Painful - 2son

Capítulo I

[❦❦❦]

O Brasil lutou como podia no seu primeiro encontro com um europeu, mas havia perdido nos pênaltis...

Acabava ali, diante de milhares de pessoas, o sonho do hexa daquele ciclo... A tão desejada sexta estrela escorregava pelos dedos da Seleção mais uma vez...

A bola na trave de Marquinhos na última batida resumia o jogo de forma dolorosamente poética, de um time que foi do céu ao inferno por causa de um pequeno erro.

No meio daquele cenário desenhado com emoções contrastantes, Richarlison estava sendo sufocado por uma onda intensa de sentimentos negativos que o atingiam de maneira misturada e desordenada. Ele sentia que não havia oxigênio suficiente naquele estádio e nem mesmo naquele país para encher seus pulmões e conseguir parar de afogar..

Tristeza...

Frustração...

Dor...

Raiva...

De quem? Ele realmente não sabia.

O Brasileiro nunca tinha se sentido daquela forma antes, não ao mesmo tempo, não com tanta força: Ele tinha certeza que se ouvisse uma piadinha sequer, não seria responsável por suas atitudes naquele momento e alguém ficaria com alguns dentes a menos dentro da boca.

Richarlison olhava para seu redor devastado: Seu grande ídolo e amigo Neymar estava chorando copiosamente e sendo consolado por alguém do time, que estava na beira de se juntar ao choro, assim como Rodrygo, que talvez carregaria para sempre a dor de ter perdido o primeiro pênalti, apesar de ser um garoto... Os outros estavam ou caídos no chão, tentando esconder em vão as lágrimas ou andando sem rumo no gramado com uma expressão sofrida e dolorida...

Ele não queria ver seus amigos assim...

Algumas lágrimas começaram a embaçar a sua vista e escorregar de seu rosto. Agora ele sabia a sensação de não ter feito o bastante, não ter feito a diferença quando deveria. Tinha aprendido da pior forma possível o significado frio e cruel da palavra insuficiente.

A raiva no seu coração não tinha direção alguma, era como um incêndio que queimava de forma incontrolável e selvagem: Quem ele deveria culpar? A Croácia? Eles apenas estavam lutando pelo sonho deles. Seus amigos? Nunca nem deveria cogitar tal coisa, foi por causa deles que estava ali. Seu professor? Ele viu Tite gritar do banco, o que era raro, instruções para que eles pudessem manter o jogo na mão deles.

Tudo que lhe restava, era a si mesmo e a sua falta de utilidade no jogo, já que ele não tinha feito nada de útil quando teve a chance...

Ele cerrou os dentes com tanta força, que imaginou que se apertasse um pouco mais sua mandíbula iria quebrar, e olhou para um ponto qualquer. De longe, qualquer um que visse aquela cena, teria a certeza que estava protagonizando o olhar de um anjo caído: Que teve suas asas cortadas, seu sonho destruído na sua frente e que tudo que lhe restava era raiva e frustração.

Depois de um tempo, ele suspirou totalmente exausto daquilo tudo.

Logo iriam mandá-los para o vestiário e para casa, então sua mente, ainda perturbada, decidiu fazer o que todo bom cidadão brasileiro de bem e comum faz quando está sofrendo...

Afogar as mágoas, beber como se sua vida dependesse disso...

Foda-se se o Catar restringia bebidas alcoólicas, se não gostavam do excesso de álcool. Tudo que ele queria naquele momento era não estar sóbrio o suficiente para sequer pensar e muito menos lembrar que aquilo tinha acabado de acontecer.