"Há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida.'"
provérbio chinês
Erika.
Brasil, 16 de julho de 2031.
Aos treze anos, minha única preocupação era não deixar minhas amigas na mão no shopping. Não gosto muito de ir lá, mas a Aysha insistiu bastante. Se fosse por mim, passaria o dia inteiro jogando videogame. Naquele ano, eu estava muito viciada em um jogo de fantasia, todo em japonês. Esses jogos sempre enchiam meu coração sonhador.
Nessa incrível experiência de viver aventuras virtuais, a cada dez falas pronunciadas pelo meu avatar, eu não entendia nenhuma.
Mas no jogo, modéstia à parte, eu sempre fui muito boa. Estava enfrentando um boss em dupla. O jogo permitia chamadas de voz enquanto enfrentávamos o chefe da masmorra. Naga, meu colega de clã, estava me perguntando o que fazer. A batalha estava equilibrada. Meu avatar, Izanami, estava se mostrando um oponente à altura do nosso inimigo. Então, de repente, o chefe liberou mais duas barras de vida, e aqui estou eu, dando dicas sutis para o Naga.
— Naga, me ajuda, desgraçado! Não fica parado que nem uma árvore, sua besta quadrada.
— Eu não posso dar dano nele, somos do mesmo elemento, o gelo — diz Naga com uma mansidão na voz.
— Ele vai me matar, seu animal! — falo aos berros.
— Você é uma sacerdotisa, pode usar magias de selamento nele.
— Não posso, essa masmorra não permite uso de magias de selamento — esse menino me tirava do sério às vezes naquele jogo.
— Você devia ter mudado para classe guerreira, Izanami! — ele diz rindo, o que me enfurece.
Após muita relutância e brigas, Naga sai de sua posição de olheiro e passa a me ajudar. Vencemos por muito pouco. Por mais que a gente discuta, somos amigos. Só acho ele muito lento para ações, tanto na vida como no jogo. Dizem que algumas pessoas na vida real são de um jeito e no jogo se soltam, mas o Yuri, vulgo Naga, é do mesmo jeitinho. É fofo, entretanto consegue ser uma lesma para tudo.
Minha mãe bate na porta e pede para que eu arrume meu quarto antes de sair com minhas amigas. Diz que à noite teremos que ir a uma festa importante. A avó de uma garota dará um festão para ela.
— Ela já foi uma paciente minha e quero que a senhorita se comporte. Não me faça passar vergonha — diz minha mãe, levantando uma sobrancelha.
— Ok, mãe, vou ser uma múmia ou melhor, uma mosca grudada na parede — respondi com um tom de ironia.
Minha mãe demonstra um leve sorriso, tentando segurar a risada, e sai. Agora, basta arrumar meu quarto, que por sinal fica a três cômodos de distância de onde meus pais dormem. Não escrevi antes aqui, mas meu quarto é cheio de roupas em desordem.
As gavetas estão lotadas de sutiãs que estão a um ponto de envergar. Nunca liguei tanto para a aparência, então havia vezes que saía até com roupas amassadas. Minha puberdade começou tarde, assim como a minha organização. Nessa época, lembro de ter um notebook para jogos e tarefas da escola. Nunca descuido dos estudos por mais que jogos de RPG me prendam. Após organizar tudo que era possível, pensei na roupa para ir, algo que não fosse muito infantil. Após algumas horas perdidas, optei por uma blusa justa na cor vermelha, fazendo par com um short preto.

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O Som do vento (volume 1)
RomanceCrescer nem sempre é algo comum ou fácil. Ás vezes sentimos alegria e tristeza ou até mesmo raiva, vivemos a base de emoções e também momentos, de forma inesperada algumas histórias de vida se entrelaçam nesse redemoinho de sensações diante ao caos...