Dia seguinte

337 46 6
                                    

    E foi com aquele suspiro cansado, e o coração batendo daquela forma exagerada - como quando somos pegos fazendo algo errado, que Gwendoline com receio, estendeu a mão para retirar com delicadeza os fios acobreados do rosto angelical da mulher que dormia tranquilamente ao seu lado. E naquele segundo, ela não conseguia se lembrar se já tinha a achado tão linda, quanto naquele momento.

    Com uma delicadeza até então desconhecida por ela própria, Gwendoline acariciava com toques sussurrados o rosto à sua frente, não queria que a garota acordasse. Ainda não estava pronta para ter os olhos chocolates que tanto faziam seu coração palpitar sobre os seus. E se fosse totalmente sincera, admitiria que estava apenas com medo.

    Por que medo? É o que vocês devem estar se perguntando, mas afinal de contas, quem não ficaria com medo da reação da pessoa com a qual dividiu cama por uma noite quando acordasse no dia seguinte, e não tivesse mais nenhuma gota de álcool turvando seus pensamentos, ou enfraquecendo suas barreiras e senso de preservação?

    Quando a outra pessoa falasse que aquilo não voltaria a acontecer, que estava bêbada demais para pensar por si próprio na noite anterior. Que apenas se deixara levar pela situação. E quando aquele momento chegasse, Gwendoline não saberia como agir. Então ela tentava se concentrar apenas naquela partezinha positiva de sua mente, a parte que dizia que a garota nunca faria isso, que nunca colocaria a culpa na bebida e que nunca diria que aquela noite foi um erro, uma sucessão de ações impensadas talvez, mas não um erro.

    Sua mão voltou a ser abaixada sobre o colchão. Mal havia acordado de uma noite que para ela havia chegado próximo de algo perfeito, e já se sentia terrivelmente cansada. Talvez devesse se levantar e preparar um pouco de café, quem sabe o líquido de gosto forte e calor intenso não a auxiliasse naquele momento?

    “Por que está me olhando desse jeito?”, Gwendoline se sentiu paralisada com aquela voz rouca e divertida ao seu lado, seu ser estremeceu de assombro ao ter sido pega encarando. E pela visão que a garota oferecia ao se esticar distraidamente sobre a cama, buscando afastar o sono, mal sabia ela que com aqueles movimentos e corpo agora parcialmente desnudo era uma visão perturbadoramente sexy demais para a mulher de fios claros. “Bom dia, Gwen.”, as palavras saíram alegres de seu ser, um sorriso que iluminaria um quarteirão inteiro apareceu após sua fala.

    “B-bom dia”, era isso, Gwendoline Christie estava se sentindo uma bagunça tão grande de sentimentos que fazer qualquer coisa além de sentir seu coração palpitante por todo corpo e respirar pesadamente, era impossível naquele momento.

    “Gwen, você está bem?”, a voz apreensiva e semblante preocupado pareceu ser o suficiente para penetrar o seu ser, e a fazer esquecer os pensamentos negativos corriqueiros de minutos antes, e a vergonha e desejo de segundos atrás.

    Com os olhos azuis ainda evitando a mulher ao seu lado, se concentrou em pigarrear e colocar seus sentimentos descontrolados no eixo. “Estou, não se preocupe", os olhos acastanhados deslizaram mais uma vez pela face que outrora tinha um tom de vermelho impressionante, estava em busca de qualquer sinal de mentira.

    “Certo”, deu-se por vencida. “Que horas são? Sinto que não dormi quase nada.”, falou a última parte quase manhosa, conseguindo assim um sorriso da outra mulher. E sem muito pensar um sorriso parecido surgiu em seu rosto também.

    “São… oito horas, e dez minutos”, falou ainda concentrada no relógio em sua mão, ao qual havia pego no criado mudo ao seu lado da cama. Elas haviam tido quase seis horas de sono, pensava ao mesmo tempo que se estica para colocar o relógio no mesmo local de antes. “Por que não dorme um pouco mais?”

    “Bem que gostaria”, sussurrou em resposta, com timidez guiou sua mão ao encontro da bochecha rosada da mulher a sua frente. “Está acordada a muito tempo?”, perguntou ao mesmo tempo que observava quase hipnotizada a pele sobre seus dedos ganhar cor.

    E sem que realmente pensasse sobre o que estava fazendo, aproximou seu corpo ao da outra mulher e inclinou seu rosto sobre o dela, os olhos castanhos divididos entre os azuis brilhantes que eram os olhos dela naquele momento, e a boca de cor clara. Gwendoline era dona do coração de S/n, e a garota não precisou de nada mais que sorrisos e dos braços acolhedores da mulher a sua volta em um abraço, para perceber isso.

    Seus lábios se encontraram em um beijo mágico, lento e carinhoso. E se elas se concentrassem mais naquela sensação maravilhosa, dava para se sentir quase que de maneira palpável o desejo que parecia queimar por debaixo de suas peles, um desejo que se fosse permitido pelas mesmas, poderia queimar como fogo sobre a palha seca.

    E como se livrando brevemente das garras daquele sentimento avassalador, Gwendoline se obrigou a se afastar lentamente dos lábios carnudos da outra mulher. As respirações ofegantes preenchiam aquele ambiente, enquanto os corações em seus peitos ecoavam em cada partícula de seus seres. “Precisamos conversar sobre ontem a noite…”, a voz saia em um sussurro inseguro, “Sobre nós…”, completou mordendo os lábios em seguida. Era inquietante toda aquela ansiedade e insegurança pelo o que elas eram, e poderiam ser.

    “Sim, precisamos”, a mais nova respondeu quebrando o silêncio que havia se instalado. “Acho que vamos precisar levantar então”, falou com uma voz mais humorada, uma tentativa de quebrar aquele clima tenso.

    “Pode ficar com esse banheiro se quiser”, a mulher de fios loiros comentou enquanto sentia seu coração se acelerar e rosto corar pela milésima vez naquela manhã. Mas não era como se ela pudesse evitar fazer isso ao ver a mulher de cabelos avermelhados em pé, nua ao lado da cama. “Vou usar o do quarto ao lado, vou pegar uma escova de dentes e uma toalha para você”, finalizou ansiosa.

    “Okay, obrigada Gwen”, respondeu ainda tomando coragem para olhar a mulher que a encarava da cama. Ela se sentia quente e envergonhada, e seu rosto e colo deveriam estar completamente vermelhos. E se concentrando em sua respiração, obrigou-se a se acalmar o suficiente para que pudesse se concentrar em encontrar suas roupas.

Uma noite, ou um começo?Onde histórias criam vida. Descubra agora