11. Corrida no parque

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Manhã de domingo pós festa, acordei em São Paulo sem nenhuma pressa. Vesti minha roupa de ginástica, calcei os tênis e fui para o Parque do Ibirapuera queimar os excessos da noite anterior.
Minha conhecida hora de parque dos dias de semana tinha ficado para trás, e o público era diferente do que eu costumo encontrar. Menos corredores e mais gente passeando.
No portão de entrada cruzei com três orientais que riam e falavam na sua língua de uma terra tão distante. Mais adiante um sujeito pedia um coco, em italiano, como se estivesse no seu país, e era atendido pelo vendedor da barraca, também italiano, no mesmo idioma. Quando foi a vez do brasileiro, o vendedor "virou a chave" e respondeu em português. Torre de Babel.
Um grupo de corredores, suados e com cara de "missão cumprida" vinha em minha direção. Para mim, portão de entrada do parque. Para eles, portão de saída.
Na área dos equipamentos de ginástica parei junto às barras para me alongar. Ao meu lado um casal jovem se exercitava ao som de uma dupla sertaneja. Um pouco mais adiante uma mãe com traços orientais ajeitava um bebê no carrinho enquanto sua filha mais velha, uma figurinha de mangá, rebolava, pegando carona no ritmo sertanejo.
Alongada, comecei a correr
Famílias inteiras caminhavam lado a lado, muitas vezes três gerações. O ritmo de cada um era ajustado para que pudessem seguir juntos. Cadeiras de roda, carrinhos de bebês, crianças com brinquedos, jovens de porte atlético. Casais de mãos dadas, de todas as idades.
Cruzei com dois homens que falavam espanhol. Cinquenta metros depois, duas mulheres também conversavam em espanhol - provavelmente casais amigos separados por assuntos e ritmos de caminhada diferentes.
. Um pouco mais adiante dois passeadores de cachorros, rodeados de cães por todos os lados, conversavam. Impossível saber do que falavam, tampouco em que idioma, já que o mar de cachorros – contei treze – me obrigava a passar longe deles.
Dois guardas municipais, um ruivo e um negro, faziam a ronda do parque e passaram por mim de bicicleta.
Sem perceber diminuí o ritmo para curtir a música de uma dupla que tocava violão e cantava num inglês sem sotaque, chapéu virado para cima no chão e CDs num mostruário improvisado. Impossível concluir se eram brasileiros ou não. Me dei conta da minha distração e acelerei novamente.
Já na segunda metade da volta, cruzei com os mesmos passeadores de cães, que agora eram quatro – outros dois haviam se juntado a eles - e mais de vinte cachorros, que eu nem tentei contar, numa cena digna do Central Park de Nova Yorque.
Deixei para trás o que parecia serem duas professoras encarregadas de uma turma de crianças brancas, pardas, negras e orientais, sem que predominasse uma cor. Um passeio escolar num domingo? Ficarei sem a resposta.
De tão distraída, tinha me esquecido da minha trilha sonora "de corrida". Coloquei os fones no ouvido e segui correndo pelo parque que, pela beleza, tamanho e frequência, poderia estar em qualquer grande metrópole de qualquer país do mundo.
Lembrei da frase que ouvi: "São Paulo é terra de imigrantes". Pensei na coragem e na história dos familiares daquelas pessoas com quem cruzei que, por vontade de melhorar de vida ou mesmo por necessidade, deixaram o conforto e segurança do que é conhecido para recomeçar a vida num lugar diferente. Brasileiros do norte e do sul, do centro, do leste, oeste e nordeste, e estrangeiros de todo o mundo que imigraram para tentar melhor sorte, integrados aos que já estavam aqui: uma mistura de gente no parque que tem minha admiração e aplausos!
Voltei para casa suada, cansada e feliz, uma carioca morando em São Paulo, me sentindo parte de um "caldo" que deu certo.


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