Capítulo 1

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Quando me mudei para Washington depois da faculdade em busca de uma vida melhor eu não poderia imaginar o que me esperava. Viver aqui é ótimo e ao mesmo tempo muito desafiador. Hoje tenho a oportunidade de realizar mais um sonho, tenho uma entrevista de emprego em um grande escritório de arquitetura e engenharia em Seattle e por sinal já estou atrasada, como sempre. O trânsito aqui é terrível e por mais louca que eu seja dirigindo, ainda não sei voar. 

Cheguei até o endereço da entrevista rezando para que eu consiga uma vaga de estacionamento. Parece que a sorte está finalmente do meu lado hoje, vejo um carro saindo e uma vaga surgindo bem em frente ao prédio. Só tenho que esperar o desocupado a minha frente andar para conseguir chegar até lá. E como a minha sorte é mais curta que minha paciência, o infeliz do carro em frente fica com a vaga e sou obrigada a andar por mais dois quarteirões para achar uma disponível. 

Saio correndo do estacionamento tentando chegar no horário para a entrevista. Acabo esbarrando nas costas de alguém logo que entro no prédio, derrubando minha bolsa e minha pasta no processo.

- Oh merda. - Praguejo baixinho. -  Me desculpe Senhor – Falo enquanto me abaixo para pegar minhas coisas. 

Junto minha bolsa e minha pasta do chão, ao mesmo tempo em que o homem se vira e me deparo com um belíssimo e aparentemente muito caro par de sapatos pretos muito bem lustrados. Calças de alfaiataria acompanham pernas longas, junto com um perfeito terno preto muito bem cortado. Um pescoço grosso e um queixo perfeito, coberto por uma barba muito bem aparada se seguem. Um nariz perfeito e olhos que me tiram o fôlego de tamanha a intensidade do olhar acompanham um corte de cabelos loiros perfeitos. Solto um suspiro involuntário. Uau ele é lindo. 

Uau é a única coisa que consigo pensar, parece que meu cérebro virou geléia. Ele me olha de forma intensa causando um frenesi no meu corpo inteiro. Que homem é esse meu Deus. Ele exala poder, parece um daqueles dominadores. Se ele me mandasse me ajoelhar e colocar a língua pra fora, eu faria feliz da vida. Bufo uma risada imaginando a cena. Porque não andei ainda? Meu cérebro ainda está paralisado. Ele não fala nada, absolutamente nada e meu cérebro diz que eu tinha que estar fazendo alguma coisa agora mesmo, mas não consigo lembrar nem meu nome.

Seus olhos em fendas me olham como se questionasse minha capacidade mental. Algo em seu olhar arrogante e questionador me fazem acordar e me mexer. Saio apressada em direção ao elevador, olho no relógio e percebo que estou ainda mais atrasada. Ótimo pensei comigo, se me atrasar para uma entrevista, que credibilidade que vou passar para meus empregadores? Burra, burra, burra, me xingo mentalmente por todo caminho até chegar à mesa da secretária. 

Uma jovem de uns vinte e poucos anos aproximadamente, muito bem vestida com um terninho muito bem cortado e perfeitamente moldado em seu corpo, maquiagem perfeita e impecável, está sentada atrás de uma mesa de mogno escura. 

- Bom dia. Tenho uma entrevista de emprego agendada com o Sr. Collins. - Digo a ela quando me aproximo da mesa. 

Ela levanta uma sobrancelha perfeitamente desenhada e dá uma boa olhada no meu look nada impressionante. Quando acordei hoje pela manhã me senti confiante para usar uma calça de linho corte reto preta e uma blusa branca de botões. Me senti bem e sexy quando concluí meu look com saltos pretos scarpin, colar e brincos em prata. Meu relógio era antigo, era da minha avó e era lindo e me trazia confiança pois podia imaginar que ela estava sempre comigo, onde quer que eu fosse. Mas nesse momento me sinto muito mal vestida e estou me comparando em tudo com ela.

- Você pode aguardar na sala dois com os outros candidatos. Fica nesse mesmo corredor. Seu nome, por favor? - Sua voz é séria e ao mesmo tempo delicada e cheia de profissionalismo.

- Scarlett Bianco. - Tentei fazer com que minha voz ficasse o mais profissional possível e que meu medo e meu atraso não me prejudicasse.

Um pequeno sorriso de escárnio se formou em seus lábios perfeitos e com a voz profissional que eu não tive competência de fazer ela me diz:

- Sala dois. É só aguardar.

A sala dois ficava próximo a mesa da senhora perfeita e estava cheia. Pelo menos doze pessoas estavam sentadas ali, todas muito bem vestidas com ternos bem passados e alinhados nos homens, terninhos completos, saltos altos e jóias nas mulheres. Deviam escrever a respeito das vestimentas nos anúncios de emprego. Eu era a única ali vestida mais ou menos. Eu nunca liguei para o que as pessoas pensavam, mas agora eu estava me sentindo completamente deslocada. 

Estava na cara que esse emprego não seria meu. E ele tinha tudo que eu mais queria e precisava. Uma vaga na mais renomada empresa de arquitetura de Seattle com um salário digno e moradia. Sim, moradia, a empresa oferecia um de seus apartamentos para o funcionário ficar mais empenhado no trabalho e menos nas despesas. Era o sonho de todo estudante recém saído da faculdade, cansado e perdido e eu queria isso, tudo isso para mim, para a minha vida, só não tinha certeza se ia conseguir.

Já estávamos esperando uns quarenta minutos nesta sala e quando digo estávamos, é porque até agora ninguém havia nos chamado. Nenhum de nós. O nervosismo era nítido e com certeza pontualidade não era algo que eles tinham como prioridade. Eu já estava muito impaciente. Se não desejasse tanto esse emprego, com certeza já estaria longe daqui.

De repente a porta se abre e um homem jovem de terno entra, ele analisa a sala olhando para cada um de nós. Seu olhar é arrogante, como se todos ali não valessem o seu tempo. Ele olha para o tablet em sua mão e começa a perguntar nossos nomes. Para alguns ele diz parabéns vá até a sala três. Para outros ele diz, lamentamos mas não temos vagas disponíveis para você no momento. Meu nervosismo aumenta, eu sou a que está mais longe dele e com isso a última a ser interrogada. 

- Nome?

Ele pergunta e sem sequer olhar na minha cara. É como se eu fosse insignificante e estivesse ocupando muito do seu tempo. Levanto devagar e estreito meus olhos em sua direção fazendo uma análise do seu rosto e como não respondo tão rápido como os outros candidatos, ele tira os olhos do tablet e olha para mim. Minha vontade é gritar na cara dele que eu não sou insignificante, sou alguém que estudou muito para chegar onde cheguei. Me formei com honras e não vou aceitar ser tratada como nada, mesmo que eu precise muito desse emprego. Seu olhar em minha direção é incisivo, me sinto como se estivesse sendo interrogada por um crime e não em uma entrevista de emprego. Por fim respondo.

- Scarlett Bianco, senhor.

Senti uma vontade imensa de bater continência como no exército, mas acabei revirando meus olhos com esse pensamento e rindo discretamente da minha piada interna. Devo ter sido óbvia já que ele levantou uma sobrancelha me questionando sem falar nada. E assim ficou por uns segundos, só me olhando com seu olhar arrogante e avaliador, até que ele diz. 

- Sala três senhorita Bianco.

Um discreto sorriso surge em sua boca, não sei na verdade nem se isso se caracteriza como sorriso, foi um breve e muito pequeno levantar de lábios do lado esquerdo. Já não tinha certeza se era esse o emprego dos meus sonhos. Lidar com esse tipo de comportamento todos os dias não era algo que eu desejava. Seja o que Deus quiser eu penso enquanto me dirijo para a próxima sala.

Desejos OcultosOnde histórias criam vida. Descubra agora