Suficiente

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O vapor de uma xícara de café parece ser bem interessante, é o que uma criança pensaria caso presenciasse aquela cena. Duas adultas olhando suas xícaras como se fosse a coisa mais surpreendente do mundo. Era uma situação constrangedora, realmente. Mas alguma hora uma tinha que iniciar a conversa, não é mesmo? E foi o que a mulher de fios acobreados tomou coragem para fazer, após deixar suas mãos caírem para seu colo e suas costas tensas descansarem na cadeira.

"Então... sobre ontem", a mais jovem começou, seus olhos em seus dedos que se remexiam inquietos uns contra os outros. "Acho que talvez, tenhamos ido rápido demais?", seus olhos se voltaram momentaneamente para cima, encontrando uma testa franzida e olhos azuis encarando uma xícara branca pela metade. "Gwen, somos amigas, ou éramos não sei...", sua testa foi franzida com o pensamento de a mulher sentada à sua frente não querer mais sua amizade ou sua companhia. "Enfim, o que quero dizer, é que nós nos conhecemos a pouco tempo mas eu não acho que sejamos como as outras mulheres que são amigas", S/n se remexeu na cadeira, sua mão coçando sua nuca. "Eu acho que você já percebeu também esses... essas coisas entre a gente, sabe?", seu rosto voltou para cima, procurando os olhos azuis brilhantes que tanto gostava. "Essa... essa sensação eletrizante quando nos tocamos, a necessidade de estar perto, a angústia de ficar tanto tempo sem se ver, o ciúmes", a garota completou engolindo a seco. Abrir-se com outras pessoas era sempre tão difícil assim? "Céus, Gwen. Fale alguma coisa, por favor. Está me deixando ainda mais nervosa aqui", falou se inclinando para frente e passando uma das mãos no rosto.

"Eu...", a garota encarou o rosto de bochechas rosadas e olhos brilhantes à sua frente. Seu coração batia alto em seus ouvidos e se sentia incrivelmente vulnerável e com vontade de chorar. Mal sabia ela que Gwen não se encontrava com sentimentos tão diferentes dos seus, a mulher de fios claros sentia seu coração batendo freneticamente em seu peito e um calor no rosto e no coração. S/n estava certa, elas não tinham uma amizade como a de outras mulheres e as coisas pareciam sempre ocorrer de forma diferente entre elas. "Acho que... talvez, estejamos gostamos uma da outra?", os olhos azuis buscaram os acastanhados do outro lado da mesa, falar o que ela vinha pensando no último mês era realmente difícil. "Eu acho que gosto de você... quer dizer, eu gosto de você, não apenas como amiga, mas como mulher.", manteve os olhos nos da mais nova, buscando qualquer sinal de reciprocidade. E ficando alarmada ao ver uma lágrima correr para fora dos olhos marejados.

"Estou feliz que não sou a única a ter sentimentos aqui", falou ao limpar a lágrima e os olhos rapidamente. Um sorriso emocionado surgia em seus lábios, estava feliz, céus, e como estava. "Você quer... levar esses sentimentos adiante?" perguntou com expectativa. O peito borbulhava em um felicidade contida.

"Está falando em termos algo?", a mulher a questionou de volta. Por dentro torcia para que a garota falasse que sim, se inclinando para frente, apoiou seus braços sobre a mesa. Os olhos azuis mais brilhantes do que nunca.

"Estou falando em namorarmos", S/n respondeu com toda a sua coragem. "Eu quero construir um futuro ao seu lado Gwen", terminou respirando fundo. Estava colocando todos os seus sentimentos para fora, e com toda certeza, não estava sendo fácil.

"Podemos tentar então", falou deslizando uma de suas mãos sobre a mesa, a depositando com delicadeza sobre a da mais jovem. Seu rosto tinha uma expressão gentil, calorosa. Em seu peito seu coração batia alegre com a expectativa de um futuro com aquela mulher de fios ruivos.

"Sim, nós podemos", a resposta foi breve. Encarando a mão de unhas vermelhas sobre a sua, S/n não resistiu a entrelaçar seus dedos aos da mulher à sua frente. E quando o fez, sentiu que aquilo era o certo, que elas estarem juntas era o certo.

Ainda havia muito a ser conversado, mas ali, naquela manhã de sábado, e naquele momento, elas sentiam que era o suficiente. Segurar a mão uma da outra sobre a mesa enquanto trocavam sorrisos bobos, era o suficiente.

Uma noite, ou um começo?Onde histórias criam vida. Descubra agora