Capítulo 2.

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Um, dois, três.

É o número de quadras que preciso andar para chegar ao ponto de ônibus. Sim, não tem um ponto de ônibus mais perto da escola. Suponho que seja porque não é necessário, afinal todos os alunos têm carros com motoristas para buscá-los na gloriosa entrada principal. Suspiro. Talvez eu devesse ter aceitado a carona de Kimhan.

- Dez minutos mais desconfortáveis da minha vida, mas seriam apenas dez minutos ao invés de trinta.

Falar comigo mesmo se tornou um hábito, não sei quando começou, mas suspeito que tenha tido influência de Porsche. Meu irmão sempre fala sozinho enquanto caminha pela casa. Me acalma, falar comigo mesmo pode me fazer parecer louco, mas traz minha mente para o momento, não permite que meu cérebro perca o rumo e desencontre o caminho de volta.

Sento no banco e espero durante alguns minutos até que o próximo ônibus passe. Macau vai ter que me emprestar o carregador para eu avisar Porsche que chegarei um pouco mais tarde.

Quando desço do ônibus, conto meus passos até a casa de Macau, quer dizer, os portões da casa. Macau mora em uma mansão. Com direito a jardins que se estendem por mais do que deveria ser permitido, e uma grande entrada. Tem elementos ocidentais, com detalhes que lembram a época da regência. É um prédio antigo, mas claramente bem cuidado.

Vejo o carro de Kimhan estacionado perto da entrada e prefiro ignorar a lembrança da conversa no horário do almoço. A senhora que atendeu ao interfone quando cheguei me espera na porta, informando que me levará até Macau. A sigo pelos longos e confusos corredores enquanto cruzo os dedos e torço para não encontrar o pai de Macau, ou seu irmão, ou Kimhan.

Subimos dois lances de escadas, cobertas por um carpete vermelho e corrimões dourados. Nas paredes há diversas pinturas da família, e internamente penso se isso não deveria ser um novo termômetro para riqueza. "O quão rico você é?" "Rico o suficiente para ter quadros pintados a mão da minha família." Seria legal um dia ser rico o suficiente para ter um quadro meu e de Porsche, ou talvez eu possa pintar uma foto nossa eu mesmo.

Um pigarreio me traz de volta. Certo, chegamos em frente ao quarto de Macau. Sorrio para a senhora e agradeço-a antes de me virar e bater na porta.

- Entra! – a voz abafada de Macau atravessa a grossa madeira escura da porta.

A primeira coisa que noto quando entro no quarto é que Macau não parece doente.

- Por que faltou? Você não parece doente para mim.

Macau ergue uma sobrancelha. Sei que não vou gostar do que vou ouvir.

- Kim disse que eu 'tava doente? – É, acertei. Odeio falar sobre Kimhan, principalmente com Macau. Suspiro e caminho até o sofá onde meu amigo está esparramado, um controle de videogame em suas mãos, dito jogo pausado desde o que imagino ter sido as minhas batidas à porta. Empurro suas pernas obrigando-o a se sentar corretamente no estofado escuro e me sento ao seu lado. A mochila escorrega de meus ombros com facilidade para o chão. Rolo meus ombros e aperto a região próxima de meu pescoço em uma pequena massagem antes de responder Macau que me observa irritado, pela minha demora em abrir a boca imagino.

- Kimhan não falou seus motivos, apenas disse que você não iria e queria as anotações ainda hoje. – Minha voz deve transparecer minha irritação com a situação, ou Macau apenas me conhece muito bem, porque solta um suspiro largando o controle no tampo de vidro da mesa de centro e se escora no apoio para braços, a perna direita subindo no sofá para que ele consiga ficar de frente para mim. Não mudo minha posição.

- Não adianta ficar emburrado comigo, Chay. Tentei te mandar mensagem, mas você não 'tava recebendo nenhuma, então tive que apelar 'pro meu primo. É, tecnicamente, mais culpa sua do que minha.

Mr. Brainy & the Heartbreak Prince Onde histórias criam vida. Descubra agora