Capítulo VI

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"Te sinto tão longe, longe, longe, longe, mas te quero perto
Eu sei que tem coisas que eu faço que você não acha certo
Te sinto tão longe, longe, longe, longe, mas vou ser honesto
Prometo ser correto, pois eu sei que com você o papo é reto

Amor da minha vida, minha conquista
Você é uma ilha, você é uma ilha
Onde as ondas quebram perto, desse mar azul eterno
Teu sol loiro me ilumina, você é minha mina"

- Sol Loiro by Armandinho

Son se sentia cercado em sua própria mente. As coisas não fluiam como pela manhã, ele não sabia o que fazer com os sentimentos que se enrolavam e o afogavam em pequenos detalhes. As palavras ditas pelos brasileiros rondavam distorcidas em uma única voz na sua mente, ele sabia que nenhum dos que vieram em seu quarto fariam mal a ele, ele sabia que o que ele ouvia na sua mente provavelmente não tinha nada a ver com a realidade, ele sabia que não era a intenção deles que ele ficasse tão estressado com isso.

No silêncio do quarto ele conseguiu ouvir quando o elevador voltou para o seu andar. Ele se levantou para abrir a porta e poder pelo menos ver seu alfa, mas parou na hora que ouviu ele conversando com seu amigo brasileiro.

Heung-min ri levemente quando ouve Antony chamando seu namorado de "pinóquio brasileiro". Ele sentia falta de momentos idiotas e conversas bobas como essas mais do que qualquer coisa, ele queria não ter ficado tão irritado pela pequena invasão e aproveitado mais as idiotices da seleção brasileira.

Quando Richarlison abriu a porta, já fazia um certo tempo que Antony tinha ido se perder pelos corredores do hotel em que a seleção coreana estava hospedada. Ele entrou silenciosamente se sentou ao lado do namorado, na frente da cama de frente para a porta.

- Quando eu me tornei "a fera''? - Foi a pergunta sussurrada do mais velho, que desviou o olhar do teto para o rosto do alfa.

- Ah amor, é só uma forma de falar no português. - Richarlison fala olhando para o teto antes de perceber que Son entendeu português, então seus olhos se arregalaram. Ele se virou totalmente para o namorado antes de continuar. - Desde quando cê fala português?

- Acho que temos outras coisas pra discutir antes de falar disso Richarlison. - Son não olha o alfa nos olhos enquanto se levanta do chão e vai até a cama e se senta em cima dela com um travesseiro no colo.

O brasileiro se manteve em silêncio, sem saber o que falar ou como agir. Ele sabia o que vinha pela frente, ele poderia culpar seus colegas por essa conversa, mas sabia que não era assim que as coisas funcionavam.

- Eu, sinceramente, não quero brigar. - Son suspirou. - É muito cedo pra isso, e seus amigos me cansam com toda essa animação pela manhã.

Richarlison se levantou do chão e foi até o ômega e se jogou levemente na cama, deitando sua cabeça nas pernas pálidas e bem treinadas de seu namorado, automaticamente ele sentiu a mão de Son em seu cabelo fazendo um cafuné.

- Me chateia a forma que você agiu quando a hipótese de você ser um ômega apareceu. Não existe "cara de ômega". - Heung-min fala calmo, cansado demais para expressar raiva. - Eu passei por muito só por ser ômega, e você sabe disso. Eu sei que você não fez por mal, mas mesmo assim, isso me trouxe lembranças de coisas que eu preferia esquecer, coisas que me mantinham acordado a noite por causa de pesadelos, se lembra?

- Sim... - A voz do alfa era só um sussurro baixo e dolorido. Ele não gostava de lembrar dos dias que o namorado acordava pela madrugada por causa de pesadelos.

- Faz anos que aconteceu, mas ainda me perturba, por que se aconteceu uma vez, como não aconteceria de novo? - A forma como os olhos de Richarlison, que se mantinham fechados desde que os dedos de Son tocaram seu coro cabeludo com delicadeza, se abriram em pura preocupação e aviso eram mais do que o suficiente para saber o que ele pensava. - Eu sei que você nunca deixaria nada acontecer comigo, muito menos deixaria isso acontecer de novo, mas nós não vamos estar juntos sempre, e agora eu não tenho mais pesadelos com isso por causa de você e do meu acompanhamento com o psicólogo.

- Mas? - Os olhos do alfa ainda estavam vidrados no coreano.

- Mas hoje eu me senti cercado de certa forma. Os meninos vieram sem maldade alguma, e eu sei, mas ainda existem marcas em mim. E quando eu e meu lobo nos vimos rodeados de desconhecidos funcionais, eu me senti tão mal. - Os olhos do mais velho brilharam com lágrimas mal contidas. - Estar rodeado de alfas num jogo é completamente de estar rodeado de alfas em um quarto, no seu quarto, que era pra ser um lugar seguro. Você entende o que eu quero dizer?

- Eu... Eu não posso dizer que entendo, por que eu nunca passei por isso, mas entendo o que você quer que eu entenda. - O alfa se ergueu do colo do coreano e olhou nos olhos do seu ômega. - Eu sei como aquilo foi difícil pra você e que eu não devia ter deixado as coisas irem tão longe. Se eu tivesse mandado uma mensagem pra qualquer um deles, ou no grupo falando "vou tá fora, não me perturbem" que nem o Antony ou qualquer outro faz quando some, isso não teria acontecido. Me desculpa?

- Claro. - Son solta uma meia risada cansada.

Às vezes, uma voz no fundo da cabeça do coreano sussurrava para ele que estar ali, com aquele alfa, era apenas uma forma de fugir da realidade, de como ele não merecia aquilo tudo, como era falso aquela realidade paralela que ele vivia. A voz dizia, bem baixinho, várias vezes, até ecoar por toda sua mente que ele deveria terminar aquilo, aquele relacionamento, antes que aquele relacionamento acabasse com ele. Ele simplesmente ignorava aquela voz, exatamente como seu lobo fazia, assim como seu psicólogo disse pra fazer.

- Ótimo! - Richarlison sorriu. - Então, antes da gente ir almoçar, como assim você fala português? Desde quando? E quem é o namoradinho do Antony ein?

A risada verdadeira que escapou dos lábios do ômega fez o peito do brasileiro esquentar, sempre que ouvia aquele som era como da primeira vez, o fazia se sentir como um cachorrinho feliz, fazia seu coração pular batidas.

- Você fala do Paquetá mas é igualzinho, não é? - Son sorri

- É que tá no sangue do brasileiro amor. - Richarlison diz se jogando em cima do ômega ficando deitado em seu peito entre as pernas do mais velho que solta uma pequena risada.

- Sei. - Heung-min o olha nos olhos por alguns segundos, deixando o tempo passar enquanto sentia o seu momento de paz que havia sido destruído, voltar para ele.

- Conta pra mim. - O brasileiro sorrir.

- Tudo o que você quiser amor. - Son sussurra antes de receber um pequeno selinho.

- Fala então, pelo amor de Deus homem.

- Certo, sobre Antony, eu não te falei isso mas... Cho não tava aqui porque tava preocupado comigo. - Foi tudo que o mais velho precisou falar antes de receber uma risada descrente.

- NEM FUDENDO! - Richarlison ria feliz. - Eu sabia porra!! Mil conto na mão do pai.

- Você- - As risadas de Son cortaram sua própria voz enquanto Richy se mexia em algum tipo de dancinha feliz deitado. - Você apostou sobre o relacionamento do Antony?

- Não só eu, a seleção brasileira inteira, até o Tite participou! - O alfa falou orgulhoso recebendo ainda mais risadas felizes.

- Meu Deus, Richy!

- É porque tu não viu a certeza na cara do Neymar enquanto ele falava que o Tony tava com um francês. FRANCÊS. - As risadas enchiam o quarto. - Ele tava achando que o Antony era talarico pra querer comer Mbappe?

- Ai meu senhor. - Son segurava sua barriga enquanto pequenas lágrimas escorriam pelos seus olhos de tanto rir.

- Agora, por que não me conta onde aprendeu a falar português e por que não me pediu ajuda, ein meu coreano? - O brasileiro falou em sua língua, deixando um selinho casto nos lábios do namorado.

- Eu ainda não sou muito bom, mas queria que fosse uma surpresa. - Son sorria enquanto falava, mas seu sorriso se abriu ainda mais quando começou a falar suas próximas palavras. - Eu não pedi sua ajuda porque você mal sabe pra você, meu amor.

- Ah é? - Richarlison perguntou com as sobrancelhas arqueadas e se erguendo para ficar bem acima do mais velho?

- É!

O perfume de sexo do começo da manhã havia se ido, agora era só a mistura de pinheiro, orvalho da manhã, sandâlo, frutas citricas e açúcar queimado que circulavam o quarto. O cheiro de felicidade e risadas, tudo o que era necessário para quebrar a tensão e quebrar pensamentos ruins, ou quase.

🌲FIM DA ATT DE HOJE🪵

Pinheiro de Maio, Sândalo de JulhoOnde histórias criam vida. Descubra agora