A garagem de Kim Jongdae

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Aecha o oferece um sorriso triste. Kyungsoo tende a ficar sensível com mudanças e ela entende. Quando o marido voltou da guerra e eles tiveram o filho, costumavam ter uma vida mais feliz, ela acredita. Moraram numa casa bem ventilada e com um jardim bonito que ela cuidava toda manhã depois de deixar Kyungsoo no colégio. Kyungsoo não deve se lembrar, ele tinha apenas três anos, ela pensa. Mas eram felizes. Até os pesadelos começarem. Até Minjun, seu marido, decidir se mudar pela primeira vez, querendo fugir do que o assombrava em sua cabeça, das memórias da guerra, das pessoas que matou, dos amigos que morreram. E Aecha não se importou no começo. Esteve ali com ele, o apoiando e dando a mão todas as noites quando ele acordava gritando, completamente suado. Mas as coisas pioraram mais quando Minjun teve um caso com uma enfermeira do exército. Aecha ainda lembra da sensação do papel em mãos quando o encontrou lavando o uniforme do marido. A letra bonita e delicada convidando o marido para um motelzinho beira de estrada.

Kyungsoo não sabe disso. Tinha oito.

Aecha esperou que fosse para o colégio para conversar com o marido.

Chorou.

Minjun prometeu que se mudariam de cidade de novo, que aquilo não aconteceria mais, que seriam felizes. Disse que ela não tinha condições de criar o filho sozinha, que Kyungsoo precisava de uma figura paterna para ser homem.

Escuta a porta da sala abrindo e levanta num pulo.

— Seu pai chegou, vamos jantar — segura a mão do filho e o puxa para fora da cama.

[...]

— Então é aquele o pirralho? — Baekhyun pergunta deixando algumas moedas no caixa da loja de conveniência.

Ele tem uma raspadinha de cereja nas mãos. Jongdae escolhe o mesmo sabor e Jongin pega o de maçã verde. São dez da noite de uma segunda, Jongin sabe que o pai vai estar no sofá da sala o esperando com um jornal enrolado na mão para bater em suas pernas no segundo que entrar em casa. Não está autorizado a ficar fora tão tarde nos dias da semana. Mas ele nunca liga. E sabe que não vai voltar tão cedo pra casa.

É diferente para Baekhyun e Jongdae. Baekhyun não gosta de falar muito sobre a família, Jongin acha que é porque ele tem vergonha de mostrar o quão carinhoso é com eles. Uma vez o viu se despedindo da mãe com um beijo na testa e um "te amo" bem baixinho antes de entrar no carro. A família dele não liga muito pro horário que ele chega em casa desde que chegue bem. Deve ser porque ele já é maior de idade, sabe o que quer fazer da vida.

Os pais de Jongdae sempre estão dormindo às 21h. Não sabem ou não se importam com o horário que o filho chega. Por outro lado, Kim Jiah — tia de Minhee — deixava o jantar separado para ele, o prato pronto embalado com plástico filme caso ele ainda não tenha comido.

— É, ele é meio esquisitinho, mas canta bem pra porra — Jongin responde dando de ombros.

— Meio? — o tom de deboche em Baekhyun faz Jongin revirar os olhos. Estão saindo da loja e caminhando pelo meio da rua. Não há carros naquela região, ainda mais nesse horário. — Ele parece que caiu de paraquedas aqui.

— E caiu — Jongdae disse mastigando um pouco do gelo — Quer dizer, quantas pessoas vocês acham que chegam em B. assim do nada?

Baekhyun dá de ombros. Estão perto do parque abandonado, ele se abaixa e puxa uma grade meio solta para cima, dando espaço o suficiente para os outros dois rapazes passarem. Depois faz o mesmo.

Devem ter começado a ir no parque abandonado aos 14. Baekhyun e Jongdae. Só eles dois. Na época, Jongdae ainda ficava triste pela relação fria com os pais, e Baekhyun o arrastou para lá para quebrar pratos. Depois vieram as raspadinhas. E depois Jongin. É o lugar deles no mundo, um parque abandonado há vinte anos numa cidadezinha minúscula no interior do estado. Mas se sentem bem mesmo assim, por ter um lugar pra chamar de seu mesmo que ninguém nunca saiba.

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⏰ Última atualização: Dec 04, 2022 ⏰

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