𝗹𝗶𝘁𝘁𝗹𝗲 𝗵𝗼𝗽𝗲 › 𝗁𝗒𝗎𝗇𝗅𝗂𝗑

02 ➵ Worried

Little Hope | Hyunlix

O SUOR já escorria pelo seu pescoço grudando os fios claros na testa, seu coração batia num ritmo tão acelerado quanto o galope do cavalo. Os campos amarelados pelo fim do outono passavam como um borrão pelos seus olhos. Os ouvidos atentos captavam outros sons atrás de si, ele sabia que tinham guardas tentando o parar, mas ele não poderia ser pego. Não entendia o porquê de Hyunjin ter o deixado sozinho e ido em busca do perigo. Félix sabia que entre os dois Hwang era o que tinha menos habilidades em lutas, todas as vezes que treinavam juntos era o ômega que o nocauteava.

Preocupado apertou com mais força o arco que trazia nas costas, sua bolsa pendia cheia de flechas, mas mesmo assim ele não se sentia seguro, tinha medo de não chegar a tempo e alguma coisa ruim acontecer com seu alfa.

Os barulhos se tornavam mais próximos agora, e Félix sabia que ainda faltava um longo caminho até a fronteira Norte de Daegu.

Olhou para o lado direito pelo canto do olho e observou em torno de quatro guardas passando entre as árvores com cavalos tão rápidos quanto o seu, do lado esquerdo mais guardas surgiam. Eles provavelmente estavam lhe emboscando. Sem raciocinar direito puxou as rédeas completamente para a esquerda e com um relincho o animal se pôs sobre as duas patas traseiras lhe derrubando de costas no chão.

Por um momento o ar lhe faltou com a pressão da queda, suas costas arderam e lágrimas finas brotaram no canto de seus olhos. Demorou alguns segundos até um rosto conhecido surgir em seu campo de visão, o cheiro de eucalipto chegou antes e inevitavelmente ele se sentiu mais tranquilo.

— Christopher. — a voz saiu fraca enquanto ele recuperava o fôlego. — O Jinnie, eu preciso salvar meu alfa!

O Bang lhe ergueu e limpou alguns capins que ficaram grudados em seu cabelo.

— É melhor você retornar alteza, nós já estamos indo ao encontro do rei. — Félix esfregava o ombro enquanto fuzilava o alfa com o olhar.

— Eu vou com vocês! Eu prometi que sempre estaria ao lado dele mesmo que fosse em uma guerra!

— Félix, por favor se acalma! Estamos seguindo ordens do rei. Ele nos mandou ficar de olho em você e mantê-lo protegido dentro do castelo.

Félix sentiu vontade de chorar. Estava dolorido e preocupado, se sentindo rejeitado pelo próprio alfa que não confiou em si em um momento delicado como esse.

— E se fosse o Changbin, hein?! E se fosse o seu ômega lá, correndo risco na fronteira com apenas dois guardas! Como você se sentiria se estivesse no meu lugar?

Christopher engoliu em seco e ficou sem palavras, pensou em seu ômega na mesma situação e lhe doeu imaginar ele sozinho esperando em casa enquanto Changbin corria risco de vida lá fora. Sabia que Hyunjin era forte, mas não era de aço e ver Félix sofrendo amoleceu seu coração. Poderia ouvir poucas e boas depois por ter ido contra a ordem do rei, mas Hyunjin era seu amigo de infância e entenderia a situação quando tudo se acalmasse.

— Certo, você tem razão. — ele pegou a bolsa de flechas e ajeitou o arco do outro nas próprias costas. — Mas não saia de perto de mim! Se surgir qualquer arranhão em sua pele meu marido vai ficar viúvo!

Félix sorriu pequeno antes de aceitar a ajuda do outro e subirem no mesmo cavalo, já que o dele havia fugido em meio a bagunça.

Os guardas seguiram a toda velocidade, comandados agora pelo pequeno ômega.

E em meio a descarga de adrenalina que tomava seu corpo lembrou-se do dia mais triste de sua vida, no qual sentia exatamente esse mesmo sentimento de impotência e preocupação.

"A manhã estava fria, a neve deixando todo reino gelado. Mas nada se comparava ao gelo que tomava o coração de Félix.

A água passava de morna para fria e seus lábios entreabertos estavam roxos, os dedos já estavam enrugados a um bom tempo. Ele se negava a olhar para baixo, se negava a lembrar o porquê de aquela água estar vermelha com seu sangue espalhando lentamente e se acumulando no fundo da louça.

Não sentia dor, não sentia mais nada, estava morto por dentro.

Ouviu algumas vozes altas vindas de seu quarto e somente fechou os olhos, não estava preparado para saber qual seria a reação de Hyunjin.

— Onde ele está? Por que deixaram ele sozinho?! — a voz grave soava quebrada enquanto a maçaneta da porta era aberta com pressa.

O cheiro de rosas estava forte, ele sentia pela marca a preocupação do marido, mas tinha medo de ouvir o que ele poderia lhe dizer.

Sentiu as mãos grandes tocarem seu rosto e um leve tremular vindo destas.

— Félix meu anjo, abra os olhos! — o ômega se permitiu abrir os olhos e se sentiu extremamente culpado ao ver os olhos de seu alfa repletos de lágrimas.

Seu corpo foi erguido da porcelana fria e envolto numa toalha felpuda antes do alfa o pegar no colo com toda a delicadeza que havia em seu ser.

— Me desculpa, eu não consegui Jinnie. — a voz quebradiça e chorosa escorreu para fora dos lábios arroxeados.

— Shh, não diga nada. Não foi culpa sua meu amor, nosso anjinho voltou para o céu porque era a hora dele retornar. Eu que preciso me desculpar por estar ocupado num momento tão delicado.

Hyunjin secou seu corpo com carinho e fingiu não ter sentido uma leve pontada no coração quando seu ômega tentou esconder o corpo fragilizado de si. Ele o vestiu num pijama leve e se deitou com o corpinho minguado embaixo dos cobertores, abraçou com carinho o marido e deixou que ele chorasse em seu peito até soluçar. Era difícil para ele, mas precisava ser forte para seu ômega, sabia que Félix sofria muito mais, pois sempre que um aborto espontâneo ocorria a culpa se decaia toda no ômega.

— E-eles vão dizer que sou um ômega fraco, eu não consegui sequer trazer nosso filho ao mundo Jinnie! — Félix sabia que tudo que ocorria com os reis precisava ser relatado para os ministros e quando estes soubessem seria pouco tempo para seu nome estar correndo na boca do povo.

— Ninguém precisa saber meu bem, eu nunca deixarei que lhe tratem assim. Nosso filho é um anjinho que estará sempre olhando por nós.

E ele cumpriu a promessa, os poucos servos que sabiam do ocorrido nunca comentaram sobre o que aconteceu naquela tarde e para todos Félix havia apenas ficado resfriado naquela semana gelada.

A dor continuaria para sempre marcada em si, embora agora fosse apenas uma cicatriz curada com todo o amor e carinho de seu alfa."