L'appel Du Vide

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   L'appel du vide, o desejo súbito e passageiro de tirar a própria vida. Jennie se perguntava se deveria tentar, deveria perguntar para a flor se deveria tentar? Tentar, tentar acabar com isso... Não, era idiotice. Já passou.

— O desfile já vai começar, eu não quero nada de errado! Vamos, Vamos!

Ajustou sua postura. Se sentia ridícula com aquela roupa enfeitada e pesada, com aquele salto alto o qual tinha que ter muito equilíbrio para que não caísse. Jennie queria que todo aquilo acabasse, mas era só o início do desfile.

As vezes o "glamour" da moda a deixava enjoada, aquele glamour inconsistente, invisível, criado para agradar garotinhas de treze anos, a mesma que Jennie um dia já foi, e já não é mais.

A música começou a tocar. Jennie iria iniciar o desfile, em outrora estaria nervosa, mas já está tão acostumada com tudo que seu nervosismo não aparecia mais, sentimentos mais profundos eram os únicos que estavam sempre ao seu lado, o tempo todo.

Jennie Ruby Jane assume o lugar na alma de Jennie Kim, entrando naquele passarela, andando elegantemente como um gato, fazendo todas as pessoas vidrarem nela, vidrarem em seu rosto angelical e em seu corpo dos deuses, vestida com aquela mini saia da Chanel de milhões de dólares fazendo com que todas as garotas quisessem comprar apenas para ficarem bonitas como Jennie, apenas para serem como Jennie.

Mal sabiam elas que Jennie não queria ser ela mesma. E isso a corroía por dentro.

Dando meia volta na passarela voltando para os bastidores, a garota tinha que ser rápida para que voltasse a tempo, correndo pelo o camarim com um salto fino que era menor que seu número, pegando o seu próximo figurino e o colocando o mais rápido possível enquanto a cabeleireira arrumava seu cabelo. Entraria três vezes, isso deveria a deixar animada, mas não conseguia demonstrar felicidade.

Havia batalhado tanto para chegar onde estava, não havia sido nada fácil se tornar uma das supermodelos mais famosas dos anos noventa, não era fácil se manter nesta posição principalmente sendo uma mulher amarela, mas ainda sim, Jennie conseguia este feito, e deveria se sentir orgulhosa por isso, mas por algum motivo desconhecido, ela não se sentia realizada, se sentia péssima, e se odiava por isso. Mesmo com todo o amor de seus fãns a mandado inúmeras cartas apaixonadas, mesmo estando no topo do mundo, mesmo sendo a modelo com mais capas na Vogue, mesmo tendo a vida perfeita de um sonho americano.

Mesmo assim...

Mesmo assim, não se sentia livre.

Quando o desfile terminou, Jennie se arrumou, colocou uma roupa simples que finalmente a fazia respirar depois de usar dois vestidos apertados e brilhosos que ofuscavam a visão de qualquer um. Esperou por seu noivo na porta dos fundos enquanto fumava um cigarro que já se encontrava em seu fim, estava ficando estressada.

O Chevrolet Opala parou em frente da porta dos fundos daquele lugar, o garoto dentro do carro sorriu para Jennie que sorriu de volta forçadamente, se levantou e jogou a bituca de cigarro no chão. Abriu a porta do carro.

O homem a beijou e ela retribuiu sem nada a fazer, não se lembrava quando havia deixado de sentir sentimentos por Thomas, na realidade, não sabia nem mesmo se já sentiu sentimentos puros pelo o garoto, o casamento, o noivado, Jennie não sabia se deveria prosseguir com essa ideia, se casar com um homem que já não ama mais, ou que talvez nunca amou, com certeza, não era algo a se escolher.

Todavia, Jennie continuava neste teatro, afinal, não seria agradável desistir de se casar com ele, Thomas era um homem rico, poderoso, se Jennie queria continuar no topo, ela tinha que seguir com a encenação, mas ela queria mesmo? Queria estar no topo? O que ela queria?

A casa começou a aparecer sobre a névoa, uma mansão de três andares, com um belo jardim e um portão luxuoso. Jennie sempre achou que seria feliz quando tivesse tudo isso.

— Querida — Thomas a chamou.

Ela desviou o seu olhar da janela e mirou nos olhos do homem sem dizer nada. Thomas sempre ficava aflito quando Jennie o olhava com aquele olhar mórbido. Ele já não sabia o que fazer.

— Então — ele suspirou — Como foi o desfile?

— O mesmo de sempre.

— Eu queria ter ido, mas estava ocupado, me desculpa — Thomas disse dirigindo o carro para dentro da casa.

— Sem problemas — Jennie desceu do carro e Thomas a acompanhou.

— Eu estava pensando, já que não está ocupada, por que não cozinha? Você adora cozinhar, não é?

Jennie suspirou e olhou para baixo com tristeza.

— Estou muito cansada, talvez outro dia — mentiu. Abriu a porta e foi direto para o seu quarto. Fechou a porta e lágrimas cortantes desceram pelo o seu rosto imediatamente. Lágrimas incontroláveis, que pareciam dizer “socorro”, mas ninguém a ouvia.

Jennie caminhou até a cama, mas antes, olhou para o grande espelho iluminado.

Sua maquiagem borrada, olheiras em baixo dos olhos, lábios pálidos, seu rosto parecia falar por si mesma, parecia gritar por si mesma, entretanto, Jennie insistia, enxugava as suas lágrimas e ignorava, ignorava os gritos estrondosos os sufocando dentro de seu coração, que sangrava, sangrava a ponto de extravasar entre as brechas, escorrendo o líquido vermelho por toda a alma de Jennie, que por fim, se deitou na cama e dormiu, torcendo para não acordar.

L'appel Du Vide | ChaennieOnde histórias criam vida. Descubra agora