A FÉ É O LIMITE

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     D. Gilberta, 71 anos, nascera, se criara e vivera a maior parte de sua vida na Cidade de Jacobina, interior do Estado da Bahia. Lá, casara-se com Sr. Augusto; tivera dois filhos, Marli e José Augusto. Mais tarde, os filhos cresceram e foram para a capital em busca de novos horizontes. Os filhos conseguiram emprego em lojas de um grande shopping e alugaram uma casa num lugar chamado Caji, em Lauro de Freitas. Cidade da região metropolitana de Salvador. Enquanto isso, em Jacobina, Sr. Augusto se aposentara e, segundo D. Gilberta, passara a gastar todo o dinheiro da aposentadoria com bebida, jogo e mulheres... Esquecendo-se de suas obrigações de "pai de família", inclusive de contribuir para suprir a despensa com alimentos para as necessidades básicas da própria esposa.

    D. Gilberta, que ganhara um telefone celular de seu filho José Augusto, usa-o para seus contatos, quase diários, com os filhos em Salvador. Num desses contatos, conta para Marli, sobre o comportamento do marido, e do sofrimento e humilhação a que vem se submetendo, ultimamente. Tendo sido vítima, até de agressão física e moral. A filha fica penalizada em saber do sofrimento da mãe e sugere que ela largue tudo lá e vá morar com os dois em Lauro de Freitas. A casa não era tão grande, mas daria pra mais uma, tranqüilamente.

    E assim, as coisas aconteceram. Menos de trinta dias depois, de acordo com o que sua irmã e sua mãe combinaram, José Augusto está na Estação
Rodoviária de Salvador, aguardando a chegada do ônibus que trará D. Gilberta para morar com eles, na casa que alugaram, no Bairro do Caji.

    D. Gilberta é evangélica. Desde quando seus filhos eram crianças que ela tentara, inutilmente levá-los a, como ela, aceitar a Jesus. Agora, há dois meses em companhia dos filhos, depois de se familiarizar com o novo ambiente onde mora, de buscar contatos com os novos vizinhos, descobre, numa rua bem perto de sua nova residência, uma igreja da mesma religião que ela costumava freqüentar em Jacobina. E em pouco tempo, já está d. Gilberta, na sua nova vidinha, durante o dia cuidando da sua nova casa, preparando comida e lavando para os filhos e, à noite, freqüentando a igreja para louvar e dar glória a Deus! Claro, continuar fazendo a sua doação mensal, - dízimo - para ajudar na manutenção do templo.

    É fim de mês. Precisamente, dia 29 de novembro. D. Gilberta, que, a exemplo do marido, também recebe aposentadoria, está sem dinheiro para fazer o pagamento do dízimo do mês. O que sempre faz, religiosamente, no último dia de cada mês. Preocupada, pois o recebimento de sua aposentadoria somente ocorrerá a partir do dia 3 de dezembro, resolve pedir a José Augusto, para fazer um saque de empréstimo na A&B, usando o Cartão de Crédito da loja. O dinheiro seria, apenas o suficiente para o dízimo e, assim que recebesse a aposentadoria, guardaria a quantia correspondente para, quando a fatura chegasse, José Augusto fazer o pagamento.

    Assim as coisas aconteceram. Estava José Augusto sentado na poltrona da janela, de um ônibus que ía não sabia pra onde, mas que passava pela "entrada" de Lauro de Freitas. Subira no ônibus, quando ele passara na Estação do Iguatemi. Estava umas três fileiras atrás do motorista. Ao seu lado, uma senhora, muito educada e distinta segurando, além de sua própria bolsa, uma sacola dessas de compras. Sacola que, gentilmente, tomara para segurar, de outra senhora, de mais idade, até que esta última conseguisse uma poltrona para sentar-se... Ou, quando chegasse o ponto aonde desceria. O ônibus estava lotado e seguia, preguiçosamente, seu trajeto.

    Acontece que a senhora que estava de pé, desceu do ônibus, no ponto próximo à Loja Insinuante, ou Largo da Sereia, no Bairro de Itapuã, esquecendo a sacola de compras nas mãos da senhora distinta, que estava sentada ao lado de José Augusto.

    Quando o ônibus parou num ponto do Bairro de São Cristóvão, próximo ao Salvador Norte Shopping, a senhora distinta, olhou ao redor, procurando a senhora que deixara a sacola em suas mãos. Como não a encontrou, falou para José Augusto.

- Moço, o senhor viu aquela senhora que deixou esta sacola pr'eu segurar?

- Não. Deve ter conseguido um lugar pra sentar, lá por detrás... - Respondeu o rapaz, sem se preocupar muito com o assunto. E a senhora distinta continuou.

- Olha, eu vou ter que descer aqui. Deixe, por favor, esta sacola com o senhor, quando ela aparecer, o senhor entrega pra ela. - E, sem esperar resposta, entregou a sacola ao rapaz, que ficou meio "sem saber o que dizer".

- Tá bom. Deixe comigo. - Aquieceu, afinal.

    E a senhora distinta desceu do ônibus e seguiu o seu caminho.

    Bem, neste ponto começa o desfecho da história. Mas, para continuá-la e termos um melhor entendimento de todo o seu conteúdo, precisamos conhecer o seu início, cerca de quarenta e cinco dias atrás.

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