Prólogo

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Feng passava de cabeça erguida pelos sentinelas do palácio, pensando em seu consciente que conseguiria derrubar todos ali com muita facilidade e não entendia como guardas do imperador fossem tão fracos.
Ele estava na sua forma humana, e fazia questão de balançar seu longo cabelo branco enquanto andava. Algumas fadas juntas na longa passarela diziam coisas em sussurros, coisas que deixavam Feng ainda mais orgulhoso, coisas que ele não imaginava que sairia da boca de uma fada.
O caminho era longo, e isso o cansava queria muito usar seus poderes para chegar no topo logo, mas pensava em quais punições o imperador poderia lhe dar. Se calou e continuou andar.
- Senhor Feng!
Uma voz distante o chamou atenção, uma voz que fazia seus bigodes de dragão esticarem, mas como estava em sua forma humana apenas virou-se para trás.
- Chyou, por onde esteve? Quando chamei, não me respondeu. - O dragão cruzou os braços sobre o peito, seus olhos negros encaravam a jovem de coque alto.
Ela se joga de joelhos e encosta a testa no chão.
- Peço perdão, Senhor Feng! Estava voando longe daqui! Não ouvi seu chamado! Por favor me repreenda! Aceitarei qualquer punição!
- Olha, estou com muita vontade de fazer isso! Mas deixarei de lado por hora. Vamos Chyou! Levante!
A garota no mesmo momento se ergue batendo forte o punho no peito.
- Sim, senhor Feng! Não cometerei tal erro novamente, senhor!
Feng concorda orgulhoso e segue andando com a garota logo atrás.
- Chyou, se transforme e sussurre o que andou vendo e escutando em meu ouvido, não deixe passar nada.
Chyou, braço direito obediente atende a ordem de seu mestre e se transforme em sua forma original, uma Magpie.
Cabeça, peito e costas negros e asas azuis e brancas lembrava vagamente um corvo pequeno. Chyou pousou no ombro de seu senhor e ali cantou tudo o que viu no tempo em que voava sobre o reino celestial, escondida debaixo de madeixas brancas como as nuvens que sobrevoou.
Quando finalmente chegaram ao fim da enorme passarela, Feng suspirou ao pisar no primeiro degrau de nuvem.
- Eu quero muito voar até o topo!
Ele reclama para sua passarinha que nega batendo as asas.
- Senhor Feng, não pode fazer isso! É contra a lei do palácio, a única mágica permitida é a de transformação!
- Me transformar! Que bela idéia, eu iria esticar a minha pata até o fim dessa maldita escada!
Antes dele fazer isso, Chyou bica sua bochecha.
- Não pode, senhor Feng. As escadas de nuvens são sagradas!
Feng sabia que sua subordinada estava certa, e odiava esse fato. Sumiu mais alguns degraus antes de soltar um belo palavrão.
- Não pode, senhor Feng. Palavras de baixo calão são proibidas no palácio.
Chyou lembra.
- Estou começando a me irritar com esse maldito palácio.
A palavra "maldito" fez ele levar outra bicada na bochecha.
Feng não gostava dessas reuniões celestiais, não gostava do palácio do imperador, não gostava dos imortais e nem do senhores que ali estavam, preferia o reino dos mortais, era mais divertido e não tão monótono.
Ele só queria sair dali logo, chegar em casa beber um vinho, deixar Chyou empoleirada no galho da ameixeira cantando, enquanto ele mergulhava em um sono confortável e seguro.
Ao chegar ao topo das escadas Feng quis matar um serviçal que disseram para que ele aperte o passo. Mas finalmente chegará ao topo.
Ali já era mais frio, Chyou arrepiou as penas.
- Quer que eu me transforme, senhor Feng?
- Claro Chyou, só espere um segundo.
Com um estalar de dedos, Feng e Chyou desaparecem da frente do serviçal. Magia de teletransporte. Quando Chyou abre os olhos, estão ambos no salão principal.
- Senhor!
A passarinho reclama, em vão.
- Agora pode voltar a ser humana.
Ela obedece, e ambos se sentam atrás de uma mesa de madeira com almofadas macias.
Nenhum celestial, além do serviçal e de Chyou me viu teletransportar, está tudo bem. Pensou o de cabelos brancos enquanto a subordinada lhe servia um copo de licor.
O salão logo foi se enchendo, mas... Ainda parecia vazio.
- Que cara triste, senhor.
A passarinho diz.
- Não encontraram ela ainda?
Ela sempre fez a abertura dessas reuniões ridículas.
- Até agora, sem sinal da deusa.
Feng solta um suspiro longo que fez o celestial da água sentado ao seu lado questionar.
- Você está preocupado com algo, irmão Feng? Que novidade.
- Ótimo ouvir sua voz, irmão Shui.
- O que te aflige?
O celestial vestido em mantos azuis cobalto e longos cabelos negros pergunta se virando para o dragão.
- Estou apenas pensando, acho que esqueci de alimentar minhas Magpies na Casa do Vento.
- Logo você? Uma pessoa tão responsável? -O celestial alfineta.
- E logo você, preocupado com a vida alheia? Que novidade!
O de azul engole em seco quando ouve a risada do celestial do raio atrás dele.
- Não seja curioso, irmão Shui. Nem todos gostam de falar de seus problemas igual você.
Shan dian sempre foi elegante, e hoje não era excessão.
Vestia um manto roxo com sedas brancas, um colete escuro e um coque alto, seu prendedor de cabelo dourado lembrava raios caindo.
- Saudações, irmão Shan dian.
Feng diz levantando seu copo de vinho, e o celestial do raio brinda no ar.
- Saudações, irmão Feng. É ótimo vê-lo.
- Digo o mesmo, você precisa ir com mais frequência na Casa do Vento. Temos que terminar nosso jogo de Weiqi, eu estava ganhando.
- Não é esse o resultado que eu lembro!
O raio solta uma risada reconfortante que faz Feng abrir um sorriso.
Uma flauta e soprada uma melodia triste, por um momento Feng pensou que podia ser ela mas... Não.
Era apenas uma serviçal com roupas roxas e dourada, pelo visto uma subordinada de Shan Dian.
No fim de sua apresentação ouve um coro de palmas ela se curvou e saiu, logo em seguida o salão ficou em silêncio ao ver um homem vestido de dourado entrar pela enorme porta.
- Por favor, queiram ficar em pé para receber vossa grandeza em pessoa... O imperador de jade!
Todos obedeceram, Feng e Chyou não foram exceção.
O homem de dourado saiu e uma música calma ressou.
Ele na frente de todos vinha caminhando, seu rosto estava com uma expressão calma. Ele não desviou o olhar do seu trono.
Suas vestes eram verdes e marfim, caiam em camadas pelo seu corpo fazendo parecer que o vento as balançavam.
Mas Feng não seria louco de tentar levantar a roupa do imperador mesmo que quiser muito aprontar alguma coisa.
O cabelo do imperador era preto como carvão, assim como seus olhos fuzilantes, um bigode curto e uma barbicha cumprida. No alto de sua cabeça, uma coroa dourada encrustada de jades e diamantes. Em sua mão um leque de plumas brancas.
Um pouco mais atrás, sua esposa entrou.
Feng a odiava com todas as forças, não podia falar em voz alta e tinha medo de pensar e de algum modo a mulher ouvir seus pensamentos, mas o ódio que ele tinha por ela era evidente. Feng odiava Xi Wang Mu, a rainha mãe do oeste.
Roupas brancas e rosa pêssego, vários detalhes em dourado e usando um cocar para prender os cabelos. O dragão do vento não reparou muito nela, acreditava que era mal presagio.
Ela olha para Feng e sorri. Ela estava com dentes humanos, e sem sua causa de tigre. Parecia até mesmo uma deusa pacífica. Mas todos ali sabiam que sua natureza era feroz.
Logo atrás deles três grous adentram o lugar, eles caminhavam no ritmo do casal.
E por fim, um tigre. Ele desfilava como sua deusa, elegante e impetuoso.
O imperador alcança o final do sala e se senta em seu trono, sua esposa faz o mesmo e se senta ao seu lado.
Os grous pousam em seus poleiros, o felino se deita aos pés da deusa.
- Sejam bem-vindos. -O imperador levanta um copo de licor e todos fazem o mesmo.
Assim que ele leva o copo aos lábios, todos bebem. E se sentam logo em seguida.
A reunião começou agitada, o primeiro tópico era: Pedidos ao imperador e a rainha mãe.
Os celestiais faziam uma fila enorme e faziam três pedidos ao imperador ou a rainha, logo depois se sentava em seu lugar. E no final da reunião descobria se seu pedido foi negado ou não.
Feng e Shan Dian não foram, não tinham pedidos a fazer, e Feng se recusava a ir tão perto da deusa.
Depois disso, tinha o segundo tópico da reunião: Reclamação.
Cada celestial fazia seu ajudante levantar e esperar o imperador apontar para sua mesa, logo após disso dizia todas as suas reclamações. E o imperador escutava, as vezes resolvia, outras vezes só aconselhava. A rainha só escutava.
Feng não fez Chyou levantar, não tinha nada que reclamar. Mas diferente do outro tópico Shan Dian mandou seu ajudante ficar em pé, e logo o imperador apontou para sua mesa.
- Seu nome e o nome do seu mestre. -O imperador disse.
- Sou Huohua, senhor. -Ele se curva. - Meu mestre é o senhor Shan Dian, o celestial do raio.
- Pois bem, Huohua. Sente-se e deixe seu mestre falar. -O supremo diz.
O ajudante obedece.
- Saudações, imperador Yu Huang. Imperador de jade. - Shan Dian se curva.
- Celestial do raio, Shan Dian. Qual sua reclamação?
- Minha reclamação é que há poucas nuvens no céu. -Feng arregala os olhos para Shan Dian. - Não consigo mandar raios ao reino mortal sem nuvens carregadas. As chuvas tem sido pacíficas, e os humanos já não rezam para mim como antes.
- Celestial, você sabe muito bem por que não há muitas nuvens. -O imperador começa. - Minha filha, Zhi nu, continua desaparecida. Sem a deusa tecelã, não teremos muitas nuvens.
O peito de Feng se aperta, sim, Zhi nu ainda estava desaparecida. Já faz algum tempo desde a última vez que a viu.
Ela estava chorando no jardim do palácio de jade, sua mãe havia proibido seu amor com um antigo celestial de patente baixa. A rainha mãe havia os amaldiçoado, ela a partir daquele momento teria de tecer nuvens até quando a rainha mãe disser que estava bom, já o rapaz, foi expulso de reino celestial e sua reencarnação foi mandada ao reino mortal para crescer como humano.
Uma triste história de amor.
- Senhor, peço que consiga novas tecelãs, peço perdão se ofende-lo, mas o mundo mortal precisa de raios e chuvas fortes para manter o equilíbrio. -Shan Dian abaixa enquanto profere seu pedido.
O imperador fica em silêncio, assim como todos do salão. Seu suspiro alto fez o dragão olhar em sua direção, o imperador já olhava de volta.
- Feng, celestial do vento. -O imperador diz e todos ali olharem para ele. - Alguma sujestão?
O de cabelos brancos se levanta graciosamente.
- Por que eu teria, senhor? -Feng diz sem rodeios. - O próprio celestial do raio apresentou seu problema e uma possível solução, arrumar mais tecelãs de nuvens, concordo com ele.
- Seja educado, sua lagartixa! -Xi Wang Mu exclama e seu tigre rosna.
- Minha intenção não é ser mal educado, senhora. Estou sendo o mais claro possível. -Ele diz olhando nos olhos raivosos da rainha mãe.
- Alguma outra sugestão, celestial do vento? -O imperador pergunta ignorando a raiva da sua esposa.
- Como vê senhor, não tenho reclamações ou sugestões. Por isso não mandei meu ajudante levantar, então para a a sua pergunta, senhor. A resposta é não. -O imperador assente com a cabeça e faz um sinal para o dragão se sentar novamente, Feng obedece.
- Senhor... -Chyou murmura baixinho, mas seu mestre faz um sinal de "conversamos depois".
- Já que o celestial do vento e do raio concorda em ter mais tecelãs, vamos pedir a opinião do celestial da água. Vocês três costumam levar as tempestades para o reino humano. -A rainha diz e o imperador concorda.
- Shui, celestial da água. - O imperador diz e no mesmo momento ele se levanta. - O que acha das ideias de seis companheiros?
- Senhor, não é uma sugestão descartável. Eu admito. Para produzir a chuva, preciso carregar as nuvens com água. -Ele engole a saliva e continua. - Com tão poucas nuvens no céu, as chuvas para os mortais não passam de garoa.
Feng tinha que admitir, mesmo com sua pequena rivalidade com Shui, as vezes, ele era sensato.
- Já que os três concordam, providenciarei novas tecelãs. -O imperador diz, Feng e Shan Dian se levantam e curvam se diante dele como Shui. - Podem se sentar. Tenho certeza que, Lei Gong o deus do trovão, gosta dessa ideia.
- Sim senhor! -Lei Gong exclama do outro lado do salão.
Com outro sinal com a cabeça, o imperador liberam os três celestiais a se sentar.
O imperador continuou ouvindo as reclamações dos outros celestiais, Feng não prestou muita atenção, não tinha interesse nos problemas alheios.
Foi quando um pequeno coelho de papel pulou na túnica do dragão, ele se sentou em sua coxa e mexeu o nariz pedindo carinho, Feng acariciou sua cabeça de papel e o coelho se desfez em um bilhete.
" Obrigado pelo apoio. Shanshan."
Feng não escondeu o pequeno sorriso que se formou em seus lábios, pegou sua pena mágica do coque de Chyou, e ela o entregou um pedaço de papel.
"Duas garrafas de licor, e uma boa companhia é o meu preço. FengFen."
Ele dobrou o papel como um belo magpie, Feng beijou o bico do pássaro de papel, dando o vento para bater asas até a mesa do raio. O coelho de sua perna se transformou novamente, acariciou seu braço e desapareceu.
O próximo tópico do imperador era o banquete de café da manhã, antes dos pratos chegarem um mensageiro entrou correndo pela enorme porta de entrada.
- IMPERADOR! -Ele grita usando um pouco do ar de seus pulmões. - Notícias!
- Prossiga! -A rainha exclama se levantando, seu tigre faz o mesmo e ruge ferozmente.
A mão de Feng tremeu nesse momento, fazendo o derrubar a pena azul. Ele a segura com força e olha para o mensageiro que grita com seu último fôlego antes de desmaiar exausto.
- ENCONTRAMOS A DEUSA ZHI NU!

O Sussurro Que O Vento FezOnde histórias criam vida. Descubra agora