" As marcas que os seres humanos deixam são, com frequência, cicatrizes. "
── A culpa é das estrelas.
Ele me olhava, pelo retrovisor, com deboche após minha fala. Podemos não nos conhecer mas quem foi lá me buscar, sem eu pedir, foi ele. Não que eu seja uma filha da mãe ingrata. Aquilo estava um inferno e sei que mais um dia lá eu não iria aguentar.
Olho novamente para o meu corpo, com dó. Não sei nem como eu aguentei esse tempo todo lá, eu mesma achei que não iria aguentar.
Sabe qual é o pior? Até agora não tenho nem sequer uma pista de porque isso aconteceu. Nunca fiz mal pra ninguém, muito menos pra um velho que convenhamos, tá capenga já!
── Você poderia pelo menos me dizer seu nome, ou prefere que eu continue te chamando de senhor fortão? ─ eu disse com humor mas acho que não funcionou pois ele me olhou sério, aí que sem graça.
── Você tá muito engraçadinha para o meu gosto. O senhor Francchesco não lhe educou, garotinha? ─ ele diz como se eu fosse uma criança.
── Desculpa ai monumento do Egito, muito velho que você deve ser mesmo. ─ ele me olha de canto de olho e eu dou um sorriso cínico. ── E você não venha falar do meu pai, ele me educou muito bem. Pelo visto muito melhor do que seu pai te educou.
── Tem razão, até porque, meu pai está morto. ─ disse com indiferença, credo, ele não tinha coração?
── Meu Deus, me desculpa, sinto muito. ─ digo com muita sinceridade, embora ele não parecesse sentir pela morte do pai eu senti muito pela morte da minha mãezinha então sei como é a dor de perder alguém.
── Relaxa, garotinha. ─ ah não, acabou o momento de dó.
── Agradeceria se parasse de me chamar como se eu fosse uma criança de 5 anos. Tenho 18, ok? ─ o deixo ciente e ele nem responde. Que ranzinza, deus me livre me tornar assim.
── Guilherme. ─ ele diz me deixando confusa.
── Desculpa, sou meio lerda as vezes. O que tem? ─ uix, odeio quando não entendo de primeira.
── Meu nome, Guilherme Veloso. ─ uau, tinha algo nele que era feio?
Nem o nome desse guri tinha alguma imperfeição, se encaixava perfeitamente com ele.
── Me chame de Grego, poucas pessoas sabem do "Guilherme". ─ Uuh, então eu sou importante?
── Tudo bem, Guilherme. ─ ele me olhou em repreensão. ── Ah, não seja tão duro. Não tem ninguém aqui mesmo.
── E como prefere que eu lhe chame? ─ antes que eu falasse ele continua. ── Pensei em algo como "filhinha de papai" sabe, combina muito com você. Ou talvez "mimada" por ser mais curto sabe? Ou talvez continuar te chamando de garotinha, seu tamanho bate certinho com esse apelido.
── Desculpa ai, senhor antiguidade. Fugiu do Museu foi? ─ eu disse com sarcasmo.
Ele me olhava sério mas ainda assim prestando atenção na estrada, de longe, bem longe, eu podia já ver a minha casa.
Eu também podia ver outra coisa, mais intensa, no olhar dele. Ele podia manter essa postura de sério mas eu tinha certeza que por dentro ele estava amando nossos joguinhos.
── Você me desafia demais, garota. Sabe aonde está seu erro? ─ fez uma pausa mas como viu que eu não iria responde-lô ele continuou. ── Seu erro está em achar que vou estar sempre com essa minha boa vontade. Eu juro que se não fosse pelo seu pai você já estaria morta em algum matagal desses pelos quais passamos. Você é marrenta e extremamente irritante e eu não suporto isso, você é uma mulherzinha fútil que deveria ficar calada para o seu próprio bem.
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Vizinhos? ── Amores improváveis.
FanficSingularidade (s.f) É como se chamam eventos únicos, de características especiai. É algo que surpreende, de comportamento imprevisível, mas encantador. É uma curva infinita que não obedece a regras. É o que torna alguém diferente de todas as outras...