudo isso para o novo e primeiro Rei.

Mas onde estava o Rei?

Assim que a serimonia encerrou, Gloxinia alegou que precisava fazer uma ronda pela floresta e até agora não havia voltado. O conhecendo como eu conheço, sei muito bem que ele já fez a sua ronda matinal hoje, mas então por que ele saiu?

Já fazia dez minutos que eu estava enfrentando as fortes rajadas de ventos congelantes, apenas para acha-lo. Será que ele não gostou de ter sido escolhido? Será que está com medo?

Eu e Gloxinia nos conhecemos a muito tempo, guardo um enorme carinho e respeito por ele e não posso evitar ficar preocupada. Sei que ele não é fraco e que sabe lidar com as coisas até mesmo melhor que eu, mas mesmo assim eu precisava encontra-lo.

Foi então que em um só estalo me lembrei de seu lugar favorito, lugar esse que ia sempre que estava pensativo ou queria espairecer. Segui em direção ao balanço.

Dito e feito, lá estava ele. Não parecia ter notado minha presença ainda. Sentia a chuva tomando uma intensidade um pouco maior e comecei a me preocupar com as outras fadas também, principalmente com as crianças levadas.

——Parece que você me achou, como sempre.–zombou com um belo sorriso ladino. Podia ver claramente seus lábios se curvando e seus caninos pontiagudos surgindo entre eles, me fazendo corar com a bela visão.

——E-então quer dizer que estava fingindo não me notar?

——Senti a sua presença zanzando por toda floresta, impossível não nota-la.–sussurrou ainda zombeiro—Sem falar que eu já esperava que você fosse vir atrás de mim.

——Mal se tornou Rei e já está esnobe? Que coisa feia, meu pequeno Rei.

O ouvi bufar e dei uma risada baixa. Gloxinia sempre odiou ser chamado de "pequeno", sempre virava o rosto e inflava as bochechas numa pequena birra. Nunca conseguiria parar de chama-lo assim, era uma cena adorável demais para se perder.

——Não fique me chamando desse jeito na frente dos outros, agora eu sou o rei e não quero que manche a minha imagem, sua plebeia.–suas palavras eram carregadas de deboche e sarcasmo.

——Seu bobo, sua imagem foi manchada quando resolveu fingir que nada aconteceu e fugiu do banquete. Vai me dizer oque está acontecendo ou prefere continuar ignorando seus próprio sentimentos?

Bufou mais uma vez.——Você é um pé no saco, Íris. Se continuar se importanto tanto assim com os outros, vai acabar se machucando no futuro.

Exitei.——Não me importo com os outros, me importo com você. Eu deveria me preocupar de sair machucada?

Seus olhos se arregalaram em surpresa e sua boca formou um perfeito 0. Mas eu não estava me importando com as consequências de falar mais do que eu deveria.

Faz mais de seis meses que Gloxinia não para em casa, passa o dia todo em Deus sabe onde e sempre foge do assunto quando eu ou Gerhead o questionamos. Sem falar que todas as vezes que resolve voltar para casa está com machucados por todo corpo.

Aquilo havia se tornado uma tortura, quem iria gostar de ver alguém querido nessas condições?

——Eu queria poupar você o máximo que eu pudesse, mas parece que não tem mais como eu te proteger do que está acontecendo.–falou sério—Uma grande guerra está por vir, uma entre aqueles dois clãs. Estive saindo para treinar com o Drole durante esse tempo, não podemos ficar de braços cruzados.

Agora foi a minha vez de ficar surpresa. Como ele não escutou uma resposta minha, continuou explicando.——Sem falar que agora eu me tornei Rei das Fadas. Meus planos eram proteger você e Gerhead a todo custo mas parece que vou ter que dividir essa proteção com todo reino.

——Você não precisa jogar toda essa responssabilidade para cima de si desse jeito, sabe que não vamos deixar você sozinho. Essa guerra pode até nos abalar, mas vai ficar tudo bem no final, entendeu?–dei uma pausa–sem falar que eu e sua irmã somos bem crescidas, ou já se esqueceu quem eu sou?

——Sei que não preciso ficar preocupado, mas não consigo evitar. E é claro que eu lembro quem você é.–disse voltando a usar seu tomz zombeiro.——Mas mesmo assim Íris, eu prometo que vou proteger você.

Mesmo parecendo um tomate de tão vermelha, me toquei que estávamos a mais de quinze minutos de baixo de uma chuva congelante.——E-enfim... é melhor a gente sair da chuva se não quisermos pegar um resfriado em meio a toda essa tal guerra, sem falar que eu não posso ficar muito tempo longe da Fonte.

——Tudo bem, mas... Íris, posso te pedir uma coisa?–mesmo estando meio confusa com o pedido repentino, acenei com a cabeça——Faça um juramento comigo!

Fiquei confusa.——Que tipo de juramento?

——Jure ser meu lar para sempre, e em troca eu posso te jurar o que você quiser.–deu mais um dos sorrisos que quase me matam.

Ser o lar dele? Eu sou o Lar dele?Meu coração está muito acelerado, por que isso parece uma despedida?——Tudo bem... quero que me prometa que vai ser o meu pequeno para todo sempre.

Pude me deliciar com a visão de suas bochechas ganhando um pequeno tom de rosa, tornando seu rosto delicado ainda mais angelical.——Certo, prometo ser s-seu pequeno para sempre.

Sorrimos satisfeitos com os nossos juramentos e seguimos em direção a Árvore Sagrada, onde todos ainda se encontravam comemorando.

Sorrimos, dançamos e brincamos por toda noite. Foi realmente um dia inesquecível para todos nós e sempre vai ser lembrado como minha última lembrança feliz.

MIZPÁ, Gloxinia.Onde histórias criam vida. Descubra agora