ᴏ ꜱᴀɴɢʀᴀʀ ᴅᴀꜱ ᴇꜱᴛʀᴇʟᴀꜱ

Capítulo II : " Os Corruptos da Magia "

- ASLAN ZALLEF -
Antes do contato de almas

    Hoje o céu está mais vivo do que nunca, lilás e um amarelo dourado que decora a tarde que está chegando ao fim.
    Com ela, a coroação a herdeira de Volantis, Yellena Azur volan. Minha irmã.
    Ela está radiante, seu sorriso ilumina o dia de todos os presentes no Palácio, não só aqui, ela é amada pelo povo graças à sua dedicação em servir. Vestida com o longo vestido de pedrarias azuis e douradas, segura sua longa espada de Zinedine com afinco. 

   Com uma das mãos repassa brevemente um trecho do que será a sua apresentação na cerimônia, raios de sol que cairão em solenes cascatas simétricas pelo salão do Palácio. 

    A maior conjuradora que o mundo já viu

  Sempre é como se fosse a primeira, a mesma sensação de orgulho e o anseio pelo futuro, posso repetir quantas vezes seja preciso para que ela acredite, a sua magia é inédita e descomunal, Lena faz jus ao título.
    Ela acena para que eu retorne à atenção nas suas palavras.

    _ Acha que alcançarão o povo que assistirá? Não tenho certeza se todos poderão tocar nelas.
    _ Depende do ângulo, as pessoas estarão espalhadas pela escadaria e o templo, algumas nos rochedos e mesmo se eles não tocarem, verão a quão grandiosa será Lena.
    _ É minha primeira aparição pública usando meus dons, tenho que deixá-los convictos, está além da admiração. Preciso provar pro mundo que Volantis têm poder pra se defender. Sabe que há espias aqui, a informação correrá.
    Lembro-me de ouvir sobre muitos mestiços serem açoitados por grupos conservadores da capital, acusações e o preconceito velado que muitos antigos têm sobre meios sangues. Pobres almas, volan no sangue não apaga sua parcela humana, poder navegar o mar sem fim é um salvamento pra muitos, e um recurso usado de má fé por outros.

    _ Às vezes me pergunto, qual destino seria mais adequado... A proteção que os oferecemos é uma brecha à nossa segurança.
    _ Meu pai já deixou bem claro isso depois do meu nascimento. Sangue volan é sangue volan, não importa se for lilás ou azul. Em parte, ou completamente.
    _ Eu admiro seu posicionamento, mas conhece a oposição que compõe a maioria dos Antigos. Eles estão disseminando seus pensamentos e vão testar seu julgamento.
    _ Acha que devo ceder?
    Ela pergunta num tom zombeteiro, sorrio preocupado.
    _ Eu não sei de nada Lena.
    _ Eu exijo sua opinião
    Aponta sua espada pra mim com o rosto sereno e eu toco no sofá ao meu lado. Ela cai nele e coloca os pés no meu colo. Me solto a dizer.

    _ Uma vez a mamãe me contou uma história sobre um Ser perverso que engolia planetas por simplesmente não encontrar sentido em seu poder. Ele desprezava sua importância, desprezava a vida e a verdade, a morte e mentira. Vivia tomado de capricho e descontentamento.
    _Até que um dia, ele viu um ato que o fez questionar. Uma criança que sofria com a guerra em seu planeta, se suicidou como oferenda á qualquer um dos deuses que existissem, ela mesma não via verdade nas divindades, mas se entregou a sorte. Deu o mais valioso que tinha para que pudesse interferir no sofrimento de sua família.
    _Isso o perturbou, não pelo sofrimento ou inocência da criança, mas pela sua esperança, em tornar um ato absoluto sua solução. Sua vida era insignificante, seus motivos para perdê-la tolos. Então ele a trouxe a vida, invertendo seus papéis, ele como uma criança e ela como um deus. Ela indignada e confusa por estar longe de suas origens, aniquilou a existência de todos os deuses e seres superiores, e na sua inocência, com a sua própria.
    _ Eu vou ser como a criança?
    _ Não, essa história diz que problemas absolutos nem sempre se resolvem com soluções absolutas.
    _ Os mestiços não são um problema absoluto.
    _ Talvez não agora, não sabemos exatamente quantos existem, ou quanto vão existir. Milhares deles que estão dentro das nossas fronteiras, são uma fração mínima dos que conseguiram fugir do mundo que os despreza. Eles têm passagem pro lado de dentro e o de fora, somos responsáveis por isso juntamente com os humanos. Permitimos que nossas espécies se unissem, se amassem num momento de caos.