Cada pessoa lida com o luto de maneira diferente, isso é a maior verdade e a prova disso é a sala da minha antiga casa a qual observo atentamente cada pessoa que passa por aqui. Algumas se despedaçam, outras têm uma frieza no olhar e algumas talvez só vieram para dizer que veio. Meu pai não era tão rico ou uma pessoa conhecida pela cidade, mas era do exército, o qual atuou por anos e aos poucos foi subindo de patente, as pessoas o conhecem por isso. Porém e quanto a sua família? Como os meus irmãos, minha mãe e meus tios que aqui estão o conheciam?Bem essa pergunta eu posso responder dizendo que meu pai não era o melhor pai do mundo, mas depois que minha mãe praticamente virou as costas para mim, foi nele que me agarrei. Ele nunca me disse um eu te amo, no entanto dizem que um "eu te amo" pode vir de gestos e se isso for verdade então ele me disse as belas palavras quando comprava meu doce favorito quando passava no mercado, quando me mostrava algo interessante no jornal que lia toda manhã, quando me defendia de minha mãe ou mesmo que não parecendo queria me proteger. Eu lembro disso, de tudo isso, mas será por que não estou triste pela sua morte? Por que nesse momento pareço como minha mãe que está petrificada sem derramar se quer uma lágrima?
Ah, sim...porque quando eu estava caída no chão dessa mesma sala depois de ele ter me dado um tapa, ou melhor, por ter me vendido para um homem muito mais velho que eu, eu percebi que ele não era tão diferente da minha mãe. Naquele dia a admiração que tinha por ele se apagou como a vida dele, hoje...
Então, as palavras de consolo que essas pessoas estão me dando não me reconforta em nada, nem mesmo a imagem do herói que tinha quando criança.
-Charlotte, você deveria ajudar Margareth na cozinha - Matt, meu irmão mais velho, disse.
O olhei friamente.
-Eu estou muito bem aqui, por que você não vai? - o questiono.
Se ele quer alguém ajudando a esposa, por que não ele?
-Quem você pensa que é para falar assim comigo, garotinha? - ele se zanga.
-Sua esposa que aceita tudo calada que não!
Nesse momento ele partiu para cima de mim com a mão levantada para me bater, eu recuei fechando o olho, implorando por aquela dor para poder chorar e sentir alguma emoção, não esse vazio, mas quando abri meus olhos, Eliott estava em minha frente segurando a mão estendida no ar de meu irmão.
-Se você encostar um dedo na minha mulher, eu acabo com você! Não duvide disso - ele o olhava com tanto ódio e quando Eliott soltou Matt, seu braço estava vermelho e marcado com as unhas dele.
Não acho que Matt duvidaria que Eliott acabaria com ele, pois olhando a estrutura corporal dos dois, meu irmão magrelo com aparência fraca e Eliott musculoso é de se esperar sua expressão de medo.
Minha mãe olhava para aquela cena com certo ânimo, talvez pelo entretenimento nesse funeral tão mórbido. Eliott me puxou para fora da sala de jantar e fomos para o quintal.
-Você ia deixar ele te bater? - ele me olha incrédulo.
-Não sei - fixo meus olhos na paisagem.
-Charlotte, eu entendo que você não está bem, seu pai acabou de morrer e você está triste com isso, eu...
-Eu não estou triste com isso, nem feliz, na verdade eu não sinto nada. - balanço a cabeça tentando evitar as lágrimas que formavam em meus olhos.
Eliott coloca suas mãos em meu ombro fazendo eu o olhar.
-Isso é normal, Charlotte. Talvez ainda não caiu a ficha para você, está tudo bem quanto a isso. Não se cobre por não estar triste.
-Obrigada - ele lançou seu sorriso angelical enquanto seus olhos verdes estavam fixos ao meu. - por isso e por ter impedido meu irmão de me bater.
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Casamento Arranjado
RomanceCharlotte Smith, é uma garota que nasceu e cresceu em um lar totalmente patriarcal onde foi ensinada que o papel da mulher é ser uma boa esposa, excelente mãe e magnífica dona de casa. Apesar disso, a jovem nunca aceitou 100% esse "destino" que a so...