Capítulo Três

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Ladybug estava paralisada.

Ela não conseguia formar uma só palavra. Era como se aqueles olhos verdes do outro portador a impedissem de pensar claramente.

Percebendo que o estava encarando há mais tempo do que deveria, ela desviou o mais rápido que pôde e soltou o rosto do garoto, que agora já não virava em outra direção.

Seu coração palpitava, embora Ladybug não tivesse certeza do porquê.

Ela precisou chacoalhar um pouco a cabeça para se lembrar o que ela tinha que fazer. Pegar o miraculous, lembrou.

Mas antes, não fazia mal descobrir um pouco mais sobre o misterioso - e bonito - portador da joia perdida.

- Quem é você?

Ele não respondeu.

- Tudo bem. - A menina se sentou, ainda segurando a ponta do ioiô que o prendia. - Sem pressa. Posso ficar aqui o dia inteiro.

O garoto pareceu pensar por um momento.

- Não te interessa quem eu sou.

Ladybug revirou os olhos. Tinha que admirá-lo pela teimosia.

- Tá legal. - Ela sorriu de canto. - Sem informações eu não te solto.

Agora foi a vez do outro revirar os olhos. Marinette podia ser bem insistente quando queria.

- Noir. - Ele murmurou por fim.

- O que disse?

- Chat Noir. Meu nome é Chat Noir.

A menina sorriu vitoriosa.

- Agora me solta. - Ele mandou.

- Ainda não. Quero saber mais algumas coisinhas.

Chat Noir bufou, e seus cabelos se levantaram um pouco com o vento causado. Tão fofo, Ladybug pensou, mas se repreendeu mentalmente logo em seguida. Ela estava em uma missão. Ia recuperar o miraculous do gato e voltar para casa para deixá-lo em segurança.

Ela ergueu a cabeça, tentando parecer autoritária.

- Como conseguiu o miraculous?

- Como conseguiu o seu? - Chat Noir revidou.

Ladybug ficou sem resposta por um tempo. Ela decidiu contornar a pergunta.

- Há quanto tempo é um portador?

- Eu não tenho que te contar nada!

A expressão da garota mudou para uma mistura de raiva com impaciência.

- Então espero que se divirta ficando preso pelo resto da sua vida!

É claro que ela não podia prendê-lo para sempre. Em algum momento Ladybug voltaria a ser Marinette, e seu ioiô mágico desapareceria.

- Você não é tão poderosa assim. - O menino arqueou uma sobrancelha, mais como se soasse como uma pergunta do que uma afirmação.

Ela sorriu de canto. Obviamente ela não era. Mas Chat Noir não precisava saber disso.

- Ah, eu sou, acredite em mim. - Ladybug se aproximou. - Eu posso fazer isso por dias, gatinho.

Derrotado, o menino xingou alguma coisa que ela não pôde ouvir. O portador se virou para ela e respirou fundo.

- Já tenho o anel há um tempo.

- Legal, onde conseguiu?

- Me solta e eu te falo.

Ladybug cruzou os braços.

- Como sei que não vai fugir?

- Aí, você tem problemas de confiança, né?

- Meu Deus, como você é irritante! - A menina se levantou. - É só responder a droga da pergunta!

- É só você me tirar daqui!

A garota chutou o chão.

- Sabe, se você não fosse tão teimoso, talvez eu te soltasse!

- Se você não fosse tão chata, eu--

- Parados! - Uma voz interrompeu.

As orelhas de Chat Noir ficaram em alerta. Ladybug olhava para todos os lados, procurando o dono da voz.

Aquilo não estava certo. Não era possível chegar naquele ponto da Torre Eiffel - Não sem poderes mágicos, pelo menos.

E foi então que a portadora do miraculous da joaninha viu, um pouco à sua frente, um drone azulado com o símbolo da polícia de Paris estampado.

Droga.

Ela se certificou de que o aparelho não pudesse vê-los claramente, mas já era tarde demais quando conseguiu alertar Chat Noir.

- Parados! - A voz saiu do drone. - Parem em nome da lei!

Ladybug desamarrou o garoto e pegou sua mão.

- Vamos.

Sem poder contrariar, Chat Noir deixou que a menina de vermelho e preto o tirasse dali.

Ela foi passando de prédio em prédio, fugindo do drone, até chegar em uma rua vazia com uma tampa de bueiro, que ela abriu assim que chegaram ao chão.

Era possível ouvir sirenes de carros da polícia passando por ruas próximas, mas nenhum deles encontrou os portadores das joias proibidas.

Ladybug fechou a tampa rapidamente, somente para encontrar um Chat Noir parado, olhando para ela com um certo... interesse?

Aquilo surpreendeu Ladybug. Ela tinha quase certeza de que ele fugiria dela assim que tivesse a menor das chances.

Ela apoiou a mão na escadinha de ferro do esgoto e olhou para ele, esperando que dissesse alguma coisa.

Depois de alguns segundos se encarando, que fizeram o coração de Ladybug bater mais rápido, Chat Noir deu um passo à frente.

- Obrigado.

Mais uma surpresa. Ela arregalou os olhos ao notar que ele já não tentava fugir dela.

- Hm... De nada.

Ladybug tentou passar por ele para encontrar outra saída segura, mas foi parada pelo braço forte do outro portador criminoso.

- De verdade, obrigado. - Ele olhou nos olhos azuis dela. - Você podia ter deixado que eles me levassem, mas não o fez.

- É sério, sem problemas, eu...

- Eu te devo a minha vida.

A menina piscou, desacreditada. Parecia que tudo que o garoto tinha de teimoso ele também tinha de intenso.

- Certo...

Ela não sabia o que fazer com aquela informação. Uma pessoa te deve a vida, o que se faz com isso?

Com o silêncio do subterrâneo de Paris, Ladybug esperava que Chat Noir não estivesse escutando as batidas loucas que ela sentia no peito. Por um segundo, ela se sentiu absorvida pelos olhos verdes do menino.

Saindo do transe, ela sacudiu a cabeça de leve e tocou gentilmente no braço de Chat.

- Vamos procurar uma saída.

Ele assentiu, mas a segurou pela mão quando Ladybug passou por ele.

- Eu não peguei seu nome.

Sua expressão ainda era séria, mas ele já não parecia irritado como antes.

- Sou Ladybug. - Ela sorriu.

Com um sorriso de canto e um certo brilho nos olhos, Chat Noir se aproximou da garota e fez algo parecido com uma reverência.

- É um prazer, my lady.

A Queda de LadybugOnde histórias criam vida. Descubra agora