Warrior Nun - Aos poucos amor...

Capítulo 02

Chegaram com os primeiros raios de sol e a cidade ainda parecia estar despertando, tinha um ar bucólico e encantador, com pequenos prédios e casas de aspecto antigo, bem charmoso na verdade. Mesmo que estivessem em um momento no mínimo complicado, era impossível para Ava deixar de se encantar com aquele lugar. Era uma nova cidade, uma nova experiência e tudo parecia bonito do seu ponto de vista.
- Esse lugar é lindo! – seus olhos brilhavam.
- Realmente é muito bonito, mas agora precisamos encontrar um local para nos instalarmos – pontuou Beatrice de forma objetiva – Vamos pesquisar um pequeno apartamento, não sabemos quanto tempo iremos permanecer. Além disso, chamaríamos menos atenção dando a entender que viemos passar mais dias.
- Certo, eu espero mesmo que a gente encontre algo rápido, eu preciso dormir uns 10 dias seguidos! – Ava pontuou – E qual vai ser nossa "história"?
- Como assim? – Beatrice perguntou sem entender.
- Não me diga que a senhorita precavida não pensou nisso? – brincou Ava – Até eu que estou no mundo há poucas semanas sei como as pessoas são MUITO curiosas, elas sempre querem saber a história de alguém novo. Eu passei por isso algumas vezes quando andava por ai com... ah, deixa pra lá, mas o que importa é que precisamos ter algo para contar caso fiquemos algum tempo por aqui.
- Realmente não havia pensado nisso – A freira falou claramente se cobrando por algo não ter sido planejado.
Ava tocou seu braço e fez uma leve pressão – Ei, não precisa ficar assim, não dá para controlar tudo, é algo simples, quer ver? Podemos ser amigas que estão tirando um ano "sabático" ou...você sabe...- ela pigarreou e parou por alguns instantes de falar, mas logo complementou – acho que a ideia de amigas viajando juntas é ótima. O que acha?
Beatrice havia percebido a rápida hesitação, mas preferiu não comentar, essa possibilidade não existia, nem de forma fantasiosa. Pigarreou e logo respondeu – Sim, é uma ótima opção caso nos demoremos na região. Enquanto você dormia durante um abastecimento eu pesquisei e encontrei um pequeno apartamento que podemos alugar, é justamente para viajantes durante temporadas.
Não acredito que rolou um momento chato entre nós – Pensou Ava – Bea é sempre muito séria e reservada, mas comecei a entender algumas expressões e ela é mais transparente do que gostaria. Não foi minha intenção, jamais julgaria nada, mas a mera possibilidade de nos passarmos por namoradas me fez sentir algo quente no peito, foi rápido e diferente, devem ser todas essas emoções loucas da batalha que tivemos. Sim, com certeza é!
- Ei, Ava, chegamos. Tudo bem? – perguntou a freira – Você pareceu estar longe daqui, não percebeu que paramos.
- Sim, desculpa. Acho que é o cansaço, eu preciso realmente de um banho quente e pelo menos uma noite decente de sono.
A freira assentiu, com uma expressão preocupada. Saiu do carro e se dirigiu à entrada do prédio. Era uma construção pequena, com alguns andares, logo Bea voltou e levamos cada uma sua mochila, basicamente tínhamos alguns itens que compramos pelo caminho e com certeza precisávamos ir às compras.
O apartamento era pequeno, mas muito aconchegante. Tinha cozinha, sala de estar e aparentemente um quarto. Logo que entramos Beatrice começou a falar:
- Infelizmente só haviam opções com um quarto, parece que a cidade está em uma temporada de maior lotação, estão em períodos de férias de algumas faculdades e... - Beatrice começou à falar de forma um pouco desajeitada, algo inédito até então e eu me apressei em interrompê-la:
- Ei, Bea, não precisa se preocupar. Eu achei o lugar super confortável e tem espaço de sobra pra nós duas. Precisava ver onde passei os últimos anos da minha vida, aqui está ótimo e obrigada por cuidar de tudo. – Foi difícil não sorrir um pouco dela enrubescendo.
- Certo, então vamos nos organizar, precisamos dormir e nos recuperar para começarmos seus treinos o quanto antes – Ela começou a se movimentar pelo apartamento tentando se organizar – acredito que hoje podemos tirar o dia para descansar.
Concordei com a sugestão instantaneamente, meu corpo gritava por descanso e não havia halo no mundo que pudesse fazer com me recuperasse de tanto cansaço, mesmo curando meus ferimentos rapidamente, nunca tinha experimentado esse nível de exaustão, eu realmente tinha que treinar muito se quiséssemos enfrentar o que tínhamos pela frente.
Beatrice foi para o banho primeiro e encostei um pouco na cama. Falei pra mim mesma que só iria me recostar uns minutos, quando dei por mim ela estava me acordando com gentileza e eu não estava preparada para aquela cena. Ela estava com uma camiseta preta que parecia ser alguns números maior do que deveria, com calça de moletom também preta, cabelo úmido e, Deus me perdoe (se é que Ele estava mesmo por ai), mas era uma visão de tirar o fôlego. E não sei se pela sonolência, com certeza foi isso, não teve como evitar um pequeno suspiro.
- Acho que você dormiu, eu peguei o que pude encontrar naquela conveniência pra nós – Ela apontou para a mochila com algumas peças de roupa que só agora fui notar.
- Sim, ótimo, vou tomar banho então – acabei falando rápido demais, levantei e fui andando (correndo) para o banheiro. Fechei a porta e me encostei nela, tentando me acalmar um pouco. Esse cansaço está mexendo comigo, só pode ser, toda essa confusão de conhecer o JC, nos aproximarmos e depois passar os últimos dias travando uma batalha contra demônios e um anjo/demônio recém liberto mexeria com qualquer pessoa, super esperado.
Depois do banho, já mais calma e desperta e vestindo também um conjunto confortável de camiseta e shorts, encontrei o quarto com pouca iluminação e Beatrice se organizando para improvisar uma cama no chão e fui logo falando.
- Nada disso, temos uma cama que parece muito confortável e espaçosa. Você deve estar acabada, além de tudo que passou ainda teve que dirigir todas essas horas. Você fica com a cama, podemos dividir.
- Não se preocupe, eu posso ficar no chão – ela falou rapidamente.
- Não Bea, você dorme na cama – peguei sua mão e sai puxando-a para a cama – Sei que você é toda reservada e tudo, mas precisamos de você à 1000% amanhã e fim da discussão.
- Tudo bem, tudo bem. – Ela pareceu vencida, mas ficou parada do lado da cama.
- Certo, eu vou ficar com esse lado aqui – Falei me deitando à esquerda na cama – E você fica aqui. Eu tenho certeza de que vou dormir que nem uma pedra, nem precisa se preocupar, eu não mordo – Não sei porque disse isso, mas parecia que era impossível parar de falar frases sem sentido pra ela.
Ela finalmente se deitou e apagamos as luzes. Em um instante eu estava pegando no sono e no outro já estava em um local escuro, deitada em algo que parecia uma mesa de pedra e já começava a sentir medo por estar sozinha, até que tive um vislumbra de algo, alguém, que parecia estar me esperando e comecei à ir até ela, mas fui puxada subitamente, ficando com uma sensação ruim, de algo que eu não conhecia ainda.
No susto eu percebi que tinha um braço na minha cintura e sua rosto estava tão perto de mim que eu sentia sua respiração no meu pescoço. Aquela sensação fez com que sentisse algo novo, algo que parecia muito com segurança. Ali naquele momento eu tive a impressão de que nada poderia nos alcançar, uma sensação muito diferente do que vinha sentindo todos esses anos. Fiquei pensando que deveria ser assim uma amizade, afinal de contas nunca tinha tido a oportunidade de ter tanta proximidade com alguém. Diego era uma criança e um amigo muito amado, mas não era parecido, JC tinha sido alguém que lhe ajudou também, acolheu e tinha sido interessante beijar pela primeira vez, tocar e ser tocada por alguém, mas naquele instante, com o peso dos braços de Beatrice em sua cintura, com sua respiração calma e rítmica, percebeu que era algo diferente e se deu ao luxo de não analisar naquele momento e deixar aquela sensação quente em seu peito a embalar para um sono tranquilo.

Imagem da capa: @byshivu