Bomba

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Acordo enjoada ao sentir o cheiro do chá de maçã, o relógio já marca às 6:30 e por mais que eu adoraria poder dormir por mais 10 anos não posso burlar as regras da casa.Me levanto e vou ao banheiro, tomo meu banho morno , coloco o vestido longo amarelo simples e faço uma trança no cabelo, outra regra da casa : eu não posso vestir outra roupa que não seja um vestido longo.Vou para a sala de jantar onde está servindo o café da manhã onde estão meus pais com meu irmão, Andy.
-Bom Dia ! - digo.
Meu pai sem tirar os olhos do jornal da um aceno e os outros não ligam muito. Sou a irmã mais nova de dois irmãos em ordem é: Matt, Andy e eu. Uma garota única. Não Introduzido. A "mais amada".
-Meu aniversário está chegando...- aviso ao meu pai para relembrar.
Faltam exatos 10 dias.
-Você quer um parabéns adiantado ? - Andy ri debochando de mim. Dou um sorriso falso.
-Você terá sua festa, mocinha ! - meu pai afirma.
-Não estou preocupado com isso, é só que...- dou uma sensação breve para todos que honestamente não parecem muito interessados ​​na conversa. - serei maior de idade e...
Não consegui terminar de falar, pois o celular tocou pegando todos de surpresa.
-Ah, olhe! É o Matt - minha mãe afirmou com um sorriso de orelha a orelha.
Quando nasci, Matt já tinha 10 anos e não tinha muita proximidade já que com 16 anos ele ganhou uma bolsa de estudos em outra cidade por ser "o cérebro nerd" e foi estudar em uma escola de boa credibilidade. Depois acabou ficando por lá e se arranjou em direito, agora ele é promotor e tem sua família.
Minha mãe o admira muito e não esconde o fato dele ser seu filho favorito.
-Bem, estou de saída - meu pai exclama.
E assim como ele, meu irmão também se vai.
-Ei, Charlotte- minha mãe me chama ainda com o celular na mão - você fará o almoço hoje, tenho reunião das mulheres do bairro daqui um pouco.
Reviro meus olhos e ela me repreende com um olhar severo. É claro que eu terei que assumir o papel de dona de casa e eu odeio isso!
Viver em uma casa patriarcal é um pesadelo, desde criança fui educada para ser uma boa esposa. Me ensinaram a costurar, cozinhar, passar, lavar, limpar e até mesmo a educar um filho, enquanto meus irmãos estavam em seus quartos estudando para se tornarem alguém importante na vida. Eu nunca aceitei esse papel que me deram e sempre fui desprezado, em especial pela minha mãe, por ir contra suas vontades. Além do mais já não bastando isso, meus pais são extremamente conservadores e me privam de quase tudo, nunca pude ir na casa de amigas, quando saía tinha que voltar às 20h, calça jeans ? Nem nos meus sonhos, pois isso é coisa de "menino", não posso me aproximar de garotos e isso vale também para os meus irmãos e diversas coisas que me fazem pensar se não estou em uma das prisões mais diversas do mundo.
-O filho do senhor Connor está de volta a cidade - Magda, a senhora que trabalha aqui em casa, anuncia - pobrezinho deve estar sofrendo com a morte do pai.
O senhor Connor faleceu há uns 15 dias atrás, toda a cidade ficou muito triste, ele era um homem nascido e ajudava as famílias necessitadas.
Era também o homem mais rico da nossa cidade.
-Ah, não sabia! - digo, mas isso não é novidade eu não saber das coisas da cidade já que o único lugar que sabia das fofocas era na escola, porém terminei o ano letivo ano passado e agora só vivo enfornada dentro dessa casa.
-Estão falando pela cidade que ele veio para ver como vai ficar o testamento - ela fala baixo.
-Que sortudo ! Terá a sorte toda para ele, já que é filho único - minha mãe diz parecendo meio perdida em seus pensamentos.
De fato o dinheiro provavelmente será uma quantia muito significativa até porque o senhor Connor era empresário.
Isso me preocupa, Eliott é amigo de Andy e os dois sempre preferem se divertir do que negócios sérios. Eles eram populares na escola, eu mesma era conhecida por "irmã do Andy", ele era o galanteador, fanfarrão e um dos mais bonitos de lá.
Isso eu tenho que concordar, meu irmão é realmente muito lindo, seu cabelo preto, seu maxilar marcado, os olhos de tons azuis esverdeados e a boca avermelhada faz com que ele seja o mais bonito da família. Porém ele foi desprovido de inteligência, sempre ficava abaixo das médias e por sorte tinha boa lábia e sempre se safava, certo dia o chamei de burro e meu pai o defendu dizendo que ele era mais inteligente que eu apenas por ter nascido homem.
Eu nunca desejei tanto cometer um homicídio, como quis naquele dia.
-Bem - minha mãe limpa suas mãos no avental - preciso que você vá a feira comprar as coisas que estão nesta lista aqui. - ela disse almejava um papel em minha direção, confesso que me surpreendi.
-Você está pedindo para mim ir ? - arqueio as sobrancelhas.
-Ora, sim! - ela esbraveja.
Isso é algum tipo de armadilha ? Até onde me lembro, eu não posso sair de casa. Claro que eu saio para ir ao colégio, mas já me formei.
-Hã...- a olho desconfiada e já esperando ela dizer que estava caçoando de mim, no entanto ela não faz nada além de me olhar com cara questionadora - ok, estou indo!
Sai o mais rápido possível, com medo dela mudar de opinião, e sigo em direção a feira que não ficava muito longe de casa.
Na verdade nenhum lugar daqui da cidade é tão longe, a começar pelo fato de ser minúsculo e ter menos de dez mil moradores, tudo era perto e todos sabiam de tudo.
Assim que chego na praça, vejo as barracas expostas e começo a procurar pelas coisas que estavam na lista. Quando estou voltando para casa encontro no caminho, Ingrid, uma colega que estudou comigo e todos conversaram ela como "rádio", pois ela sabia de todas as fofocas das pessoas. Torci para que ela não me visse, mas...
-Olha só quem é ! - ela corre em minha direção - Charlotte, como vai ?
-Olá, Ingrid - um cumprimento.
Peço a Deus que seja somente isso, no entanto ela vem para o meu lado enquanto caminha comigo.
-Soube que Eliott está pela cidade, você sabia disso ?
Finjo não saber da novidade que circula literalmente pela cidade inteira, ouvi muitos comentando enquanto comprava as verduras.
-Ah, sério? Não sabia! - levo minha mão na boca.
Ela ri e da um tapinha no meu ombro.
-Claro que não sabia ! Mas enfim, você acha que ele já tem algum pretendente ? Digo, agora que está adulto já deve pensar no casamento, né ?
Aqui em Arvid, quando o homem termina a faculdade, ele se torna um "adulto" e assim que consegue seu emprego, ele deve se casar imediatamente. Por mais que Eliott estudou fora e se formou há um certo tempo, ele não arrumou um trabalho, não por que era incapaz ou algo do tipo, ele aproveitou para fazer viagens pelo mundo, visitar barcos e transar com desconhecidos - segundo meu irmão.
-Provavelmente não está pensando nisso, afinal...é o Eliott ! O cara mais mulherengo que já pisou nessa terra.
-Isso é passado - Ingrid declarou - agora ele será um homem de negócios, um cara sério que obviamente tem que ter uma esposa ao seu lado !
-Homem de negócios? O que quer dizer com isso?
-Ora, bola! Eliott assume a empresa do pai - ela deu de ombros.
-C-como assim ? - quase engasgo com minha saliva.
-Quem você esperava que assumisse a empresa da família ? - ela revira os olhos.
-Sei lá, alguém com responsabilidade - digo - talvez o secretário que sempre estava com o senhor Connor, mas Eliott ? Isso será uma decadência!
Logo o filho irresponsável, pobre senhor Connor!
-Não seja maldosa, Charlotte! Eu acredito que ele será um bom empresário e fará muitas coisas boas. Você só está com inveja, ele agora pode escolher qualquer garota para ser sua esposa e com certeza não será você!
Eu gargalho.
-E você acha que eu estou interessada nisso ? Vocês que lutam entrem si para conquistar um homem que trocará a mulher por qualquer e bebida!
-Isso importa para você ?
-Claro que sim ! -declaro-você quer estar com alguem que te trai ?
-No final das contas serei eu quem estará ao lado dele toda noite - ela declara.
Ah, tenha santa paciência! Como uma mulher pode dizer um absurdo desses?
Ingrid nunca bateu bem da cabeça mesmo, não sei por que estou surpresa com isso.
-De qualquer forma, já sei que você não será uma das minhas concorrentes ! - ela me olha de cima a baixo - vou deixar você ir, confesso que fiquei supresa em vê-la andando sozinha, acho que na cadeia eles estão flexibilizando mais as regras.
Ela me deu um tchau com a mão e saio saltitando.
Ah, que cobra cascavel !
No final do dia minha mãe preparou o jantar e a noite quando meu pai chegou do trabalho, nos sentamos todos reunidos e como uma família feliz e nada problemático. Assim que todos terminaram, fui assumir minha tarefa: lavar os pratos e recostar tudo da mesa. Quando terminei, subi em direção ao meu quarto e assim que passo pelo corredor do quarto de meus pais, ouço uma conversa que me fez parar imediatamente.
-E você acha que isso está certo ? - Andy questionou.
-Sim, o senhor Augusto é um homem bom e dará uma vida de muita riqueza a ela- Declarou minha mãe.
-Nós estamos falando da mesma pessoa ? Ele é muito mais velho e ela com certeza não aprovará esse casamento.
-O que você tem haver com isso ? - minha mãe agora aumentou a voz para meu irmão.
-Eu só não quero ver minha irmã se casando com um homem nojento como o senhor Augusto, todos sabem que ele é estranho e tem até boatos que ele quem matou a ex esposa!
O que?
Sinto meu corpo todo paralisar, que porcaria Andy acabou de dizer ? Eu me casar com o fazendeiro Augusto ? Ele tem idade suficiente para ser meu avô e eu odeio aquele cara, ele é super machista e nojento !
-Que absurdo você acabou de dizer ? - digo assim que me encosta na porta. - eu não vou me casar com aquele velho nojento !
Andy parece surpreso ao ver e minha mãe dá de ombros.
-Como eu disse, mamãe! Lottie não irá aceitar isso e eu também não! - meu irmão declara.
-Isso não está em negociação. Já está decidido! - minha mãe afirma.
Saio de lá e desço correndo as escadas indo a sala, onde meu pai assista seu jornal.
-Papai - ele não me olha com uma boa cara, pois interrompi seu "momento lazer" - minha mãe está dizendo coisas absurdas...
Tem um nó na minha garganta e estou me beliscando discretamente desejando que isso seja apenas um pesadelo.
-Ela está falando que eu vou me casar com o senhor Augusto !
Minha mãe desce as escadas da maneira triunfal que ela faz, ela consegue parecer uma rainha. Mas uma rainha fria e insensível.
-Você não deveria incomodar seu pai - ela diz como se o assunto não fosse nem um pouco importante - vá para o seu quarto, Charlotte!
-Isso é verdade, pai? - o encaro.
Ele não diz nada por alguns segundos e então limpa a garganta.
-Sim, Charlote. Como você sabe, estamos passando por aperto financeiro e este casamento vai nos dar um bom dote.
-Você acha que eu sou um objeto que pode ser vendido para salvar vocês da própria incompetência?
-Essa é sua função na sociedade, Charlotte - minha mãe agora aumentou o tom e diz firme - se casar e gerar filhos, dê preferência homens para não ter dor de cabeça como tenho com você.
Minha mãe sempre me desprezou por eu ser menina, porque quando nasci meu pai se virou contra ela e chamou de inútil. Ele passou meses sem falar com ela e sozinha, ela tinha que descontar a raiva em alguém...
-Vocês estão me atrapalhando- meu pai esbraveja - eu não ligo para nada disso desde que isso nos ajuda financeiramente, eu não tenho nada a reclamar .
-PAI! - eu grito - eu sou sua filha, você está me posicionando para se casar com um cara mais velho, até mesmo que o senhor!
Eu me ajoelho em frente ao meu pai, estou desesperada, sinto medo e pânico interno é maior que nem ligo se pareço estar me humilhando.
-Por favor, pai! Não faça isso comigo.
A única coisa que ganho em troca é uma mão pesada de meu querido pai em meu rosto, caio no chão com a força do tapa, atônita, sem entender por 2 segundos o que acabou de me ocorrer.
Eu...simplesmente...não consigo acreditar.
Ele sai do cômodo pisando firme as escadas, posso ouvi-lo bufando de raiva, minha esquerda preocupada está latejando de dor, não consigo me levantar e por mais que desejo chorar, não faço isso. Eu seguro as lágrimas, como fazia quando ouvia meus pais brigavam quando criança.
-Você teve o que merecia - não ouso olhar para o rosto de minha mãe, mas sei que ela está triunfante. Meu pai se tornou contra o protegido dele, ele que sempre me protegeu, de forma sufocante e nada saudável, porém não me desprezava igual a minha mãe. - você é uma vergonha para família, Charlotte.
Ouço ela subir as escadas e fico sozinha no escuro da sala.
Fico ali imóvel por 5,10,20 minutos, uma raiva que sinto dentro de mim é terrível. felizmente olho para a frente e penso em algo mais sano que se passou em minha mente, mesmo que isso me faz burlar as regras toscas da casa, sem pensar duas vezes abro a porta rapidamente e corro. Simplesmente corro sem destino, como um cão perdido ou no meu caso, uma prisioneira fugitiva, meus pés doem com as pedras que piso, estou descalça, com um vestido de "ficar casa", com o cabelo bagunçado e um coração batendo a mil.
Cogito em voltar e fingir que nada aconteceu, mas não quero isso, então vou a um lugar tranquilo que me acalmará: o jardim botânico. Ele fica na escola que Andy estudou, a melhor escola da cidade, que infelizmente não foi a minha.
Assim que chego, posso me sentir mais leve, o lugar está iluminado pela claridade da lua e me sento no banquinho que fica ao redor do arco de flores, olhando as estrelas começo a rir feito louca, depois grito o que queria gritar com minha mãe e com meu pai e quando a êxtase em meu corpo algum, consigo me sentir melhor. Respiro fundo, aliviada, e ao virar para o lado percebo que não estou sozinha.
Há quanto tempo ele está aqui?

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