Capítulo 20 (Revisado)

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▪︎• O que houve, meu amor?

Passar o dia sozinho não adiantou muito para o Moreno, afinal ele não conseguia pensar em muitas coisas que não tinha ligação com o laço, se distrair então havia se tornado aos poucos impossível, coisa que deixava ele atordoado afinal ele costumava ter milhares de coisas na cabeça, era um espião e tinha que passar tudo para seu amigo no fim do dia.

Mas agora ele estava sozinho, não tinha que falar com Rhysand mas com Lucien. Não tinha que explicar as coisas para o seu amigo mas para o seu parceiro... deuses, a cabeça de Azriel estava uma grande confusão e ele não ligava se seu parceiro estava sentindo as vibrações ou não, ele só estava se afundando em pensamentos sobre o laço, sobre ser rejeitado, sobre como lidar com a rejeição, sobre todos os defeitos internos e externos que ele tinha... ele era tão imperfeito perto de Lucien, ele não chegaria jamais aos pés do ruivo e Azriel se sentia tão horrível perto da doce Elain, pq tudo sempre tinha que ser tão difícil? Era isso que ele se perguntava quando se deitou na cama e se encolheu.

Queria ser outra pessoa naquele momento, queria mesmo. Ele queria ser Elain para receber os olhares de amor do seu parceiro, ele queria ser uma borboleta para não ter que se preocupar com o laço, ele queria então ser A pessoa certa e respeitável que Lucien merecia.
Ele se sentia tão sujo, já havia matado tanta gente, já havia feito coisas tão horríveis para sobreviver...

Sobreviver... Azriel nunca fez coisas por prazer e sim por sobrevivência, para aqueles que ele amava pudessem sobreviver em um mundo melhor assim como ele. Apenas isso.

Mas aquilo não ajudava em nada o Encantador de sombras que não percebeu quando suas amigas envolveram todo o cômodo que ele estava, cuidando e protegendo ele de qualquer ataque que pudesse sofrer.

O Moreno não viu as horas passarem, estava submerso demais em si mesmo para perceber que o sol já havia ido embora e agora a lua estava no seu ápice no céu noturno, ele também não percebeu quando Lucien entrou no local, ultrapassando a barreira e o abraçando.

O Herdeiro da Corte Diurna, apesar de passar o dia todo na companhia do seu pai, sendo mimado de mil formas diferentes, sempre sentia o laço estremecer, ele sentia a agonia do seu parceiro, ele não sabia qual era a fonte mas tentava ajudar como podia.

O ruivo não sabia ao certo como chegou ali, muito provavelmente foi o instinto falando mais alto novamente.

O que importa é que Lucien abraçava seu parceiro, acariciando o braço dele e cantarolando uma canção antiga da Corte Diurna, esperava que aquilo acalmasse Azriel, que trouxesse o homem de volta para si.

- O que houve meu amor?- o mais novo sussurrou, seus dedos agora se afundando no cabelo escuro, para fazer um leve cafuné.

Mas antes que ele pudesse perceber, o Herdeiro também se deixou levar por pensamentos, influenciado em certa parte pela confusão que o homem em seus braços estava sentindo.
Lucien diferente de Azriel se afundou em memórias do que havia acontecido horas mais cedo, havia se aberto com o seu pai e o seu pai havia se aberto com ele.
Segredos foram ditos... e corações foram acolhidos. Lucien tinha pensado que agora tudo estava nos trilhos, até sentir o laço estremecer novamente.

Helion e Lucien estavam regando devidamente as flores, estavam alegres e comentando sobre coisas banais segundos antes, agora eles estavam em um confortável silêncio mas Lucien, como o bom curioso que era, falou o que estava precisando dizer a boas décadas.

- Aramina é minha mãe... não é?- perguntou de forma descontraída, pegando seu pai de surpresa.

Helion olhou para o filho, ele sabia que seu menino era inteligente mas não sabia o quanto até aquele momento... ele tinha deixado algo escapar? O que..?

- Desculpe meu filho, como?- Perguntou confuso ainda.

- Aramina é minha mãe, não é? Acho que soube disso no dia que você e Zulih discutiram, apenas não vi oportunidade para conversar com você sobre isso, até agora.- o ruivo explicou terminando de regar a sua parte das plantas.

- Bem... eu...- Sem palavras, o Grão-senhor da Corte Diurna não tinha nada a dizer.

- Eu sei que você escondeu pelo meu bem... sei que é um segredo seu e dela, está tudo bem sabe?... estava esperando o senhor me contar mas já fazendo uns 300 anos ou mais e... eu achei que agora seria um bom momento.- Deu de ombros, batendo suas mãos uma na outra para tirar qualquer sujeira grosseira que estivesse grudada nelas.

- Eu... sendo sincero, nunca vou estaria pronto para compartilhar isso com você se você não tivesse dado início a essa conversa mas... sim, Ela é sua mãe.- Helion suspirou fundo e se sentou na grama.- Venha, vou contar uma história para você.

A raposa se sentou ao lado de seu pai, olhando para o mais velho com expectativa de entender melhor os motivos de sua mãe.

- Eu já havia visto ela em bailes antes, entende? Eu já havia admirado ela e observado ela, sabia que ela era a minha parceira mas nunca contei isso para ninguém, nem mesmo para a minha amiga mais próxima. Enfim... um dia, Beron veio com ela até minha Corte para negociarmos, no fim deu tudo certo mas nos cinco dias que eles ficaram... ela se apaixonou por mim.
No primeiro dia demos um baile e eu dancei e conversei com ela. No segundo já estávamos rindo pelos corredores. No terceiro ela já estava conseguindo fugir para ir ao meu quarto falar de livros... no quarto e quinto além dela escapar também estava olhando mais para mim.

Respirou fundo, tomando o fôlego necessário, tentando não chorar na frente do filho.

- Eu me sentia tão completo com um único olhar dela... infelizmente ela não sabia do laço, ela não sentiu, eu não entendi o pq dela não sentir afinal é uma parceria. Depois fui pesquisar e muitas vezes um dos lados reprime tanto o laço dentro de si que ele acaba... desaparecendo, digamos assim.

O Moreno se deitou na grama, olhando para o céu antes de continuar.

- Dói pensar na sua mãe, meu filho mas não dói olhar para você, você é fruto de duas pessoas que foram felizes juntas e que seriam felizes se tivessem continuado se encontrando.

- e é assim que eu entrou na outra parte da história, muito bem, eles foram embora depois dos 5 dias mas eu e sua mãe ainda trocávamos algumas cartas, sempre curtas para serem fáceis de queimar, sempre as escondidas mas ainda sim eram cartas.

- Um dia, ela percebeu que conseguiria fugir algumas vezes para vir me ver, aos poucos ela ficava cada vez melhor em fugir com a ajuda de Ren.

E foi aí que Lucien foi pego de surpresa, Ren era amiga de sua mãe? Como assim?
Não fazia sentido, ou fazia?

- Sim... Ren era a melhor amiga de sua mãe, ela tambem veio logo depois de você, já nos conhecíamos e ela pediu para ficar aqui para poder levar informações sobre a sua criação para Aramina... eu não consegui não deixar, que mãe nao iria querer ver o desenvolvimento do filho? Mesmo que pelos olhos de outra pessoa.

Helion se virou para o menino ruivo e acariciou seus cabelos com delicadeza. O mais velho estava se lembrando de todos os momentos que teve sua amada em seus braços... Os curtos momentos.

- já estávamos nos encontrando a meses quando ela parou de vim, neste estágio já estávamos apaixonados, já tínhamos feito coisas que você só faz com pessoas que você ama. Eu brilhei tantas vezes com ela que já não era mais algo novo, mas mesmo assim ela sempre sorria, tocava a minha pele e beijava meus lábios.

Uma lágrima solitária escorreu pelo rosto do mais velho, aquilo não era fácil para nenhum dos dois mas Lucien estava tentando se manter o mais calmo possível para apoiar o pai.

- você não é fruto de uma traição, Lucien. Você é fruto de um amor, do amor mais puro que essa Corte já viu. Acredite em mim... e peço desculpas se demorei tanto para te contar... é só muito difícil.

O Moreno tratou de limpar a lágrima em seu rosto antes de continuar.

- Espero que você nunca saiba como é, perder seu grande amor, espero mesmo meu filho, pq amor é a coisa mais preciosa que temos.

Tarde de mais... Lucien já havia perdido seu grande amor.

Papai HelionOnde histórias criam vida. Descubra agora