TOXIC

C1 - Acônito

Acônito: planta Aconitum Napellus, usada por arqueiros na Antiguidade e Idade média para envenenar suas flechas. Apenas dez gramas são o bastante para matar um humano adulto.

Sintomas do envenenamento: salivação excessiva, falta de ar, tremores e aceleração dos batimentos cardíacos.

Ele era bom em prende-lo pelos cantos sem que ninguém notasse, deixa-lo sem palavras e então, devora-lo. Os lábios que sempre carregavam os sorrisos mais sarcásticos quando seus olhos se encontravam, nos cantos escuros se ocupavam de marcar sua pele nos mais variados tons. Aquele cara sempre fora um mal sinal, o pior. Mas também, era o vício mais fácil de se ter, o melhor no que fazia por que fazia com vontade.

Talvez, ele só fosse bom em fazer com que os outros acreditassem que ele era alguém seguro de estar perto, por isso ninguém falaria nada sobre ele puxar o mais velho pelos corredores com a desculpa de uma "conversa importante".

É claro, houve um caminho antes de chegarem a esse ponto. Antes de se agarrarem pelos cantos como bichos no cio, como se precisassem disso para respirar. Antes disso, quando ainda eram desconhecidos e o único calor que tinham um sobre o outro era o da disputa e da raiva quase sem sentido, foi onde as coisas começaram. 

Son Heung-min sempre soube, desde o segundo em que o brasileiro Richarlison de Andrade, entrou para o time - Tottenhem - que ele não era boa noticia. Ele tinha aquele ar de palhaço, ar "de brasileiro" os outros diziam, mas havia algo ali que não se encaixava. Era dificil dizer o que era, qual parte dele tinha algo errado. Mas ele não parecia tão bonzinho.

Deus, Son nunca quis estar mais errado. Era uma pena que ele não estava.

O coreano sabia que nenhum companheiro do seu time acreditaria nele, principalmente sem provas que aquele cara não era um brasileiro perfeitamente normal, que como vários outros, veio das periferias do seu país e alcançou um time melhor na Europa. Então fez algo do qual sabia que poderia se arrepender posteriormente: foi pesquisar a vida e o passado do brasileiro.

As pesquisas a princípio não o levavam a lugar nenhum, Richarlison parecia ser completamente normal por todos os ângulos que se olhava. E ele já estava pronto para admitir que tinha enlouquecido de fato, até que ele foi pego. E então ele sabia.

- Então ocupa seu tempo caçando sobre a minha vida, Hyung? - O inglês perfeito que saiu da boca do mais novo o fez estremecer. Aquilo não era nada como o que havia sido demonstrado até então.

- Richarlison! - A voz de Son saiu esganiçada. Ele não era um bom ator, pelo menos não tão bom quanto o homem a sua frente aparentemente, e o susto levou o melhor sobre ele. - Nã-não é isso. - Uma tosse forçada com a cabeça baixa para não ter que olhar para o olhar predatório a sua frente, e então contínua em um tom mais comum:

- Eu só estava curioso sobre você. Você não fala muito, então resolvi pesquisar.

- Não precisa mentir para mim darling. Se você quisesse simplesmente saber sobre mim, poderia ter me perguntado, vindo falar comigo. Você está caçando, caçando problemas. - O mais novo gira a cadeira em que o outro está sentado para que fiquem de frente um para o outro, então segura o queixo de Heung-min e olhando nos olhos dele, Richarlison continua em um tom baixo e perigoso: 

- Querido, você está me odiando sem motivo, procurando problema onde não há, então, eu vou te dar os motivos para me odiar, e você amara cada um deles.

- Nã-não sei o que você está falando, eu- 

- Suas mentiras vão te engolir Son. - A risada baixa e o olhar penetrante fizeram com que Son que tentava encarar o brasileiro, abaixasse a cabeça. - Não pense demais sobre. Vou te dar o que você quer, só não espere que os outros acreditem em você.

Enquanto Richarlison saia da biblioteca pública onde Son fazia suas pesquisas, o mais velho só conseguia pensar: 

"Se Deus realmente existe, ele fará com que isso não passe de um sonho e amanhã de manhã quando eu acordar, vou poder esquecer disso e nunca mais pensar no novato."

Não era um sonho. E a manhã do outro dia só seria pior se o próprio rei do inferno aparecesse na frente do mais velho e risse da sua cara antes de falar:

- Deveria ter mais cuidado com suas ações.