Ele acorda, todos os dias da mesma forma. Escova seus dentes, toma seu café e se prepara para o seu treinamento árduo. Diferente da maioria, ele não pensa na saúde e sim em uma preparação específica. Ele junta toda sua coragem apenas para estar pronto para um apocalipse zumbi. É isso mesmo, Jonas acredita que tem de estar preparado para esse evento que, na sua mente, é iminente. Mas isso não importa, sua sessão de agachamentos, flexões, barra, abdominais. Nada disso seria o bastante. Ele também treina em um estande de tiro da sua cidade. As pessoas podem pensar, por que alguém que reside em Teixeira de Freitas tem de estar preparado para algo que só acontece no cinema? Ele acredita fielmente que está mais próximo do que parece. Ninguém tira isso da cabeça dele, embora só tenha um amigo e, ele é virtual.
Jonas também tem sua sessão de corrida e parkour que aprendeu com vídeos da internet. Ninguém em Teixeira entende essa solicitude. Ele nunca tem empregos fixos, também não mora em apenas um local, está sempre se mudando. Não compra móveis, está sempre pronto para fugir a qualquer momento.
É uma sexta-feira. Está tudo muito barulhento. O que é muito estranho. Jonas se dirige até a janela de seu quarto. Ele mora no terceiro andar. Tudo parece estranhamente turbulento. Barulho de sirenes, gritarias, poluição sonora por todos os lugares. Pessoas conversando ouriçadas por todas as esquinas. Isso só pode significar uma coisa: o momento que ele sempre esperou chegou. Ele liga o noticiário. É um plantão de urgência como ele houvera imaginado.
"...tais estão superlotados com um novo surto de epidemia de uma doença nunca antes vista. Pesquisadores, médicos e biólogos especulam que se trata de uma doença fora do planeta. Essa nova bactéria ainda não foi catalogada e se espalha em uma velocidade impressionante. Animais contaminados por essa bactéria vão a óbito em cerca de quinze minutos, seres humanos só conseguem se manter vivos por duas horas com os melhores antibióticos disponíveis. A epidemia está em toda parte, é de suma importância que ninguém saia de ca..."
A TV é interrompida. Jonas desliga a TV decepcionado, seu apocalipse zumbi não aconteceu. A nova epidemia apenas mata seus hospedeiros e não os torna seres mortos-vivos com fome de carne fresca. Ele sabe que mesmo assim precisa sair da cidade. Lugares cheios de pessoas espalham epidemias ainda mais rápido. No banheiro, Jonas remove uma parte do piso solta, ele retira uma caixa de metal de dentro do buraco do chão. Abrindo a caixa ele pega sua pistola, não conseguiu ela de forma legal, acredita-se. Ele ejeta o carregador e insere as balas, uma a uma. Insere o cartucho e destrava a arma. Guarda a arma na parte de trás de sua calça. Fecha a caixa e coloca de volta no buraco. Pega sua mochila e chave do carro em cima da mesa da sala. Olha o celular, nenhuma mensagem de seu amigo. Fica preocupado, mas não tem tempo de pensar nisso. Desce até a parte da frente do prédio. As pessoas parecem histéricas e preocupadas. Todos inquietos e ansiosos. Jonas também não tem tempo de ligar. Destranca seu jipe e liga o carro. O caos está por toda parte. É difícil dirigir no meio de tantos carros desgovernados e pessoas correndo. Usar o aeroporto também está fora de cogitação.
Com muito trabalho e desviando por sorte de vários acidentes consegue chegar até a rodovia. Verifica o celular de novo, nenhuma mensagem do seu amigo. Jonas engole seco. Tudo engarrafado, será difícil chegar até a Chapada Diamantina, muitos quilômetros a frente. Jonas opta por dirigir rente a pista desviando de todos os carros, é uma forma perigosa, mas ele não tem escolha.Jonas conseguiu chegar a Jacinto. Ainda está longe do seu destino, mas essa cidade parece mais calma, ele pretende juntar mais suprimentos e seguir viagem. Em todos lugares só se comenta da nova doença. Que até então não chegou na cidade. Todos falam ser o fim dos tempos porque não há cura para essa nova pandemia. Sim, em questão de horas se tornou uma pandemia. O número de mortes é estratosférico. Nada na história chegou a um patamar parecido. Jonas agora sabe o choque que é um apocalipse, mas ele se preparou para um, mesmo que seja diferente deste.
Dia seguinte. Jonas está agora perto da casa que ele comprou na Chapada Diamantina, diferente das paisagens que todos visitam, sua casa fica em lugar de difícil acesso. Mesmo descansado Jonas não consegue parar de se preocupar com seu amigo. Ele não sumia tanto tempo. Esperando por pior Jonas tenta ligar para ele, sem sucesso.
A casa que Jonas comprou se encontra em meio há várias árvores. Jonas precisava de uma barreira natural em caso de zumbis se aproximarem, mas isso não fazia mais sentido agora. Além da casa ser no alto. Era cansativo ir lá a pé, pois nenhum carro conseguia chegar ali. Carregar tanto peso também não estava ajudando e o dia estava escaldante. Ao chegar, Jonas só conseguiu se jogar em uma cama. Dormiu por algum tempo. Até ouvir barulhos de pássaros e movimentação estranha. Mas não se importou, tomou um banho e continuava a pensar em seu amigo. Por não ter nenhum parente próximo, Marcelo era a única pessoa próxima.
Finalmente Marcelo mandou mensagem. Era um vídeo.
"Você não queria esse negócio? Tá tudo fudido aqui mano."
O vídeo foi recebido quando Jonas ainda tinha sinal, ele não conseguiu responder. Mas antes mesmo que pudesse responder. Alguém batia a sua porta.
Ele não abriu. Verificou a câmera que deixou em uma árvore. No monitor aquilo lá fora era um zumbi. Por suas roupas, era alguém que foi fazer trilha. Jonas sacou sua arma. Deu a volta pela casa se escondendo entre arbustos, conseguia avistar a criatura de longe. Lembrou seu treinamento de tiro. Conseguiu! Acertou em cheio na cabeça. Orgulhoso foi verificar se seu tiro foi letal. Deu dois empurrões com o pé, não se mexia. O sinal voltou. Uma nova mensagem.
"Tentei encontrar a casa segura, mas me perdi na mata, quando conseguir sinal de novo eu te ligo."
Jonas tinha passado o endereço para o amigo caso isso acontecesse. Os pontos se ligaram. Ao virar o corpo do zumbi. Lá estava seu amigo. Jonas se encolheu em prantos.
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Contos Quase Normais
General FictionCompilado de histórias curtas sem tanta profundidade que escrevo quando estou com raiva do mundo.