Acho que ouvi da minha mãe, quando ela estava murmurando coisas sem sentido e se arrastando pelo corredor no meio da noite com aquela maldita perna esquerda manca, que o nosso vizinho Sr. Cunningham tinha amarrado uma corda no ventilador de teto e tirado a própria vida.
Eu não acreditei, minha mãe tinha o péssimo costume de se embebedar antes de dormir e ficava tão entorpecida - falante e ambulante - que eu nunca a levava a sério, mas um dia depois da sua "nota de falecimento", o Sr. Cunningham estava morto e a causa era "desconhecida". Mas todo mundo da rua já sabia.
Não era surpresa nenhuma que o Sr. Cunningham tinha depressão e pensava em suícidio. Assim como os outros moradores da rua 21 - uma rua sem saída com apenas sete casas -, ele raramente saia de casa e nunca recebia visitas, mas mesmo assim eu queria confirmar com meus próprios olhos que o cara que morava na frente da minha casa; o cara que eu às vezes observava da janela do meu quarto e o cara que usava óculos e mocassins estava mesmo morto, branco e inerte no chão sem o mínimo de pulsação para reanimação.
Não queria vê-lo porque eu me importava com ele e sua face carrancuda que não agradava ninguém, queria apenas confirmar a mim mesmo que nunca mais veria o rosto vivo dele da minha janela e que ele já estava nas garras da sua sobrinha maligna - e magnífica -; Dakota Stanks.
Dakota Stanks, também conhecida como a "herdeira milionária e estéril" - adjetivos que ela utilizou para descrever a si mesma quando foi entrevistada por uma revista (eu acho que "maníaca por controle" já bastava) - foi a primeira moradora da casa amarela até seu tio depressivo (irmão da mãe pelo que ouvi) vir morar junto. Ela contratou os melhores arquitetos e pediu que sua casa fosse exatamente do jeito que queria: grande, espaçosa, chamativa e "a casa mais bonita da rua 21".
Óbvio que suas exigências foram atendidas, se não pela persuasão do seu dinheiro então pela persuasão de apenas ser Dakota Stanks e ter uma beleza tão invejável que nem a perfeição conseguiria defini-la.
Era por isso que ela era uma das mais odiadas da cidade - por ser bela e maluca -, ela tinha apenas vinte e três anos e agia como uma lunática deliberada; não se preocupava em como devia se vestir ou se portar e nunca ia na igreja, também não guardava segredo de com quem dormia independente se fosse homem ou mulher. As pessoas diziam que ela havia perdido a cabeça quando seus pais "morreram" e que fez um pacto com o diabo - decerto ela mesma era o diabo - , mas eu acho que Dakota sempre foi louca - e magnífica - porque, pelo amor de Deus...como eles nunca perceberam?! Ela era meio hippie.
A mulher queria a casa amarela mais bonita da rua e conseguiu a casa amarela mais bonita da cidade mas quando ela morreu, ironicamente, pendurada por uma corda no ventilador do quarto, a casa mais bonita virou a casa mais estranha porque justamente na semana do Halloween seu pescoço fraturado foi apenas o primeiro entre quatro - agora cinco e que o diabo tenha misericórdia da alma do Sr. Cunninghan porque eu não acho que ele foi pro céu.
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PARA SEMPRE 21
ContoEm uma rua com sete casas, onde apenas seis são habitadas, os doze moradores compartilham um vínculo único que não é apenas baseado no amor pelo Halloween. Talvez seja a rua e tudo que ela esconde. Ou talvez seja algo a mais. Ninguém ousaria entende...