Manual do Amor - Volume II [DEGUSTAÇÃO]

Capítulo 2 - Helena

Após uma tarde exaustiva de trabalho, Helena resolveu ir a um barzinho recém-inaugurado, que se localizava próximo ao escritório. Embora ainda tivesse que corrigir muitas provas da faculdade, ela sentiu necessidade de uma bebida forte antes de ir para casa. Deixaria a correção para o dia seguinte, mesmo sendo sábado.

Como tinha acabado de abrir, o bar ainda estava vazio. Era um local pequeno e um pouco escuro, mas muito aconchegante. Lembrava muito os pubs ingleses. Ela já tinha ido lá com alguns advogados do escritório. Gostou muito do local, por causa da música e por que era frequentado geralmente por pessoas da sua faixa etária.

Já que estava sozinha naquele dia, preferiu sentar-se no balcão do bar em vez de pegar uma mesa. Pediu um uísque duplo com gelo, bebida que aprendeu a apreciar nos últimos anos. Depois que o garçom lhe entregou o copo, ela deu um grande gole na bebida que desceu esquentando seu corpo. Nesse momento, prestou atenção na música que iniciava: Let's do it, na voz de Ella Fitzgerald. No momento em que a voz doce de Ella cantou 'Let's do it, let's fall in love', Helena bufou, revirando os olhos, e depois disse para si mesma com a voz baixinha:

— 'Vamos nos apaixonar...'. Não vale à pena, Ella. Fica lindo só em música.

Mais uma vez não conseguiu não pensar em Beatriz. Mesmo tendo passado três anos, a ex-aluna ainda dominava seus pensamentos mais do que ela gostaria. Por alguns minutos, lembrou-se de momentos de felicidade que passou ao lado dela. Helena somente teve certeza absoluta de que era realmente feliz ao lado da garota, quando o romance terminou. Desde a morte do filho, ela apenas sobrevivia. Entretanto, Beatriz lhe trouxera a vivacidade novamente. Helena se lembrou de que não teve tanta alegria e vontade de viver quanto nos momentos em que esteve com ela.

Enquanto tomava outro longo gole do uísque, sua mente viajou até aos meses seguintes ao fim da relação. Lembrou que se sentiu tão devastada, que cogitou até em parar de lecionar. Inclusive, chegou a pedir demissão da universidade, no entanto, Virgínia a impediu de continuar com essa ideia desatinada.

Então, acabou ocupando a mente o máximo que pode. Adiantou a escrita de mais um livro e prospectou muitos clientes para o escritório. Além disso, durante meses, lutou consigo mesma para não procurar por Beatriz, ajoelhar-se a seus pés e pedir para que ela voltasse para sua vida. Mas sabia que não era justo com a jovem mulher.

Seu casamento com Victor permaneceu a base de aparências. Ainda não tinha conseguido se livrar dele. No entanto, a constância das viagens dele tinha aumentado, o que a deixava bastante aliviada. Quanto menos o visse, melhor para ela. Apesar disso, sempre que via oportunidade, ele demonstrava seu desejo pela esposa. Aliás, em algumas ocasiões, chegou ao ponto de pedir a ela outro filho. Dizia que se Helena lhe desse outro herdeiro, o casamento voltaria a ser como nos primeiros anos. Por sua vez, Helena mudava de assunto, perguntando quando ele lhe daria o dossiê com as provas contra ela. "Você não vai desistir nunca, minha querida? Quem sabe se você me der outro filho, eu queime o dossiê! "era o que ele sempre dizia antes de deixar o ambiente. E, assim, a raiva e o nojo que Helena sentia pelo marido aumentavam cada vez mais.

Depois da conversa definitiva com Beatriz, ela não se envolveu com ninguém por quase um ano. Queria se curar da ex-monitora. Entretanto, ao perceber que não seria tão fácil esquecê-la, voltou a se relacionar casualmente com mulheres. Voltou a ser a antiga Helena, que queria apenas sexo sem qualquer envolvimento. A diferença é que, depois de Beatriz, ela evitou se envolver com suas alunas.

Depois de dar o último gole no segundo copo de uísque, Helena verificou o relógio de pulso e se assustou com a hora. Sem que ela percebesse, tinha transcorrido um pouco mais de uma hora desde que chegou ao bar. Olhou ao redor e viu que já tinha algumas mesas ocupadas. Ficou alguns segundos decidindo se pedia mais uma dose ou se ia embora. No momento em que levantou a mão para o garçom e pediu a conta, uma mulher se sentou no banco vizinho ao dela e disse: