Maroon

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   “ I can't make it go away by making you a villain
I guess it's the price I pay for seven years in heaven
And I pulled your body into mine every goddamn night now I get fake niceties.”
  — Happiness by Taylor Swift.

                             Outono.

 Podia se lembrar bem do dia, porque havia muitas pessoas na escola naquela noite, não um horário nada convencional. No dia em que o conheceu, ele não esperava que toda a sua vida fosse se tornar uma grande epifania, assim como perceber acordes desafinados em uma sinfonia composta por ele mesmo. 

 Talvez, não a vida toda, mas durante quase um anos Fyodor percebeu que Dazai Osamu havia passado de o homem da sua vida para um rosto sem identidade ou uma queda livre, que diferente de tudo em seus vinte e dois anos, ele não podia controlar. Ele gostava de Dazai, talvez pudesse dizer que em alguma escala ele o amou porém, as coisas haviam mudado sem que ambos percebessem. Ou gradativamente enquanto eles ignoravam.

 Se voltar o relógio talvez pudesse ter uma noção de quando deixou de sentir as borboletas no estômago e a estranha vontade de comprar ursinhos de pelúcia ou ouvir ele falar constantemente sobre literatura. Eles se perderam em algum lugar entre o amor e a indiferença.

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 Se conheceram no início do outono de 1990, mais precisamente em 3 de outubro.

Ambos estavam tentando ler a caligrafia horrível de quem quer que fosse que escrevera os horários de aula no mural do corredor da escola de idiomas. Fyodor anotava o que conseguia entender e o jovem de cabelos castanho arrumava os óculos, ele parecia ter a mesma idade que Dostoievsky, talvez fossem as roupas soltas e os olhos grandes, castanhos que o encaravam de forma discreta, que o fizessem parecer mais novo. 

 — O horário noturno de inglês é na sala oito — ele falou e só então Fyodor notou que havia errado em suas anotações 

 — Ah, Obrigado — ele respondeu sentindo seu sotaque ficar um pouco mais aparente.

 Ele sorriu sutilmente e Fyodor se pôs em direção a sala, para a sua surpresa o rapaz estava seguindo o mesmo caminho. 

 — Parece que vamos ser vizinhos de sala durante os próximos meses — falou parando diante da porta. 

 — Vai estudar russo? 

 Dostoievsky não sabia por que fez aquela pergunta, normalmente ele não puxava conversa, mas aquilo soou quase impulsivo.

  — Ah, sim e você vai estudar inglês, certo? — ele parecia meio constrangido mas Fyodor assentiu, talvez precisasse ser um pouco mais gentil para que ele não se sentisse tão desconfortável quanto o próprio Fyodor. 

 Depois disso as coisas ficaram um pouco mais constrangedoras, os dois simplesmente trocaram um rápido olhar e entraram em suas respectivas salas. Foi um encontro rápido, o pior primeiro contato possível, foi vergonhoso. 

 Dostoievsky havia chegado ao país a menos de um ano, seu russo ainda era muito aparente, era quase uma piada ele ser um imigrante da Rússia nos Estados Unidos da América, aquilo era minimamente problemático, um pequeno choque de cultura. Havia conseguido seu visto legal apenas por causa de Agatha, mas não estava gostando nem um pouco de dividir o apartamento com ela, era um estorvo depender de alguém. As coisas em Moscou estavam um caos, talvez devesse começar a viver de uma maneira menos solitária, mas era como se houvesse uma barreira entre ele e qualquer relacionamento. Ou ser humano.

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