A espada sem lar

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No alto da colina, pode-se ver descendo o morro, seus passos cansados onde não há um lugar para voltar. Ele se aproxima do vilarejo, as pessoas o olham com a admiração e ao mesmo tempo com a pena de todo seu esforço. Suas cicatrizes são os espólios da guerra onde lutou bravamente por seus companheiros, que já não estão nesse mundo. Agora há paz, não há mais guerra, seus objetivos foram concluídos, onde um guerreiro luta quando não se tem mais algo para defender?
Ele se repousa em um banco, o vento parece trazer para si as lembranças de uma infância que não voltará. Ao olhar para suas mãos calejadas, são rapidamente preenchidas por lágrimas que caem de seus olhos exaustos. Sua angústia é evidente. E então um velho se aproxima e  se senta ao seu lado.
-Dia difícil, não é mesmo? - o senhor o pergunta mantendo seu olhar para frente.
-Vida difícil na verdade. - o guerreiro responde suspirando.
-Ela sempre é, talvez você não perceba, mas todo mundo luta uma batalha. - o velhinho emite um brilho. - Você sente que terminou sua jornada?
-Em tempos de paz, um guerreiro não sabe o que fazer.
-A batalha com espadas e lanças não é a única que um homem conhece, existe sempre algo novo para proteger.
-Será que eu consigo encontrar algo assim?
-Você ainda é jovem, existem muitas coisas que não viu, mesmo com minha idade, existem coisas que eu não vi. Tudo que precisa saber que enquanto está vivo, há sempre de onde recomeçar.
-E se o medo e dor forem as únicas coisas que sobraram em mim?
-O homem morre duas vezes, quando perde a vida e quando perde a si mesmo.
O guerreiro então se levanta e olha o céu aberto. Bebe a água da moringa que tira do seu cinto. Ele da uns dois passos para frente e então para:
-Somos tão insignificantes, não? Somos os únicos seres vivos que vivem buscando por respostas que não podemos sequer compreender.
E então ele segue em frente até sumir na estrada. O velho então sorri e se levanta, pega um cajado e diz consigo mesmo:
-É, talvez ainda não seja a hora dele! - e então desaparece como fumaça.

Contos Quase NormaisOnde histórias criam vida. Descubra agora