Um

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Seis meses depois

LONDRES está chovendo, um alivio para o calor dos últimos dias. Fico olhando pela janela a cidade lá longe, borrada pelas gotas grossas que escorrem pelo vidro embaçado. Meu reflexo mostra meus cabelos negros como penas de corvos emoldurando meu rosto frio. É como me vejo: fria, gelada, as vezes nem me reconheço mais. Até meus olhos; verdes como jade, antes como os da minha mãe, quentes e convidativos agora estão frios e opacos.

— As vezes você me assusta. — Tyler vem andando com aquele jeito desleixado comendo um hamburguer que parede delicioso, não como nada há algumas boas horas. Olho de relance para ele; que sempre parece ter acabado de sair de um jogo de cyberpunk.

Fui contratada para protege-lo há alguns dias. Ele é um hacker que trabalha para alguém importante, eu tento saber o mínimo que eu posso, não tem necessidade de me envolver demais. O pagamento foi bom, muito bom, o que as vezes me faz imaginar o quão importante Tyler é.

— Assusto você? — Minha voz saiu mais rouca do que eu pretendia.

— É, tipo agora, tá parecendo que vai roubar todos os doces das criancinhas. — Ele zombou, parecendo querer me animar ou qualquer merda do tipo, ele tem disso.

— Roubar doces? — Retruquei achando graça. — Se eu visse algum, roubaria. Um doce seria bom agora.

Tyler me ofereceu o seu hambúrguer, mas eu neguei com a cabeça. Ele permaneceu em silêncio me olhando de esgueira, me estudando, avaliando, até que resolvi quebrar a quietude.

— Só não tô num dia muito bom, Tyler, só isso.

— Você raramente tá, Akira. — Ele dramatizou e eu suspirei uma risada.

— Vantagens de fazer o que eu faço. — Desdenhei tirando as mãos do bolso da blusa e cruzando os braços.

— Se é tão ruim assim, por que continua?

Por que eu continuo? Boa pergunta, eu não sei. Pensando bem, eu sei. Porquê essa sou eu, sou eu nos últimos 10 anos, desde que eu era uma adolescente boba que acreditava em promessas idiotas. Esse trabalho até que é bom, me deixa ocupada, de cabeça cheia, sempre de um lado para o outro e com o bolso cheio.

— Porque não sei se consigo fazer nada além disso. — Soou meio mórbido, mas foda-se, é mórbido.

— A vida é curta, Akira. Certeza que cê tá cansada de saber disso, mas é verdade, cê tem que fazer da sua vida a melhor, aquela que você pode se orgulhar, e pelo que eu vejo, essa vida aqui. — Ele fez uma pausa e eu encarei seus olhos castanhos. — Não é uma da qual você se orgulharia.

O que ele sabe? Tyler deve ser mais novo que eu, e é ele quem está me dando conselhos e não o contrário. Seguro uma risada cética. Ele não me conhece, não sabe nada de mim, ninguém sabe.

— Você não sabe de nada, Tyler. — Soei na defensiva, mais grossa do que pretendia.

Alguns segundos após minha resposta insensível como sempre pairar no ar, um som estridente veio reverberando pelos corredores escuros acompanhados de tremores. Uma explosão, consegui identificar. Só pode ser umas das minas que deixei escondido nas escadas.

— Rápido! Pega suas coisas mais importantes. — Quem quer que seja está perto. — Vou tentar atrasá-los, não me espera, foge pelo túnel de descarte de lixo como a gente combinou. — Pego todo meu equipamento que está em cima da mesa e caminho até Tyler que está segurando sua mochila com os olhos focados e atentos. — E pelo amor de Deus, não morre.

— Você também, Akira. — Ele diz e com um último olhar ele vai embora, correndo pelo corredor. E eu fui pelo lado contrário em direção aos invasores.

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⏰ Última atualização: Feb 18 ⏰

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𝑭𝒐𝒓𝒃𝒊𝒅𝒅𝒆𝒏 𝑨𝒕𝒕𝒓𝒂𝒄𝒕𝒊𝒐𝒏 | 𝑮𝒉𝒐𝒔𝒕 [Reescrevendo]Onde histórias criam vida. Descubra agora