A Bailarina

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Corredores escuros, camarins e bancos vazios, a ópera estava silenciosa e coberta de poeira, mas o palco era iluminado por um candelabro, onde uma bailarina de branco seguia dançando, o cabelo escuro estava preso num coque alto por uma fita rosa e os olhos negros observavam o movimento das pálidas e magras mãos, a moça rodopiava e ficava nas pontas dos pés.

–Mais uma vez! Eu serei como ela!– Exclamou sua voz suave e cansada.

Ela retornou ao centro do palco, fazendo uma reverência para a plateia invisível. Rodopiou pelo palco sujo, equilibrou-se em um pé e se curvou graciosamente, mostrando a habilidade a ninguém além dos espectros escondidos pela ópera, a jovem movimentava os braços e as pernas elegantemente enquanto sorria.

–É isso, Margarida! Sei tão boa quanto você, verá que me tornarei tão famosa ao ponto de te fazer ser esquecida!– Riu.

Ana parou e abriu os braços na direção da plateia fantasmagórica, curvou-se e voltou a rodopiar, seguindo a música que ecoava apenas em sua mente desesperada pela fama. A jovem sorria, pulava graciosamente de um pé para o outro, movias os braços e se equilibrava e dançava como se não houvesse amanhã, imaginando o pânico da loira Margarida quando a visse dançar daquela maneira e os elogios que receberia dos donos da ópera, os rapazes que se apaixonaram por ela e o orgulho que os pais sentiriam quando ela contasse sobre a fama.

–Ela nunca para, senhor, não seria melhor falar com ela?– Perguntou uma voz feminina em um dos camarins.

–Se eu o fizer, nunca mais a verei dançar e isso me deixará muito triste– Respondeu a voz masculina.

–Mas...– O fantasma azulado de uma moça, de cabelo comprido e vestido simples, se calou ao receber um olhar furioso.

–Eu quero vê-la dançar pela eternidade, o que te impede de entender?– Indagou o espírito cinzento de um príncipe de cabelo curto e roupa de gala antiga.

–E o que acontecerá quando a ópera for destruída no futuro, senhor?– Indagou a dama.

–Talvez desaparecemos– Ele deu os ombros.

–Sim, mas e a bailarina, senhor?– Pediu o fantasma feminino.

–Desaparecerá com a ópera, ela não é como nós, pois sabemos como morremos, mas ela...foi morta enquanto dormia por aquela que ela queria superar, Margarida– O príncipe olhou a bailarina, que dançava e sorria. –Não há problema em deixá-la dançar até desaparecer, ela estará feliz e eu estarei feliz em assisti-la.

–Irei avisar aos demais para que não se aproximem dela– A serviçal se retirou do camarim.

–Até o fim dessa amaldiçoada ópera, eu a verei dançar e sorrir, pequena bailarina, quem morreu por causa do medo daquela que ocupava o posto de "diva", você que deveria ser chamada de "diva" pelos vivos e não roubar o coração de um fantasma antigo, mas gostaria que soubesse, sem desaparecer, que você é a minha diva pela eternidade– O fantasma sorriu e se inclinou para ver a eterna bailarina.

Trilogia Fantasmic (Contos) {Segunda postagem}Onde histórias criam vida. Descubra agora