such a lonely heart

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Agradecer porque os dias letivos estavam para começar era uma característica um tanto quanto preocupante de San; mas ainda que sua família lhe chamasse de maluco, ele ainda mantinha o hábito de se sentir quase alforriado quando a faculdade liberava o calendário no fim das férias. Porém, não naquele semestre...

Ele escutava com frequência o quanto tinha manias peculiares, mas existia muita complacência por parte de seus amigos para consigo. Afinal de contas, Hongjoong quase nunca o impedia de dobrar sacola por sacola quando chegavam do mercado, Yeosang nunca questionava o lado do rolo de papel higiênico no suporte e Yunho nunca reclamava de servir de repositor para guardar na última prateleira da despensa os potes plásticos na ordem que San impunha. Mas ele sabia que Hongjoong colocaria todos os sacos plásticos para a coleta seletiva, que Yeosang viraria o rolo de papel para o outro lado e que Yunho mesmo bagunçaria os potes quando precisasse de algum.

Eram por esses e tantos outros motivos que sua casa já não era a mesma de seus pais, desde que começou a estudar e dividir um teto com mais dois ômegas e um alfa.

San sentia uma necessidade quase intrínseca de manter tudo sob controle, tudo devidamente organizado e ajeitado, porque ele odiava conflitos tanto quanto odiava amendoim — e ele odiava muito. Quando questionado acerca de qualquer coisa em sua vida, San automaticamente entrava em modo de defesa, e ele e seu lobo eram tão bons nisso que no final das contas ele apenas parecia um filhotinho acuado e indefeso.

Ele havia sido criado e moldado para se manter silencioso e seguir ordens — coisa que ele tinha certeza que seria diferente se ele fosse um alfa —, chamar a mínima atenção possível e as regras faziam parte de sua rotina como beber água e respirar. A única pessoa que o lembrava que se sentir vivo era essencial, era seu melhor amigo.

Wooyoung era descaradamente antagônico de si: tinha um bom relacionamento com a família, não reprimia nada que sentia e nunca hiperventilou por precisar falar com desconhecidos ou ficar em qualquer local com mais de cinco cheiros diferentes enquanto estava sóbrio. Sua mãe nunca tentou lhe separar do outro ômega, porque o diabo se fazia como ninguém e na frente da Choi ele era um anjo de luz; porém ele entendia San como ninguém, sentia e o que acontecia com ele o tempo todo, além de sempre defendê-lo do que estava em seu alcance.

Entretanto, com Wooyoung, San estava de poucas ideias. O melhor amigo — como já citado — era seu total oposto, e enquanto San fervia em ansiedade analisando a grade curricular do semestre que se iniciaria — especificamente o projeto integrador que o obrigaria a conviver com estranhos pelos próximos meses — Wooyoung parecia estar prestes a ir ao show de seu artista favorito, separando pilhas de roupas para decidir qual usar no primeiro dia de aula, como o perfeito veterano de moda que ele era.

San apenas queria meter a cabeça no travesseiro e esquecer as responsabilidades universitárias. Tecnicamente, ainda estava de férias.

O ômega mais novo tagarelava sem parar andando de um lado para o outro trajando um de seus fiéis jeans desfiados, uma jaqueta colorida em tons quentes e camiseta branca e lisa, deixando o cheiro de flores por todo o quarto, fazendo o Choi se perguntar como ele conseguia viver com três alfas em um só apartamento sem que ninguém fosse enxotado de casa. San não gostava de estranhos, mas precisava admitir que os amigos do seu soulmate não eram tão ruins.

Bem, depende.

San preferia manter uma opinião não formada sobre os alfas, se atendo ao título de conhecidos com interações limitadas a sorrisos amarelos e acenos de uma distância segura. Sua fonte de informações sobre o trio era o melhor amigo totalmente confiável.

Os três patetas formavam uma matilha interessante ao lado de Wooyoung. Seonghwa era o alfa mais velho, o bad boy tatuado e mal encarado do curso de Artes Visuais. Mingi era um alfa lúpus bem imponente e que nas palavras do melhor amigo é um príncipe encantado. E tinha também Choi Jongho, o caçula da trupe e estudante de Educação Física, famoso rato de academia, mas que era constantemente chamado de filhote por Wooyoung. Ele era também o alfa motoqueiro que dava carona para Yeosang às vezes, e por isso San tinha um tanto de informações a mais sobre o alfa; sabia quem ele era e a moto barulhenta já o havia acordado mais vezes do que gostaria.

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