𝘗𝘖𝘙 𝘜𝘔 𝘐𝘕𝘚𝘛𝘈𝘕𝘛𝘌

6. Bem vinda ao meu mundo

POV SERKAN:

O cheiro do suor invade meus sentidos quando coloco minhas luvas e encontro o caminho para as arenas e campos de treinamento. A maioria das pessoas pensa que é apenas um clube de boxe, mas para mim é a minha casa e o meu modo de vida.

Comecei a querer lutar na escola principalmente porque eu era um nerd, muito magro e com boas notas e isso incomodava alguns dos meus colegas de classe. Quando eu não estava sob o olhar dos professores, eles acabavam me batendo e me empurrando contra os cofres da escola. Não era agradável ter meu almoço roubado, depois de ter dois caras grandes correndo atrás de mim todos os dias pelo saguão.

Eu tentava confrontá-los, mas era difícil quando eu não tinha sequer forças para me defender. Aos 16 anos, quando me fartei de ser o saco de pancada na escola, pedi ao meu pai para me inscrever no levantamento de peso pensando que ter músculos seria suficiente para lidar com os valentões, mas não era suficiente porque eu ainda era inseguro e despreocupado. Mas foi através do levantamento de peso que eu fui mergulhando lentamente no boxe, alguns dias por semana, até que um homem veio ao ginásio à procura de atletas para experimentar kickboxing de alta competição e foi quando eu me apaixonei por essa atividade que agora faz parte da minha vida.

Agora aqui estou eu, ensinando crianças de 9 anos a saberem se defender para que nunca cheguem ao ponto de frustração que eu atingi nessa idade.

- Burak, cuidado com seu braço, ele precisa estar mais direito quando você bate no saco, caso contrário, você acabará com uma lesão no pulso. - ele olhou para mim com um olhar confuso.

- Mister, mas será que também ter esses cuidados em um combate, contra uma pessoa? - perguntou ele, ainda intrigado. E isso me fez rir genuinamente. Como as crianças nessa idade são espontâneas!

- Venha aqui! - ele veio em minha direção e parou na minha frente. - Se você me der um soco com o braço meio dobrado, o que vai acontecer é que seu oponente vai tirar vantagem desse movimento para desviar seu braço. Você entendeu?

Ele sorriu e parou para me abraçar.
- Sim. Obrigado, senhor Serkan. Tenho certeza de que os idiotas da aula da tarde nunca mais conseguirão me enfrentar.

Gosto de ver o entusiasmo dessas crianças, mas confesso que sempre me preocupo se elas decidem usar o boxe como algo negativo, um modo de vingança ou intimidação.

- Ei, amigo! - Baixei-me ao nível dos olhos dele e coloquei minha luva no seu ombro. - Lembre-se sempre que o boxe é principalmente para você se defender, está bem?

Ele acenou com a cabeça e eu estava prestes a me despedir dele com um sorriso, quando alguém na entrada do clube despertou toda minha atenção...

POV EDA:

Saí de casa com a ajuda de Seyfi, aproveitei que a minha tia Ayfer saiu com o seu namorado, James, sempre dando ordens a Seyfi pra me vigiar. Seyfi é meu anjo da guarda, no meio de tanto controlo e controvérsia, por que se no dia a dia minha tia já me trata como cliente, quando ela está com James na minha frente, ela me trata como lixo.

Odeio tanto James e o modo como ele se aproveita de Ayfer, do dinheiro e da vida que ela lhe proporciona! 

James Ay é um advogado de Izmir, de 50 anos, minha tia o conheceu pouco depois de meu primeiro hit "So good to be true" viralizar nas paradas norte americanas, minha produtora na época estava querendo ganhar mais com o sucesso dessa música do que tinham direito e minha tia procurou o escritório de advogados mais renomado de Nova York para me defender.
Ele trabalhava nessa firma na época e conseguiu se aproximar dela e convencê-la de que poderia ser meu representante legal a toda a hora, que controlaria a investida da mídia e produtores antes mesmo desse tipo de coisas atingirem grandes proporções e que, dessa forma, minha tia não precisaria de recorrer a serviços da firma sempre que algum problema surgisse.