DIA DA FAMÍLIA I

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Sempre considerei o meu pai um livro aberto. Um homem propenso a atos reprováveis e demonstrações exageradas de afeto. Mas quando era aluno, cometeu um homicídio aqui em Nunca Mais. Será que conheço mesmo o meu pai? O que aconteceu naquela noite? Ele matou mesmo aquele homem? Eu não sei, ainda tenho dúvidas. Enquanto penso sobre isso, vejo Wandinha entrar no quarto.

- Sua família não te deu educação, Wandinha? - pergunto.
- Me deu. - retruca ela. - está preparada pra ver seus pais?
- Os SEUS pais? Não muito. Sabe como eles são. - digo.
- Vamos nos esconder? Ficar na biblioteca de Beladona, precisamos agir.
- Ou podemos encarar isso. Vamos, não é difícil.

Descemos para encontrarmos nossos pais. Wandinha não liga para os acontecimentos dos dias anteriores, acho incrível como ela absorve e esconde tudo para si, eu não julgo, no fundo, eu gosto de como ela lida com os seus assuntos, eu normalmente encaro de frente e sem medo, mas Wandinha, ela planeja tudo em silêncio, com detalhes e espera para dar o bote. Eu gosto disso.
Ao chegarmos, vemos Gomes e Morticia Addams entrando em Nunca Mais, mas sem o Feioso. Ah sim, o Feioso veio. Feioso é o caçula Addams, o que recebe todo o sofrimento só pra si, as vezes sinto pena em como Wandinha o faz chorar, mas depois passa.
Eles caminham em nossa direção, sorridentes e felizes, com bastante melosidade e, bem, não sei, afeto.

- Nunca Mais foi criada como um porto seguro para os nossos filhos aprenderem e crescerem, não importa quem ou o quê eles sejam. - fala a diretora Weems. - Sei que ficaram sabendo sobre o infeliz acidente com um de nossos alunos.......
- Infeliz acidente. - diz Wandinha. Eugene foi sozinho para a mata na noite da Rave'N. Eu soube do ocorrido no dia seguinte. Parece que ele foi atacado pelo monstro.
- Mas fico feliz em comunicar que Eugene está melhorando e tendo uma recuperação ótima. Vamos pensar positivo. - termina ela o seu discurso.
- Melhorando?
- Foi visita-lo? - pergunto.
- Não, por minha causa ele está no hospital.
- Não é sua culpa.

Enquanto isso, observamos nossa família vindo e chegando cada vez mais perto de nós. Eles olham ao redor e observam casa detalhe. E eu os acompanho. Devíamos estar usando nossa máscara da peste.

- Vamos acabar com isso? - digo a Wadinha.

Caminhamos até nossos pais e nos encaramos por alguns segundos.

- Olha elas, que saudade da minha doce Stacy e do olhar de desprezo da minha Wandinha. - diz papai.
- Stacy, minha coroa de Espinhos. Esta linda como sempre e Waninha, como você está minha nuvenzinha de chuva? - pergunta mamãe.
- Achei que Mãozinha lhes contavam tudo. - reponde Waninha. - Achavam que eu não ia descobrir?
- Nos contem tudo. - diz mamãe.
- Desde quando entrei aqui fui caçada, assombrada e alvo de tentativa de homicídio. - reponde Wandinha.
- Mas estamos bem e esse é o importante. - digo.
- O importante é o que importa. - diz Feioso.
- Feioso, está mais.... redondo? - falo.
- comi panquecas. - diz ele feliz.
- Como eu amo Nunca Mais. - finaliza papai.

Nos viramos e caminharmos pela escola, papai e mamãe não param de falar o quanto amam Nunca Mais e como era na época deles. É um tédio.
Passa o tempo, passa o tempo e chegamos a sala da diretora Weems. Mamãe e ela são da mesma época, eram colegas de quarto, meu Deus, devia ser o caos. Elas estão sempre sorrindo, trocando indiretas e sendo irônicas. É até divertido. Enquanto eles conversam sobre Wandinha, eu saio com Feioso e encontro Xavier.

- Pugsley? Como você tá? - pergunta Xavier.
- Eu estou bem, sabia que comi panquecas?
- E não trouxe pra mim? Ah, você me paga. - diz ele fazendo cócegas no Feioso.

Xavier se dá bem com crianças e ele sempre trata meu irmão bem, ele é tão gentil e fofo. Não quero ter filhos, tenho 17 anos e ainda é muito cedo para se pensar nisso. Vamos até o rio e ficamos sentados contando histórias e comendo pipocas que o Xavier trouxe. Feioso gosta de histórias assim como Xavier, então isso ajuda eles a terem um contato social. Depois de um tempo voltamos para Nunca Mais.

- Te vejo depois? - diz Xavier.
- Te vejo depois. - o respondo enquanto ele se despede com um beijo.
- Vocês são nojentos.
- Não vai ser nojento quando for sua vez, Pugsley. - diz Xavier rindo.

Caminhamos até encontrar nossa família. Eles não estavam mais com a diretora Weems, então tivemos que procurá-los.







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