Capítulo 1.

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"Eu quero alguém que me ame pelo o que eu sou."

A frase mais clichê na história de romances clichês, e isso é dizer algo. Nada contra romances clichês. Amo eles. Só que é sempre essa mesma frase que me incomoda. Interrompo a leitura para examinar aquele amontoado de letras tão ofensivo, me perguntando pela primeira vez o motivo por trás delas.

'O que é esse amor?' penso amargamente.

Você deve pensar que aos 19 anos é suposto que alguém já tenha ao menos um pouco de conhecimento sobre o assunto, correto? Amor familiar, amor fraternal, idolatria, são formas de amor, não? Então porque são pequenos quando comparados ao amor romântico? A verdade é que nunca me apaixonei, não de verdade, nunca senti as borboletas rodopiando meus órgãos e os transformando numa grande bagunça, nunca tive meu coração acelerado por algum motivo outro que a adrenalina de correr na pista de 300 metros nas aulas de educação física. Eca. Estou desviando do assunto, não é? Bom, o ponto que quero chegar é que não acredito no amor romântico, não em um com futuro. Após tantas decepções midiáticas, o que confesso, não foi minha ideia mais genial, "Quem deposita suas expectativas em casais de famosos que nada sabemos de verdade?" eu lhe respondo, a geração Z. E eu sou parte dela, infelizmente (?).

Decido que devaneei demais por uma manhã. Ergo o olhar para a direita onde sei que meu relógio digital (uma relíquia, daqueles que você tem que dar batidinhas para parar de apitar o alarme alto demais para um horário tão precoce) se encontra, sete horas e quinze minutos são marcadas em vermelho no visor. Penso sobre como o relógio está levemente virado para a esquerda -direção da cama- e tento não me importar. Falho. 'Um, dois, três'. Levanto da cadeira levando comigo o livro fechado, esqueci de marcar a página.

- Droga. – A palavra sai por meus lábios antes mesmo que eu perceba. Agora terei que colocar uma moeda no "vidro das malcriações". Foi ideia do Porsche, quando éramos mais jovens ele percebeu que seria uma má influencia para mim se continuasse a repetir as palavras que ouvia no bar em casa, então ele pegou uma jarra de geleia e determinou que ambos deveríamos "manter palavras de baixo-calão" fora de casa. De início a ideia pareceu ótima porque quando o vidro ficasse cheio, o dinheiro iria para algum brinquedo que eu desejasse na época. Hoje em dia não me agrada tanto, mas devo dizer que funcionou, afinal você conhece alguém de dezenove anos que não xinga (muito)? Prazer, Porchay.

Paro em frente a cômoda. Dou uma última olhada no relógio torto, e estico o braço para guardar o livro na pequena tábua que serve como prateleira acima da minha cama. Respiro fundo algumas vezes, tentando me acalmar. Um barulho alto e agudo me distrai do impasse, 'Porsche'. No caminho da porta agarro a alça da minha mochila, que estava no chão e encostada na minha mesa, e sigo para a sala. Penso em pular dois degraus por vez antes que Porsche chame por mim mais uma vez e perca a pouca paciência que tem, penso também em todas as formas que tal ação poderia me levar até o hospital, certamente com uma conta cara que não temos como pagar, o que iria deixar Porsche menos feliz ainda, além claro da preocupação com meu bem estar. Meu irmão me ama. Muito. Eu o amo também, mais do que gosto de admitir em voz alta. Um degrau por vez será.

A sala está limpa -estranho- e só é preciso virar à esquerda para ver Porsche preparando meu almoço.

- A sala 'tá arrumada. – Digo me apoiando na mesa. Porsche está com alguns potes e bacias na bancada oposta à mesa, e não deixo de observar que a pia está limpa. As louças que sempre ficam apoiadas no seca-louças após serem lavadas? Não podem ser encontras. Muito estranho.

- "Bom dia, Porsche. Como você 'tá, Porsche?" Bom dia, maninho, eu 'tô bem e você? - Porsche se vira lentamente, as mãos ainda ocupadas com uma quantia de arroz mais que o suficiente para me alimentar.

Mr. Brainy & the Heartbreak Prince Onde histórias criam vida. Descubra agora