Manual do Amor - Volume II [DEGUSTAÇÃO]

Capítulo 1 - Beatriz

Beatriz acordou sobressaltada por causa do despertador. Droga! Era sábado e ela tinha se esquecido de novo de desativá-lo de seu celular. Desligou o toque insistente e pensou até em se entregar ao sono outra vez, mas sabia que não conseguiria. Então, adiou o plano de dormir um pouco mais para o dia seguinte.

De um súbito, sua mente trouxe à tona o resumo da noite anterior: boate, muita bebida e sexo casual. Essa combinação tinha virado quase uma rotina na vida dela desde que começou a morar em Sidney para fazer o mestrado. Costumava justificar esse comportamento para si mesma e para Joyce - quando a amiga a censurava - como uma maneira de liberar o estresse dos estudos. Entretanto, essa conduta foi um dos efeitos que o fim do romance com Helena tinha lhe causado.

Depois de apertar as têmporas com os dedos, ela se virou, pondo o braço no outro lado da cama. Encontrou apenas o lençol amassado. Será que ela já foi embora? Para espantar o sono de vez, espreguiçou-se devagar, esfregando os olhos com os dedos. Por fim, levantou-se. Encontrava-se completamente nua e, por isso, antes de sair do quarto, vestiu-se com seu robe de seda branco, que jazia no cabide ao lado.

Na cozinha, pegou-se cara a cara com a mulher que conhecera na noite anterior. Ela tinha os cabelos platinados, que estavam amarrados desajeitadamente em um coque no topo da cabeça, era alta e bem magra. Beatriz lembrou que, ao conhecê-la na boate, tinha achado que talvez ela fosse modelo. Mas não havia perdido tempo em confirmar, pois não tinha interesse em saber o que a mulher fazia da vida.

No momento em que lhe encarou os grandes olhos verdes, Beatriz recordou-se que tinha pensado em Helena outra vez na noite anterior, enquanto a boca da mulher estava encaixada entre suas pernas. O verde dos olhos de ambas as mulheres era do mesmo tom.

Ao ver Beatriz, a mulher, que fazia café naquele momento, abriu um sorriso, desejou bom dia e disse:

- Desculpa invadir sua cozinha assim, mas é que preciso de café logo que acordo.

- Tudo bem. Também sou assim. Posso ajudar em alguma coisa? - Beatriz perguntou vendo que a mulher já estava familiarizada com sua cozinha.

- Está tudo sob controle. Pode se sentar. Fiz waffles, não sei se você gosta.

Beatriz respondeu sentando-se à mesa:

- Gosto. Obrigada...

Pelo tom, a mulher percebeu que Beatriz não se lembrava do seu nome e ajudou:

- Samantha.

- Samantha. Desculpa, eu...

- Não precisa se desculpar. Essas coisas acontecem. - Samantha abriu outro sorriso, colocando uma xícara na mesa, de frente para Beatriz.

A frase de Samantha não fez Beatriz se sentir melhor, porque fazer sexo casual bêbada com mulheres desconhecidas não era algo do qual ela se orgulhava. Apesar disso, desde Helena, ela não se envolvia com a mesma pessoa por mais de três vezes. Embora já tivesse se passado três anos desde a última conversa com a ex-professora, Beatriz não queria de forma alguma criar vínculos com alguém. Julgava que assim evitaria se machucar de novo.

Começaram a comer em silêncio. Na verdade, Beatriz não sabia o que falar. Não conhecia nada sobre aquela mulher e nem tinha interesse de conhecer. A única coisa que sabia era que ela era inglesa. Não por que a mulher havia lhe dito, mas por causa do sotaque dela. Num dado momento, Samantha pôs o olhar verdejante em cima de Beatriz e, de repente, ela ouviu a voz de Joyce na sua mente: Você precisa resolver seu passado, Bia. Você fica procurando a Helena em todas essas mulheres com quem se envolve!

Apesar de sempre negar quando a amiga lhe dizia isso, Beatriz sabia que era verdade. Todas as mulheres com as quais se envolveu nos últimos três anos tinham alguma característica de Helena. Ou tinham olhos verdes, ou cabelos curtos pretos, ou tinham a mesma altura, ou o mesmo formato de corpo, ou até mesmo igual profissão. Lembrou-se de uma vez que, logo que veio morar em Sidney, ela se envolveu com uma mulher, pela qual sentiu pouca atração, só por que ela era professora universitária do curso de Direito.